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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Críticas ao programa "Mais Médicos" têm origem em divergências partidárias, e não nas necessidades da população

Médicos cubanos são os mais respeitados em operações internacionais - operamundi

Críticas ao programa "Mais Médicos" têm origem em divergências partidárias, e não nas necessidades da população
Ando sem paciência porque esta discussão é claramente política e partidária e muitos médicos estão portando-se de maneira tão ridícula que fico sem terreno para argumentar com fatos, números, dados, enfim, para debater como é salutar. Ademais, o posicionamento da mídia e das representações médicas é totalmente pela defesa da saúde como mercado, lucros e interesses privados.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O médico cubano, o Facebook e a massa

O médico cubano, o Facebook e a massa

A foto do profissional de saúde sendo vaiado foi vista nesta terça-feira por milhões de pessoas na rede social, de forma espontânea. Não há campanha de TV que tenha a mesma eficácia.

por Lino Bocchini 
A foto de Jarbas Oliveira, da Folhapress, em que médicas de Fortaleza vaiam um médico cubano, circulou o Brasil ontem e sua repercussão fizeram pelo Mais Médicos e a vinda dos profissionais de saúde estrangeiros mais do que qualquer campanha em horário nobre da TV poderia fazer. Manifestar-se publicamente de forma contrária à vinda de médicos estrangeiros em geral –e de Cuba em particular-- ficou mais difícil depois daquele clique.

Médico Juan Delgado: "Seremos escravos da saúde e dos doentes"


247 - O médico cubano Juan Delgado, de 49 anos, retratado numa imagem do fotógrafo Jarbas Oliveira, em que era vaiado por médicas brasileiras, se disse "impressionado" com a manifestação ocorrida em Fortaleza e deu uma lição em seus agressores. "Me impressionou a manifestação. Diziam que somos escravos, que fôssemos embora do Brasil. Não sei por que diziam isso, não vamos tirar seus postos de trabalho", afirmou ele.
De fato, Delgado e os demais estrangeiros que chegaram ao Brasil irão trabalhar em 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum médico brasileiro, a despeito das bolsas de R$ 10 mil oferecidas pelo governo federal.
Negro, e formado por uma universidade pública de Cuba, Delgado questionou várias vezes o fato de ter sido chamado de "escravo" pelos brasileiros. Ele se disse um homem livre, que veio por vontade própria ao Brasil e disse ainda ter atuado em outras missões humanitárias, em países como o Haiti.
Sobre a escravidão, ele disse algo que poderia ser lembrado pelas próximas gerações de médicos no Brasil. "Isso não é certo, não somos escravos. Seremos escravos da saúde, dos pacientes doentes, de quem estaremos ao lado todo o tempo necessário", afirmou, em depoimento ao jornalista Aguirre Talento, da Folha. "Os médicos brasileiros deveriam fazer o mesmo que nós: ir aos lugares mais pobres prestar assistência".
Ele afirmou ainda que a atuação dos estrangeiros não será simples. "O trabalho vai ser difícil porque vamos a lugares onde nunca esteve um médico e a população vai precisar muito de nossa ajuda", disse. Sobre o desconhecimento da língua portuguesa, disse que não será um empecilho e afirmou que a população brasileira "aceitará muito bem os cubanos".
Responsável pelo corredor polonês armado contra os cubanos, o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Pontes, disse que as vaias não eram dirigidas contra os profissionais estrangeiros, mas sim aos gestores do programa Mais Médicos. Um vídeo (assista aqui), no entanto, deixa claro que médicos cubanos, como Juan Delgado, foram cercados e chamados de "escravos" por uma turba selvagem e enfurecida de médicos cearenses. Até agora, o Conselho Federal de Medicina ainda não soltou nenhuma nota condenando o que ocorreu em Fortaleza.
Postada ontem com indignação pelo 247, a imagem da vaia dirigida a Juan Delgado havia sido compartilhada por 185 mil pessoas no Facebook – uma marca histórica e um fenômeno raro na história da internet (saiba mais aqui). O que demonstra o estrago que a classe médica tem feito à própria imagem com os atos de xenofobia e até racismo contra médicos estrangeiros, sobretudo cubanos, que vêm sendo incitados por parte da chamada grande imprensa brasileira (saiba mais em "Eles são responsáveis pelo corredor polonês?")

Marcelo Semer: escravo é quem tem direito à saúde e não tem médico para exercitá-lo

 Marcelo Semer
A repulsa dos médicos brasileiros a vinda de cubanos para atuar em cidades do interior é uma espécie de reserva de não-mercado.
É mais ou menos como a TV quando compra a exclusividade de um jogo e não transmite. Nem permite que outros canais transmitam.
Os médicos brasileiros não querem trabalhar nas localidades mais distantes ou com menos estrutura. Mas querem impedir que outros o façam em seu lugar.

