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sexta-feira, 11 de julho de 2025

Soberania Aérea e Dependência Tecnológica: a Embraer, o Brasil e o Desafio da Autonomia na Indústria Aeronáutica


Soberania Aérea e Dependência Tecnológica: a Embraer, o Brasil e o Desafio da Autonomia na Indústria Aeronáutica

Em um mundo marcado pela disputa tecnológica e pelo reposicionamento geopolítico, o setor aeronáutico emerge como um campo estratégico de soberania. A exemplo da Rússia, que busca produzir aviões 100% nacionais, o Brasil, através da Embraer, se depara com o desafio de reduzir sua dependência de componentes estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos. Este artigo analisa as possibilidades e limitações da indústria aeronáutica brasileira diante de possíveis sanções internacionais, discute a cadeia de produção da Embraer, e propõe caminhos para uma estratégia de autossuficiência nacional.

1. Introdução

A indústria aeronáutica é uma das mais complexas e tecnologicamente exigentes do mundo. Seu controle representa não apenas poder econômico, mas também soberania estratégica. A dependência de motores, aviônicos, softwares e certificações internacionais coloca países em situação de vulnerabilidade. O recente movimento da Rússia de produzir aviões com 100% de conteúdo nacional, como resposta às sanções ocidentais, reacende o debate: e o Brasil, estaria preparado para enfrentar algo semelhante?

2. A Cadeia de Produção da Embraer: Forças e Fragilidades

A Embraer é reconhecida mundialmente como uma das três maiores fabricantes de jatos comerciais. No entanto, apesar da excelência em engenharia e design, a empresa depende fortemente de fornecedores estrangeiros para componentes-chave:

Motores: Pratt & Whitney ou General Electric (EUA);

Aviônicos: Honeywell e Collins Aerospace (EUA);

Sistemas de navegação, controle, software e estruturas compostas: predominantemente estrangeiros.

O percentual de conteúdo nacional nos jatos comerciais gira entre 15% e 25%. Nos modelos militares, como o KC-390, esse número pode chegar a 40%, mas ainda está longe da autossuficiência.

3. E Se Vierem Sanções?

Uma sanção norte-americana ao Brasil, como tem ocorrido com outros países que desafiam interesses geoestratégicos dos EUA, colocaria a Embraer em colapso imediato. Sem motores e aviônicos homologados, a fabricação e até a manutenção de aviões seria inviável. Além disso, perderia certificações internacionais que garantem acesso a mercados globais.

4. Alternativas Possíveis: Parcerias Sul-Sul e BRICS

Diante dessa vulnerabilidade, o Brasil poderia buscar cooperação com países como:

Rússia: motores PD-14 e sistemas nacionais;

China: motores CJ-1000A e componentes do COMAC C919;

Índia: parcerias militares e desenvolvimento conjunto.

Esses parceiros enfrentam desafios semelhantes e poderiam compor um consórcio técnico para redução da dependência do eixo EUA-União Europeia.

5. Perspectivas para uma Autonomia Brasileira

Construir soberania aeronáutica é um projeto de Estado e não apenas de mercado. Isso inclui:

Reforço do ITA, CTA e instituições de P&D;

Criação de empresa nacional de motores aeronáuticos;

Fomento à indústria de software embarcado, sensores e materiais compostos;

Blindagem contra privatizações e fusões predatórias (como a tentativa de absorção pela Boeing);

Integração com projetos da Base Industrial de Defesa.

6. Conclusão

A Embraer é um orgulho nacional, mas também um exemplo de como a dependência tecnológica limita a soberania. A conjuntura global exige um reposicionamento do Brasil: ou investimos em autonomia tecnológica, ou permaneceremos vulneráveis aos interesses externos. O exemplo russo mostra que é possível resistir e reconstruir uma indústria nacional. Cabe ao Brasil decidir se continuará voando com asas alheias ou se ousará voar com asas próprias.

 


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