Por Luis Moreira Oliveira Filho
Para o blog Olhos do Sertão
O mundo está mudando. E rápido.
A ordem mundial erguida após a Segunda Guerra Mundial, consolidada no pós-Guerra Fria sob hegemonia dos Estados Unidos, entra em colapso visível. O avanço da China como potência tecnológica, a resistência militar e diplomática da Rússia, o fortalecimento de alianças como os BRICS+, a expansão do uso de moedas alternativas ao dólar e a corrida pela Inteligência Artificial (IA) são sinais inequívocos de um novo tempo geopolítico.
Nesse cenário, o Brasil de Lula em 2025 está no centro de uma encruzilhada histórica: pode escolher entre a reafirmação de sua soberania e protagonismo ou a continuidade da dependência periférica, marcada por subordinação econômica e tecnológica.
A inteligência artificial e a nova corrida global
A IA é hoje o campo onde se desenha o novo mapa do poder global. China, EUA e Rússia lideram essa revolução, enquanto países do Sul Global são convidados — ou empurrados — a escolher um lado. O Brasil não pode repetir os erros do passado, importando tecnologias e estruturas prontas que apenas reproduzem dependência.
É preciso investir em:
- IA aplicada à agricultura, saúde, clima e defesa;
- Parcerias estratégicas com China e Rússia, com exigência de transferência de conhecimento e capacitação nacional;
- Defesa cibernética e soberania dos dados;
- Formação de uma nova geração de brasileiros/as fluentes em ciência de dados, ética digital e sistemas inteligentes.
A Nova Rota da Seda: logística e poder
A China já assinala interesse em investir em ferrovias, portos, zonas francas e energia no Brasil, como parte da Nova Rota da Seda (BRI). Esse novo corredor logístico e comercial pode romper o cerco histórico imposto ao Brasil pelas velhas potências do Atlântico Norte.
Porém, há um risco: virar apenas fornecedor de matérias-primas e mercado consumidor de produtos chineses.
Por isso, é essencial que o Brasil:
- Estabeleça acordos com conteúdo local obrigatório;
- Participe de cadeias de inovação, não apenas de exportação;
- Desenvolva infraestrutura conectada à reindustrialização verde e tecnológica.
🇷🇺 A Rússia e a ciência da soberania
A Rússia, apesar das sanções e isolamento ocidental, mantém avanços expressivos em:
- Tecnologias de defesa e cibernética;
- Engenharia nuclear e aeroespacial;
- Sistemas hipersônicos e robótica militar;
- Inteligência Artificial aplicada à guerra e à economia.
Um acordo tecnológico com a Rússia, no campo científico, educacional e industrial, pode representar um pilar de soberania estratégica para o Brasil, desde que seja construído com clareza de propósitos, não com submissão ideológica.
Lula entre o velho e o novo Brasil
O desafio é ainda maior porque Lula governa um país atravessado pelas estruturas institucionais do golpe de 2016:
- Um Congresso conservador, dominado por bancadas ruralistas, armamentistas e neoliberais;
- Um sistema midiático ainda colonizado ideologicamente, que criminaliza qualquer aceno à multipolaridade ou à China;
- Um Judiciário que se equilibra entre a legalidade e o medo da soberania popular.
Mesmo assim, Lula tem:
- Prestígio internacional;
- Reconhecimento de lideranças globais;
- Experiência em mediar conflitos complexos;
- Uma história que ressoa em países do Sul Global.
👉 Mas falta-lhe uma coisa: afirmar com coragem um novo projeto nacional soberano, que compreenda o lugar do Brasil no século XXI não como um “aliado menor” do Ocidente, mas como um pilar ativo de um novo mundo multipolar e tecnológico.
Propostas para um Brasil protagonista:
- Formalizar a entrada do Brasil na Nova Rota da Seda, com controle sobre ativos estratégicos.
- Criar um Instituto Nacional de Inteligência Artificial e Soberania Tecnológica, com orçamento próprio e conexão com universidades e Forças Armadas.
- Estabelecer um corredor de cooperação Sul-Sul em IA, energia limpa e infraestrutura com China, Rússia, África do Sul, Irã, Egito, Etiópia e Índia.
- Desenvolver uma Política Externa Popular e Científica, conectando diplomacia com ciência, cultura e juventude.
🌿 Conclusão
O Brasil está diante de uma escolha civilizatória: continuar exportando minério e comprando chips, ou construir sua própria engenharia do futuro.
Lula, mais do que nunca, precisa governar como estadista do mundo que nasce — não como administrador do golpe que ainda vigia.
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