O grave do problema é que isso não se trata de um amistoso da seleção ou um jogo da Libertadores. É a saúde das populações mais pobres que está em permanente risco. E a dignidade da pessoa humana, fundamento da República, não se submete a esse tipo de abuso de poder.
O direito à vida ou a saúde não pode ser sufocado pela onda de preconceitos, nem ficar refém de corporativismos. O estado democrático de direito é antropocêntrico e não admite recompensa pelo egoísmo.
Para criticar a vinda de cubanos, de tudo um pouco já se ouviu.
Que os profissionais são de baixa qualidade, que parecem domésticas, que o espanhol caribenho é difícil de entender. Os médicos cubanos ora são hostilizados por serem agentes disfarçados da guerrilha comunista ora por serem escravizados pela ditadura.
Os argumentos não se sustentam em pé, porque na verdade só existem na aparência.
Escondem a volúpia pela exclusividade, a proteção ao direito de não atender. Do lado da imprensa, uma indisfarçável torcida pelo fracasso, com receio, que melhor caberia aos partidos políticos, de um possível uso eleitoral de bons resultados.
Escassez de Hipócrates nesse excesso de hipocrisia.
Se os brasileiros estivessem dispostos a trabalhar nas localidades em que faltam médicos, coincidentemente as de menor IDH do país, nenhum estrangeiro teria sido convocado a atuar nessa medicina sem fronteiras.
Mas os representantes dos médicos brasileiros optaram por serem eles mesmos as fronteiras.
Parte considerável dos cubanos tem perfil internacionalista e já exerceu a profissão em países estrangeiros e em situações de pouca ou nenhuma estrutura, como na África. É provável até que tenham mais experiência em tratar o pobre do que a maioria de seus críticos locais.
Na imprensa, os que mais se rebelam contra o sistema adotado na parceria são justamente aqueles que vêm sustentando, há tempos, os benefícios da terceirização.
Com a agravante de que neste caso, não existe o empregador inescrupuloso que opta por ela para fugir a altos salários ou obrigações trabalhistas. Afinal, a ganância capitalista sempre comoveu pouco na mídia.
É o caso de refletir seriamente se nós estamos em condições de regular a forma como Cuba remunera os médicos que fizerem parte do acordo, dado que as premissas econômicas dos dois países são bem distintas. Quem sabe não chegamos a conclusão que devemos pagar mais a eles, ao invés de repeli-los.
De qualquer forma, a acusação de trabalho escravo é simplesmente grotesca. Não há serviço forçado e tampouco maus tratos; condições degradantes ou servidão por dívidas.
Escravo não é o médico que sai voluntariamente de suas fronteiras para trabalhar com pobres por ideais. Escravo é o povo a quem se promete o direito a saúde e se sonega médicos para concretizá-lo. 
Nada mais revelador do que doutores cearenses se reunindo para xingar os cubanos recém-chegados de escravos.
A desfaçatez demonstra que na crítica às condições de trabalho não reside nenhuma solidariedade, apenas o pretexto de combater aquilo que incomoda a si mesmo.
Curioso é que a imprensa, sempre tão mordaz contra várias formas de corporativismo, tem sido condescendente demais com as manifestações dos conselhos de medicina.
A mais gritante delas beirou o absurdo e o ilícito: a ameaça nada velada de que médicos brasileiros não prestariam auxílio se um cubano tivesse problemas com um paciente.
O ressentimento fala por si só.
Quando médicos optam por combater médicos e não doenças, algo de muito grave se revela na saúde.

Dilma: "é importante dizer que os médicos estrangeiros, não só cubanos, vêm ao Brasil para trabalhar onde médicos brasileiros formados aqui não querem trabalhar"


Renata Giraldi e Danilo Macedo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff criticou hoje (28) os que têm preconceito contra a presença dos médicos cubanos no Brasil. Em entrevista a rádios de Minas Gerais, ela ressaltou que há também médicos de outros países, além de Cuba. A presidenta reiterou que os estrangeiros estão no Brasil para desempenhar o trabalho que os médicos brasileiros não querem fazer.
"É um imenso preconceito sendo externado contra os cubanos. É importante dizer que os médicos estrangeiros, não só cubanos, vêm ao Brasil para trabalhar onde médicos brasileiros formados aqui não querem trabalhar", disse ela.
Ontem (27), a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) solicitou à Procuradoria-Geral do Trabalho investigação da relação de trabalho dos profissionais que atuarão pelo Mais Médicos. A entidade alega que o fato de os médicos não revalidarem os diplomas vai causar restrição de locomoção, o que, segundo a entidade, é uma das características do trabalho escravo.
Pelas regras do governo, todos os profissionais do Mais Médicos receberão uma "bolsa formação" pelo serviço nas regiões carentes. Não haverá contrato de trabalho. O Ministério da Saúde é favorável à concessão de pagamento por intermédio de bolsa porque os médicos farão uma especialização na atenção básica ao longo dos três anos de atuação no programa.
No caso dos médicos cubanos, eles atuarão no Brasil em regime diferente dos que se inscreveram individualmente no Mais Médicos. O Ministério da Saúde brasileiro firmou acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para que a entidade internacional buscasse parcerias para a vinda de médicos para o país. Pelo acordo, a Opas fez acordo com Cuba, prevendo inicialmente a vinda de 4 mil médicos cubanos. Os primeiros 400 profissionais desse acordo a chegarem no país vão atuar em parte das 701 cidades que não receberam inscrições individuais de médicos.
No acordo, os repasses financeiros serão feitos do Ministério da Saúde para a Opas. A entidade repassará as quantias ao governo cubando, que pagará os médicos. Inicialmente nem a Opas nem o Ministério da Saúde souberam especificar quanto dos R$ 10 mil pagos por médico será repassado para os profissionais, porém, o secretário adjunto de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Fernando Menezes, disse depois que a remuneração ficaria entre R$ 2,5 mil e R$ 4 mil.
Edição: Talita Cavalcante

Médico brasileiro dá boas vindas aos cubanos: Que eles ajudem no “resgate do raciocínio clínico”

por Luiz Carlos Azenha
Que diabos é “resgate do raciocínio clínico”?
É ter, diriam os médicos, uma atitude mais holística, completa, em relação ao paciente.
É pedir exames e receitar remédios só quando forem estritamente necessários.
É servir primeiro ao paciente, não às indústrias farmacêutica, de laboratórios clínicos e de equipamentos médicos.

