Soberania Aérea e Dependência Tecnológica: a Embraer, o Brasil e
o Desafio da Autonomia na Indústria Aeronáutica
Em um mundo marcado pela disputa tecnológica e pelo reposicionamento
geopolítico, o setor aeronáutico emerge como um campo estratégico de soberania.
A exemplo da Rússia, que busca produzir aviões 100% nacionais, o Brasil,
através da Embraer, se depara com o desafio de reduzir sua dependência de
componentes estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos. Este artigo analisa
as possibilidades e limitações da indústria aeronáutica brasileira diante de
possíveis sanções internacionais, discute a cadeia de produção da Embraer, e
propõe caminhos para uma estratégia de autossuficiência nacional.
1. Introdução
A indústria aeronáutica é uma das mais complexas e tecnologicamente exigentes do mundo. Seu controle representa não apenas poder econômico, mas também soberania estratégica. A dependência de motores, aviônicos, softwares e certificações internacionais coloca países em situação de vulnerabilidade. O recente movimento da Rússia de produzir aviões com 100% de conteúdo nacional, como resposta às sanções ocidentais, reacende o debate: e o Brasil, estaria preparado para enfrentar algo semelhante?
2. A Cadeia de Produção da Embraer: Forças e Fragilidades
A Embraer é reconhecida mundialmente como uma das três maiores
fabricantes de jatos comerciais. No entanto, apesar da excelência em engenharia
e design, a empresa depende fortemente de fornecedores estrangeiros para
componentes-chave:
Motores: Pratt & Whitney ou General Electric (EUA);
Aviônicos: Honeywell e Collins Aerospace (EUA);
Sistemas de navegação, controle, software e estruturas compostas:
predominantemente estrangeiros.
O percentual de conteúdo nacional nos jatos comerciais gira entre 15% e
25%. Nos modelos militares, como o KC-390, esse número pode chegar a 40%, mas
ainda está longe da autossuficiência.
3. E Se Vierem Sanções?
Uma sanção norte-americana ao Brasil, como tem ocorrido com outros
países que desafiam interesses geoestratégicos dos EUA, colocaria a Embraer em
colapso imediato. Sem motores e aviônicos homologados, a fabricação e até a
manutenção de aviões seria inviável. Além disso, perderia certificações
internacionais que garantem acesso a mercados globais.
4. Alternativas Possíveis: Parcerias Sul-Sul e BRICS
Diante dessa vulnerabilidade, o Brasil poderia buscar cooperação com
países como:
Rússia: motores PD-14 e sistemas nacionais;
China: motores CJ-1000A e componentes do COMAC C919;
Índia: parcerias militares e desenvolvimento conjunto.
Esses parceiros enfrentam desafios semelhantes e poderiam compor um
consórcio técnico para redução da dependência do eixo EUA-União Europeia.
5. Perspectivas para uma Autonomia Brasileira
Construir soberania aeronáutica é um projeto de Estado e não apenas de
mercado. Isso inclui:
Reforço do ITA, CTA e instituições de P&D;
Criação de empresa nacional de motores aeronáuticos;
Fomento à indústria de software embarcado, sensores e materiais
compostos;
Blindagem contra privatizações e fusões predatórias (como a tentativa de
absorção pela Boeing);
Integração com projetos da Base Industrial de Defesa.
6. Conclusão
A Embraer é um orgulho nacional, mas também um exemplo de como a
dependência tecnológica limita a soberania. A conjuntura global exige um
reposicionamento do Brasil: ou investimos em autonomia tecnológica, ou
permaneceremos vulneráveis aos interesses externos. O exemplo russo mostra que
é possível resistir e reconstruir uma indústria nacional. Cabe ao Brasil
decidir se continuará voando com asas alheias ou se ousará voar com asas
próprias.
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