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sexta-feira, 11 de julho de 2025

Brasil entre potências: soberania, comércio e a nova geopolítica Sul-Sul

 Brasil entre potências: soberania, comércio e a nova geopolítica Sul-Sul

1. Um tarifaço, muitas consequências

A ameaça de Donald Trump de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros teve um efeito colateral inesperado: recolocou o debate sobre soberania econômica e alianças geopolíticas no centro da política nacional.

Ao contrário do que esperavam os setores submissos ao trumpismo, o presidente Lula respondeu com altivez:

“O Brasil pode sobreviver sem comércio com os EUA e vai recorrer a outros parceiros para substituí-lo.”

A fala é mais que retórica. Ela expressa uma mudança de eixo na política externa brasileira  e um reconhecimento do que os números já indicam há anos: o Brasil é hoje muito mais parceiro da China do que dos Estados Unidos.

2. Os números não mentem: China é o principal parceiro comercial do Brasil

Segundo dados divulgados pela Econovis e citados pela Bloomberg:

Em 2024, o comércio total de bens entre Brasil e EUA foi de US$ 92 bilhões.

Os EUA exportaram US$ 50 bi e importaram US$ 42 bi.

Resultado: superávit de US$ 7 bilhões para os EUA.

No mesmo período, o comércio entre Brasil e China foi de US$ 188 bilhões.

A China exportou US$ 72 bi e importou US$ 116 bi.

Resultado: déficit de US$ 44 bilhões para a China, ou seja, superávit para o Brasil.

Em outras palavras, a China compra muito mais do Brasil do que vende, ao passo que os EUA fazem o contrário. Isso mostra claramente quem contribui para a industrialização brasileira e quem se beneficia da nossa desindustrialização.

3. O falso patriotismo desmontado pela realidade

Enquanto o bolsonarismo bradava slogans como “Brasil acima de tudo” e exibia bonés vermelhos de Trump, a economia brasileira se afundava em dependência, submissão ideológica e atraso industrial.

Agora, com os EUA impondo tarifas punitivas, o discurso patrioteiro desmorona: como pode um “aliado” ser o primeiro a atacar o Brasil economicamente? A resposta está na natureza colonial da relação que o bolsonarismo cultivou com Washington.

O verdadeiro patriotismo, como vem sendo resgatado por Lula, é o que defende os interesses nacionais com coragem, diversidade de alianças e visão estratégica.

4. Um novo caminho: soberania com o Sul Global

A crise com os EUA é também uma chance histórica. O Brasil pode e deve:

Aprofundar relações com China, Índia, África do Sul, Rússia, Indonésia, Nigéria e países árabes;

Investir na integração latino-americana, especialmente com Argentina, Bolívia, Venezuela e Cuba;

Fortalecer os BRICS+, organismos regionais e arranjos comerciais alternativos ao dólar;

Apostar em soberania tecnológica, industrial e alimentar, sem medo de romper dependências.

Isso não significa fechar portas. Significa negociar de igual para igual, como qualquer país soberano deve fazer.

5. A tática do caos: como o tarifaço de Trump pode ser o estopim de uma nova tentativa de golpe

Pouco se discute nos jornais, mas é preciso dizer com todas as letras: a movimentação de Jair e Eduardo Bolsonaro em articulação com Donald Trump não é apenas simbólica ou diplomática é um movimento tático para criar instabilidade econômica, política e institucional no Brasil.

Ao estimular a taxação de produtos brasileiros, o objetivo do clã Bolsonaro era criar um cenário de crise que permitisse cooptar setores da elite econômica nacional, principalmente aqueles com interesses nos mercados dos EUA , para apoiar uma ruptura institucional.

A lógica seria simples e perversa:

Trump impõe tarifas;

o Brasil sofre economicamente;

o governo Lula é acusado de “isolar o Brasil do mundo”;

e os setores da elite, temendo prejuízos, abraçariam um golpe em nome da “estabilidade dos negócios”.

Esse tipo de tática já foi usado em outros golpes ao longo da história da América Latina: fabricar crises, sabotar a economia, criar pânico nos mercados e apresentar um golpe como “necessário” para salvar o país. Foi assim no Chile de Allende. Foi assim no Brasil em 1964. E a tentativa se repete agora, reconfigurada no século XXI.

É por isso que desmascarar o falso patriotismo bolsonarista é uma questão de soberania democrática. O golpe hoje não vem apenas com tanques vem com tarifas, fake news e alianças externas.

6. Conclusão: entre tarifas e bandeiras, o Brasil precisa escolher um projeto

A soberania não é uma palavra decorativa. É prática concreta. E hoje, o Brasil tem nas mãos uma oportunidade histórica de romper com o ciclo de subordinação e encenar um novo ciclo de autonomia e protagonismo global.

Trump e seus aliados tentam empurrar o Brasil de volta à condição de quintal.
Lula, ao reagir com altivez, recoloca o país no centro do tabuleiro mundial.

Aos que ainda usam a palavra “pátria” como disfarce: a pátria não é um boné — é o povo em marcha rumo ao seu próprio destino.

Referências

Econovis @econovisuals, Twitter, julho de 2025.

Bloomberg. “Lula diz que o Brasil pode sobreviver sem comércio com os EUA”. Julho de 2025.

FERNANDES, Bob. “O que estão tramando EUA e Israel nas eleições de 2026?” YouTube, 2025.

GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos anos de periferia. L&PM, 1999.

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A formação do império americano. Civilização Brasileira, 2005.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. Companhia das Letras, 1995.

 

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