Ajudar os colegas brasileiros a resgatar o raciocínio clínico. É a consequência esperada pelo médico Marcelo Coltro da passagem de 4 mil médicos cubanos pelo Brasil.
Diferentemente de muitos colegas, ele dá boas vindas aos cubanos. Fruto, talvez, de ter estado recentemente em Cuba.
Marcelo é especializado em Medicina de Família e Comunidade. Concursado, trabalha na Prefeitura de Florianópolis. Em fevereiro deste ano, esteve em Cuba com um grupo de médicos brasileiros para trocar experiências no setor. Viveu outra particularidade: depois de formar-se na Universidade Federal de Pelotas, foi o único médico residente em Protásio Alves, na serra gaúcha, experiência que muitos cubanos viverão agora, em cidades do Norte e Nordeste brasileiros.
Sem a histeria que tem caracterizado a reação de alguns médicos à chegada dos cubanos, Marcelo conta como foi sua experiência. Fala das similaridades e diferenças entre os dois sistemas de saúde, sobre o que o Brasil pode ensinar a Cuba e vice-versa.
Ciego de Ávila, na província de mesmo nome, cidade visitada pelo dr. Marcelo Coltro (wikipedia)
Trechos da entrevista, em que Marcelo fala também sobre o que Cuba pode aprender com o Brasil no setor e conta a história de um provável erro de médico brasileiro corrigido em Cuba, que ele testemunhou:
“Como o número de médicos [em Cuba] é maior em relação médico/habitante do que no Brasil, eles conseguem ter uma capacidade de cuidado muito melhor do que os médicos brasileiros aqui no sistema público. Por exemplo, a cidade que eu visitei, onde eu estive, tinha um médico dentro do sistema de saúde para cada 800 habitantes. Então, eles conseguiam organizar através da sua área de atuação a população de uma forma muito melhor estruturada do que a gente consegue organizar aqui no Brasil em que cada médico de família é responsável por 4 mil, 6 mil, 7 mil habitantes e tem cidades onde o médico de família é responsável pela cidade inteira”.
“Eu acho que se fosse uma força de trabalho médica para vir para o Brasil e permanecer para sempre eles deveriam fazer o Revalida. Mas eu entendi que no programa Mais Médicos eles vem para o Brasil não com interesse de substituir a mão-de-obra médica brasileira, que o programa Mais Médicos traz médicos estrangeiros para o Brasil até que o Brasil consiga se adequar à sua própria formação médica, enquanto isso vai acontecendo esses médicos estrangeiros seriam temporários e por isso talvez não precisem fazer o Revalida, que eles tem experiências em outras missões internacionais”.
“Quanto à formação médica dos médicos cubanos, me pareceu que eles tem uma formação médica muito semelhante à formação médica brasileira, e eu diria que é bem rígida por eles serem militarizados e super-estruturados. Eles tem o mesmo número de anos que a gente tem aqui na formação médica. Eles também tem especialidades lá, mas todos os médicos formados inicialmente tem de ser médicos de família, de comunidade. Precisam ter experiência médica para depois passarem para as especialidades. São muito bons cirurgiões, são bons oftalmologistas, são bons ortopedistas, mas principalmente são bons médicos de família e de comunidade”.
“Talvez os médicos cubanos possam ensinar para a gente como usar melhor a tecnologia. Talvez a gente use a tecnologia muito precocemente quando cuida das pessoas. Ao andar pelas ruas de Ciego de Ávila, em Cuba, você não encontra farmácias como encontra aqui no Brasil. Quando você encontra farmácias em Cuba você tem muitas medicações que são fitoterápicas, medicações que a gente encontra aqui no Brasil numa quantidade um pouco menor. Assim como aqui no Brasil nós temos dificuldades de ter concentração de tecnologia por exemplo nos postos de saúde, por conta de ser muito caro, eles tem uma otimização de tecnologia muito maior. Quando uma pessoa lá em Cuba é submetida a uma tomografia é porque realmente ela tem necessidade de fazer essa tomografia”.
“Lá não é frequente a questão de você fazer check-up como é muito comum aqui no Brasil. Ou fazer exames laboratoriais de rotina para as pessoas ficarem medindo colesterol quando tem queixas de dor-de-cabeça ou tem queixas super inespecíficas para exames que são muito difundidos na mídia. Então eu vi que lá talvez tenha uma racionalização do uso da tecnologia que por conta da influência da indústria farmacêutica e da indústria dos insumos de saúde no Brasil desde a década de 60 nós perdemos, a questão do ampliado raciocínio clínico que os médicos tem lá e uma otimização da tecnologia”.
“Aqui a gente vê cada vez a mercantilização da medicina. Eu diria que os médicos brasileiros são bons médicos, mas existe dentro da formação médica, nas escolas de medicina, uma grande inclinação para você fazer uso de muita tecnologia, exames laboratoriais, exames de imagem e também uso de medicamentos de uma forma talvez um pouco mais precoce de que se a gente pudesse avaliar esses pacientes com um pouquinho mais de um olhar holístico, ou humanista, e com uma percepção de poder compreender um pouquinho antes de usar tecnologia, antes de usar um medicamento precoce, antes de pedir um exame laboratorial que muitas vezes a gente sabe que vai dar normal e tá pedindo porque tem uma orientação protocolar para isso”.
“Talvez os médicos cubanos possam trazer para nós um resgate do raciocínio clínico que as escolas de medicina e as profissões ao longo dos anos foram perdendo por conta de um adensamento tecnológico muito grande”.
“A gente tem alguns estudos que mostram que 75% dos médicos brasileiros recebem visitas de laboratórios, para medicamentos. São pessoas que visitam os consultórios médicos com frequência. Ao visitar estes consultórios existe muita informação dos laboratórios para estes profissionais. Alguns outros estudos mostram que até 41% dessas pessoas visitadas tem como referência essa visita da indústria para prescrever as medicações. Você tem uma grande influência da indústria farmacêutica dentro da prática médica no Brasil. Isso também se expande para o uso da tecnologia, como exames laboratoriais”.
“Você tem muitos professores de faculdade de medicina no Brasil que tem vínculo empregatício com indústrias farmacêuticas ou com indústrias que produzem tecnologia em saúde. Isso acaba influenciando seguramente a formação médica e o uso de tecnologia. Necessária, que bom que a gente tem essa tecnologia, mas muitas vezes precoce e diria até que de certa forma indiscriminada, sem uma boa indicação, sem um raciocínio clínico adequado”.

Médicos cubanos recebem flores após agressões de uma minoria preconceituosa.

Médicos estrangeiros recebem flores no Ceará após hostilidades
Na segunda-feira (26), eles foram xingados por médicos em Fortaleza.
Nesta terça (27), movimentos sociais distribuíram flores em curso.
G1 Ceará
Depois do protesto com vaias e xingamentos na abertura do curso, os médicos estrangeiros que chegaram ao Ceará pelo Mais Médicos receberam flores e aplausos de integrantes de movimentos sociais nesta terça-feira (27) na Escola de Saúde Pública, em Fortaleza. Na saída do primeiro dia de aula do curso preparatório, os estrangeiros deram sorrisos e sinais de positivo para quem os esperavam e receberam aplausos e gritos como “Cubano amigo, o povo está contigo”.

Mais Médicos" revelou um apartheid que estava escondido no poço profundo da hipocrisia de nosso país.

50 anos após Luther King, Fortaleza imita Little Rock


247 - Há exatos 50 anos, no dia 28 de agosto de 1963, Martin Luther King Jr., o maior ativista na luta pelos direitos em todos os tempos, fez seu mais célebre discurso, no Lincoln Memorial, em Washington. A frase "I have a dream" ("eu tenho um sonho") para sempre ecoará como uma obra-prima da retórica política. "Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!", disse Luther King Jr., na data histórica (confira a íntegra do discurso).
Seis anos antes, na cidade de Little Rock, no Arkansas, um estado marcado pelo racismo e pelo passado escravocrata, o presidente Dwight Eisenhower enviou tropas militares para garantir a segurança de nove estudantes negras que haviam sido admitidas em uma escola para brancos. Naquele ano, em 1957, os Estados Unidos haviam abolido todas as leis que ainda permitiam a segregação racial e os estudantes protegidos por militares ficaram conhecidos como "os nove de Little Rock" (leia mais aqui).
Mesmo escoltados, no entanto, estudantes negros eram hostilizados por brancos que combatiam as políticas de igualdade e ação afirmativa, como numa foto que ainda paira como uma mancha na história dos Estados Unidos.

Cinquenta anos depois do histórico discurso de Martin Luther King Jr., a cena indigna de Little Rock foi repetida em Fortaleza, capital do Ceará, quando uma turba de médicos tomados por um instante de selvageria armou um corredor polonês contra médicos cubanos e passou a gritar "escravos, escravos" (assista ao vídeo impressionante).
Postada no 247, a imagem do cubano Juan Delgado sendo hostilizado por duas médicas brasileiras, captada pelo fotógrafo Jarbas Oliveira, registra, com precisão, o espírito de um tempo. Um tempo mesquinho, egoísta, em que doutores brasileiros, que se negam a atender brasileiros em regiões remotas, hostilizam quem se dispõe a fazer esse trabalho. Uma obra-prima que, certamente, dará ao fotógrafo os prêmios mais importantes de sua atividade neste ano. E que, de tão marcante, já foi compartilhada por mais de 200 mil pessoas no Facebook – um marco na internet brasileira.
Dos mais de 2 mil comentários postados na matéria de ontem (saiba mais aqui), mais de 90% demonstraram indignação e vergonha alheia com a atitude dos médicos cearenses. Alguns questionaram o fato de o 247 ter descrito na matéria que Juan Delgado é um médico negro. Simples. Ser chamado de "escravo" é uma ofensa para qualquer ser humano. Mas uma ofensa que repercute ainda mais na alma de pessoas cujos ancestrais foram efetivamente escravizados.
Ao comentar as agressões, o próprio Delgado se disse impressionado com a manifestação e disse ser um homem livre, que veio ao Brasil para ajudar – segundo ele, para ser "escravo da saúde e dos doentes" (leia mais aqui). Exemplos de preconceito, no entanto, se espalharam pela internet, como no Facebook da jornalista Micheline Borges, que disse que médicas cubanas se parecem com "domésticas" (leia aqui).
No Brasil, ainda não apareceu um Martin Luther King Jr. capaz de dizer uma frase simples e poderosa. Simplesmente "eu tenho um sonho". Um sonho banhado por igualdade e tolerância.
Assista, abaixo, ao discurso de Luther King Jr., que completa 50 anos hoje:


terça-feira, 27 de agosto de 2013

As duas caras da revista Veja.

Melhor que fundar um banco, é filiar-se ao PSDB. A imprensa não denuncia; a polícia não investiga; o MP não indicia; a Justiça não julga. 

E o PT é massacrado dia e noite pela Rede Globo, Veja, Folha e Veja. 

As duas caras da Revista Veja é o retrato fiel da atuação da velha mídia que permitiu o PSDB passar 20 anos roubando o povo do estado de São Paulo, desviando recursos do metrô, trens e fazendo a privataria tucana.

Duas imagens, dois momentos, os meus olhares, os mesmos preconceitos, as mesmas agressões.


Médico cubano agredido: Fomos agredidos, mas vamos cumprir nossa missão aqui no Brasil de atender bem a população carente"

Médicos cubanos são hostilizados pelos colegas brasileiros em Fortaleza.

Apesar da agressão, cubano diz que cumprirá missão


LAURIBERTO BRAGA, ESPECIAL PARA AE - Agência Estado
"Fomos agredidos, mas vamos cumprir nossa missão aqui no Brasil de atender bem a população carente", disse assustado, nesta terça-feira, 27, um dos 70 médicos cubanos hostilizados por médicos cearenses, na noite de segunda-feira, na saída da aula inaugural do treinamento de 96 médicos formação estrangeira, na Escola de Saúde Pública do Ceará, em Fortaleza.

Os cubanos foram chamados de "escravos" e "incompetentes" e tiveram que passar por um corredor humano, onde os cearenses gritaram palavras de ordem como "Revalida", "Incompetentes" e "Voltem para senzala".
"Aceitei vir para o Brasil para ajudar a população, mas agora só pretendo ficar os três anos da missão e voltar a Cuba. Tão logo termine o trabalho no Brasil retorno a Cuba, porque é em Cuba que tenho meu trabalho e minha família", afirmou o médico, que pediu para não ser identificado com medo de mais represália dos cearenses.
Segundo ele "nós somos trabalhadores da saúde que lutamos pelas pessoas enfermas que procuram melhorias na sua saúde". O cubano antes de vir para o Brasil passou quatro anos em missão no Haiti.
O secretário nacional de gestão estratégica e participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro também foi agredido pelos cearenses. "O que eles fizeram foi um ato de truculência, violência, racismo, xenofobia e preconceito", reclamou. Odorico levou ovo na jaleco que vestia do Sistema Único de Saúde (SUS) e foi seguido pelos manifestantes até o carro com gritos de "Fora Odorico".

Notícias relacionadas:

Rede Globo, Veja, Folha e Estadão são responsáveis pelas agressões e preconceitos aos médicos cubanos.

Como se desmonta uma farsa de jaleco

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
 

Está rodando na internet uma farsa apelativa.

O Dr. Rogério Augusto Perillo, que acha que as pessoas são burras, postou uma foto segurando um cartaz dizendo que “não faltam médicos” e denunciando ter sido demitido pelo prefeito da cidade de Trindade, próxima a Goiânia, “para dar lugar a um médico cubano”.

Com a repercussão nas redes, o prefeito teria “reconsiderado” a decisão e mandado readmitir Rogério.

Conversa.

Rogério é amigo e correligionário do prefeito da cidade, Jânio Darrot, do PSDB, com quem aparece sorridente na foto postada há 15 dias.

E, pelo sobrenome Perillo, você deve imaginar de quem ele é parente.

Claro, do governador Marconi Perillo, também do PSDB, aquele que escapou, sabe-se lá como, dos escândalo Demóstenes-Cachoeira.


A página de Rogério Perillo no Facebook é um misto de carolice, antipetismo, anticomunismo e baixarias que me poupo de reproduzir.

Ele, aliás, tentou fazer uma inscrição no “Mais Médicos”para ajudar a “melar” o programa, dizendo que o sistema não aceitava o CPF.

Ele tem o direito de ser um idiota, ninguém lhe negará.

Como tem o direito de ser integrante do PSDB e apoiador da candidatura Aécio Neves.

Gosto, mesmo sendo duvidoso, não se discute.

Tem mesmo o direito de ser um mau caráter.

Mas ele não tem o direito de construir uma mentira na rede, para ser reproduzida por incautos, de boa fé, ou mesmo imbecis, de má-fé.

Não tem o direito de manipular para combater o direito de outros brasileiros, não tão “bem-nascidos” quanto ele.

Infeliz do povo que vai ser tratado com critérios éticos como o do Dr. Rogério.

Se Goiás é o curral dos Perillo, não é difícil saber como tratam o seu povo.

Vídeo que mostra as agressões e preconceito aos médicos cubanos

Médicos cubanos terão salário integral


A vice-ministra de Saúde de Cuba, Marcia Cobas, afirmou nesta segunda-feira (26), que os profissionais cubanos recebem 100% de seus salários. Durante discurso de abertura da fase de avaliação do programa Mais Médicos, Cobas disse que a intenção dos profissionais cubanos não é ocupar o espaço do médico brasileiro. "Queremos ir aos lugares onde a população mais precisa, onde não tem médico", disse.

"Cuba é um país sem muitos recursos naturais. Nossos recursos são homens e mulheres que se preparam com conhecimento para tratar do nosso povo e do povo que precisa", afirmou. Ao fim do discurso, os profissionais aplaudiram Cobas em pé. Estão presentes 176 profissionais que vieram de Cuba e 23 que se formaram em outros países, principalmente Portugal e Espanha. Eles farão, no Distrito Federal, o módulo de acolhimento e avaliação, que dura três semanas. Depois disso, vão para os locais definitivos onde atuarão no atendimento à população.


Fonte: Agência Estado

Jornalista diz que cubanas têm cara de empregada doméstica

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247 – Não é apenas a classe médica que tem se insurgido contra o programa “Mais Médicos” e a vinda de profissionais cubanos para o Brasil, com ações preconceituosas. Na tarde desta terça-feira, a jornalista potiguar Micheline Borges engrossou o coro de impropérios contra os cubanos que já estão no país, em uma postagem no Facebook, gerando uma onda de revolta nas redes sociais. “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo? Que terrível”, disse. Teria ela se inspirado em certos colunistas da velha mídia que compararam os médicos cubanos a escravos?
Para a jornalista, “médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência”, o que ela não teria percebido nos profissionais cubanos. “Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? E febre amarela? Deus proteja o nosso Povo”, completou.
Diante da repercussão negativa, a jornalista deletou sua conta no Facebook, mas imagens com  infeliz comentário continuam repercutindo muito nas redes sociais. Micheline tem sido acusada de racismo. Pelo Twitter, o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) engrossou o coro contra a jornalista. Para ele, ato foi exemplo de “canalhice e racismo”.

CFM se cala covardemente diante das agressões e xenofobia aos médicos cubanos.


247 – Quando o governo federal anunciou o Programa Mais Médicos, no início de julho, e a vinda de quatro mil médicos cubanos para trabalhar no Brasil, na semana passada, o Conselho Federal de Medicina foi um dos primeiros a reagir formalmente. A respeito do convênio assinado pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, com a OPAS (Organização Panamericana de Saúde), o presidente do CFM, Roberto D´Ávila, assinou uma nota chamando o projeto de "eleitoreiro".
Nesta segunda-feira, uma cena desprezível aconteceu em Fortaleza, onde 96 médicos, sendo 79 cubanos, desembarcaram para iniciar um curso de formação de três semanas antes de começarem seus trabalhos no Brasil. Cerca de 50 médicos brasileiros, que os esperavam do lado de fora, gritaram "escravos", xingaram e humilharam os médicos estrangeiros, que foram obrigado a passar pelo meio de um verdadeiro corredor polonês (assista vídeo abaixo).

O comportamento selvagem dos médicos brasileiros foi praticado contra pessoas que nunca os desrespeitaram. Pelo contrário, vieram atender à população que tem pouco – ou nenhum – acesso à saúde e trabalhar em 701 cidades do País onde nenhum profissional brasileiro quis ir. Sobre essa atitude da classe médica, que demonstrou preconceito aos colegas estrangeiros, o CFM curiosamente não se pronunciou. Assim como não o fez o CREMEC, Conselho Regional do Ceará, onde ocorreu o episódio. A assessoria de imprensa do Conselho Federal informou ao 247 que não há previsão de nenhum posicionamento oficial sobre o caso.
Na última semana, D´Ávila também classificou de "irresponsabilidade" a contratação de profissionais sem que fossem comprovadas suas habilidades técnicas. Acontece que, depois de participarem do curso preparatório no Brasil, de língua portuguesa e sobre o sistema de saúde pública brasileiro, os médicos podem ser reprovados e correm o risco de voltarem ao seus países. O presidente do Conselho Federal de Medicina, porém, não se retificou da crítica sem fundamento, após essa nova informação. 

Jornalista causa revolta ao afirmar que médicas de Cuba “têm cara de empregada doméstica”

Micheline Borges lamentou a chegada dos profissionais ao Brasil e disse: “Coitada da nossa população”
Por Igor Carvalho
Micheline Borges se manifestou pelo Facebook (Imagem: Reprodução Facebook)
Micheline Borges, uma jornalista potiguar, causou revolta nas redes sociais ao expressar sua opinião sobre os médicos cubanos que estão chegando ao Brasil para trabalhar no programa “Mais Médicos”. “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma cara de empregada doméstica”, afirmou a repórter.
Em outro trecho, ela reclama da imagem dos profissionais cubanos. “Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência”.
A jornalista chega a questionar se os médicos de fato são profissionalizados, por conta da aparência deles, e questionou se eles serão capazes de tratar dengue ou febre amarela. Micheline Borges termina desejando que “Deus proteja o nosso povo.”
A jornalista deletou sua conta no Facebook após a repercussão negativa de suas declarações. O tom preconceituoso do texto fez com que quase mil pessoas compartilhassem a imagem na rede social, com tons ofensivos, acusando Micheline de racismo.

Kotscho: Campanha contra cubanos é "desumana"

Sakamoto, parte dos jornalistas são culpados pelos horrores e agressões aos médicos cubanos

 
Médicos cubanos são hostilizados pelos colegas brasileiros em Fortaleza.
 
Sakamoto Parte dos jornalistas passou dias dizendo o que quis sobre a vinda dos médicos cubanos, sem se preocupar em checar informações ou as consequências de suas ações.  agressões
 
por Leonardo Sakamoto 
 
São escravos, vêm em aviões negreiros, são incompetentes, indolentes e teve até quem disse que as médicas pareciam “empregadas domésticas” (o fantástico é que a tosca em questão achou que estava ofendendo as doutoras mas, no fundo, rasgava preconceito contra uma suposta aparência de trabalhadoras domésticas). 
 

Agora a xenofobia vem de médicos brasileiros que agrediram os seus colegas no Ceará.

Saúde

Xenofobia

Vergonha à brasileira - Carta Capital .

A agressão contra os médicos cubanos em Fortaleza é o cartão de visita de quem aprendeu a cuspir no "escravo" para manifestar uma duvidosa repulsa à escravidão
por Matheus Pichonelli publicado 27/08/2013 12:22, última modificação 27/08/2013 13:18
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Jarbas Oliveira/Folhapress
Médicos cubanos são hostilizados pelos colegas brasileiros em Fortaleza.

Veio de um usuário do Twitter um dos melhores comentários feitos até agora sobre a gritaria em torno da entrada dos médicos estrangeiros (leia-se cubanos) ao Brasil. “Médico estrangeiro é populismo. Tem que voltar a política de deixar morrer”. (Módulo ironia off)

Populismo, oportunismo, escravidão (?). Enquanto médicos, fariseus e doutores da lei tentam filtrar os mosquitos, uma fila de camelos é engolida nos rincões fora da rota turística do País. Em outras palavras, as pessoas seguem morrendo, sem que mereçam um franzir de testa de quem parece disposto a armar uma Intifada contra o programa Mais Médicos.
Segundo mapeamento do governo, existem hoje 701 cidades no País sem um único médico a postos. Sabe quantos brasileiros demonstraram, em chamada recente, interesse em trabalhar nesses locais? Zero. Nesses lugares, falta o básico do básico, conforme mostrou o repórter Gabriel Bonis em sua visita a Sítio do Quinto, município do interior baiano onde a população não tem para onde correr em caso de emergência (o caso mais simbólico foi a morte, testemunhada por uma técnica em enfermagem e um vigia, de um homem que levou uma facada e não pôde ser atendido porque não havia médico de plantão). Não estamos falando de cirurgia de alta complexidade, mas de carência humana, cuja atuação garantiria o tratamentos mínimo para problemas mínimos como diarreia, gripe ou ferimentos leves, que neste diapasão de interesses e serviços se transformam em tragédias diárias e desproporcionais.
Tragédias que parecem não comover quem, de antemão, diz se sentir envergonhado pela leva de navios negreiros (oi?) a aportar por aqui atolados de médicos dispostos a nivelar por baixo a medicina brasileira. Pois Jean Marie Le-Pen, o líder ultradireitista francês de xenofobia desavergonhada, seria capaz de corar ao ver a reação dos médicos brasileiros, de maioria branca, que hostilizaram, vaiaram e chamaram de “escravos” os colegas cubanos, de maioria negra, durante um curso de preparação em Fortaleza. O protesto, organizado pelo Sindicato dos Médicos do Ceará, foi talvez o estágio mais alto de uma ofensiva que já teve até presidente de conselho regional de medicina pregando, como num culto, o boicote aos camaradas estrangeiros. Os manifestantes, que provavelmente se divertem ainda hoje com a herança colonial supostamente encerrada por uma lei - não coincidentemente - denominada Áurea, talvez inovassem a rebelião contra o estado das coisas no período anterior a 1888. O método consiste em cuspir no escravo para manifestar uma repulsa fajuta à escravatura. Parece um método bastante inteligente para quem levou seis anos para retirar o diploma. Não cola.
O episódio mostra que até mesmo quando se trata de salvar a vida humana a vida humana é contagiada pela mais devastadora das doenças: a ignorância de quem enxerga o mundo entre o certo e o errado e nada mais entre uma ponta e outra. A ignorância, neste caso, parece desnudar um resquício de desumanidade presente em um dos últimos bolsões de um elitismo pré-colonial. Um elitismo que tolera o esquecimento e a omissão, mas esperneia ao menor sinal de desprestígio, este galgado longe, bem longe, dos salões onde mais se precisa de médicos: onde o jaleco se suja de terra.
A opção de ficar nos grandes centros é, de certo modo, compreensível. Não se discute as fragilidades de um programa de emergência. Seria pouco razoável, por exemplo, negar a ausência de uma estrutura adequada para a atuação de quaisquer médicos pelo interior do País. Seria pouco razoável também negar a dificuldade para amarrar juridicamente um contrato de trabalho que prevê a triangulação entre países (um deles, bem pouco afeito à transparência) para remunerar o trabalhador. Não se nega ainda a necessidade de se regular a atuação desse médico conforme o tamanho de sua responsabilidade. Não se discute a necessidade de se validar diplomas com base em um critério honesto que não tenha como finalidade a reserva de mercado. Da mesma forma, seria razoável (ou deveria ser) supor que a urgência para a garantia de atendimento básico preceda os ajustes de rota – estes facilmente remediados com boa vontade, o que não é o caso de uma vida por um fio.
Mas, para boa parte dos ativistas de ocasião, cruzar os braços diante da suposta politicagem, do suposto populismo, do suposto oportunismo e do suposto navio negreiro é mais nobre do que atacar o problema real. Parecem a versão remodelada da conferência das aranhas do conto A Sereníssima República, de Machado de Assis, a mais perfeita alegoria de nossa incompetência histórica. “Uns entendem que a aranha deve fazer as teias com fios retos, é o partido retilíneo; outros pensam, ao contrário, que as teias devem ser trabalhadas com fios curvos, - é o partido curvilíneo. Há ainda um terceiro partido, misto e central, com este postulado: as teias devem ser urdidas de fios retos e fios curvos; é o partido reto-curvilíneo; e finalmente, uma quarta divisão política, o partido anti-reto-curvilíneo, que fez tábua rasa de todos os princípios litigantes, e propõe o uso de umas teias urdidas de ar, obra transparente e leve, em que não há linhas de espécie alguma”.
Nessa conferência, a discussão gira em torno dos símbolos atribuídos a uma mesma teia. O imobilismo é o único resultado da gritaria.
Como as aranhas de Machado de Assis, preferimos discutir o sexo dos anjos em vez de atingir o cerne de uma questão urgente: o abandono de uma parte considerável da população. Seria razoável que elas estivessem no centro do debate. Mas a razoabilidade é um objeto raro quando a ala (sempre em tese) mais esclarecida do País tem como um cartão de visita a vaia, a arrogância e a agressão.
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O povo cearense está profundamente indignado e envergonhado com os médicos cearenses.

envergonham o País

(3931) Armando Paiva: FORTALEZA, CE, 26.08.2013: MAIS MÉDICOS/CE -  Manifestantes ligados ao Sindicato dos Médicos do Ceará (Simce) , realizam protesto durante a saída do grupo de 79 médicos selecionados pelo programa Mais Médicos, do governo Federal, participavam de curso na

Cubanos são chamados de 'escravos' por médicos brasileiros no CE

AGUIRRE TALENTO
DE FORTALEZA

Médicos cubanos foram vaiados, hostilizados e chamados de "escravos" por médicos brasileiros que fizeram um protesto na saída do primeiro dia do curso para o programa Mais Médicos, do governo federal, em Fortaleza.

Liderado pelo Simec (Sindicato dos Médicos do Ceará), o grupo de brasileiros se reuniu a partir das 18h na saída da Escola de Saúde Pública com uma faixa exigindo a aplicação de prova para a revalidação de diploma dos estrangeiros.
Foi no mesmo horário marcado para uma solenidade de acolhimento dos médicos estrangeiros, com a presença de representantes do Ministério da Saúde. Havia no local 96 médicos estrangeiros, sendo 79 cubanos.
Houve um princípio de confusão quando os médicos brasileiros tentaram entrar no prédio da escola e seguranças trancaram a porta. Durante a solenidade dentro do auditório, era possível ouvir os gritos dos manifestantes, que cercaram todas as saídas do prédio.
"Fecharam as portas para os médicos do Brasil e abriram as portas para os médicos de Cuba", afirmou José Maria Pontes, presidente do Sindicato dos Médicos.
Quando a solenidade terminou, por volta das 20h, os manifestantes continuavam do lado de fora da escola e começaram a bater com força nas paredes de vidro do prédio, ameaçando quebrá-las. O grupo de médicos estrangeiros ficou preso dentro do prédio, sem poder sair para os alojamentos. O governo convocou reforço policial e carros da Polícia Militar chegaram ao prédio.
Os cubanos se mostravam assustados e ficaram parados próximo à porta, sem poder sair. Por fim, representantes do Ministério da Saúde resolveram sair do prédio e enfrentar os manifestantes, acompanhados pelos médicos estrangeiros.
A saída foi tensa. O grupo foi recebido com gritos de "revalida" e os cubanos foram chamados de "escravos". Os médicos gritavam ao pé do ouvido dos estrangeiros que saíam do prédio e exibiam semblante assustado.
Os ânimos se exaltaram quando o secretário de gestão estratégica e participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, que representava o ministro Alexandre Padilha, saiu do prédio. Foi recebido aos gritos de "traidor" e recebeu alguns leves tapas de alguns médicos, que o seguiram até ele entrar no carro que o tirou do local.
Havia também um pequeno grupo, de cerca de 20 pessoas, que se manifestava a favor de Cuba, com a bandeira do país. Eles criticavam os médicos brasileiros, chamando-os de mercenários.
MAIS MÉDICOS
O Brasil tem recebido médicos estrangeiros em várias capitais desde a semana passada. Alguns são provenientes do programa Mais Médicos e outros com base num acordo firmado com o governo cubano, uma vez que algumas cidades não tiveram inscritos pelo programa federal.
Médicos brasileiros têm protestado contra as duas iniciativas alegando que eles deveriam passar pelo exame Revalida, usado por pessoas que se formam em medicina no exterior para validar o diploma.
A importação de 4.000 médicos cubanos também é questionada pelo Ministério Público do Trabalho por questões trabalhistas e também por conselhos regionais de medicina.
Os profissionais cubanos não vão receber diretamente do governo brasileiro. O salário será repassado ao governo de Cuba, que distribuirá uma quantia aos médicos.