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domingo, 30 de janeiro de 2011

Wikileaks revelam sabotagem contra Brasil tecnológico


Da Carta Maior - 30/01/2011

Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedi dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos fo Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência tecnológica brasileira. O artigo é de Beto Almeida.

O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 - de fabricação ucraniana - no Centro de Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.

Veto imperial
O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em fevereiro daquele ano, relata que os representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.

“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.

Em outra parte do documento, o representante americano é ainda mais explícito com Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil”.

Guinada na política externa
O Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania Nacional”. Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.

Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja ,finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites. Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja. Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.

Bomba! Bomba!
O outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks recentemente e que também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do Exército. Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas, que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.

A primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era de espionagem. E também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil em 1998, Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por terroristas , os EUA, pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu explicações do governo Brasil , chegando mesmo a propor o recolhimento-censura do livro “A física dos explosivos nucleares”. Exigência considerada pelas autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.

Como é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras. Acesso que não permitem às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de uma meta central do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas também o desarmamento nuclear dos países que estão armados, o que não está ocorrendo.

Desarmamento unilateral
A revista publica providencial declaração do físico José Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha editorial de desarmamento unilateral e de renúncia ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento algum projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente do Irà, apresentou à Assembléia Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à opinião pública mundial.

Intervencionismo crescente
O semanário também publica franca e reveladora declaração do ex-presidente Cardoso : “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o Brasil pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?” Com o tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com os minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do crescimento dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do intervencionismo imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.

São conhecidas as sintonias entre a política externa da década anterior e a linha editorial da grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa Branca. Por isso esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de desencanto e crise se encontram tão embaraçados diante da nova política externa brasileira que adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade quanto mais telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são divulgados pelo Wikilieks.

(*) Beto Almeida é jornalista

sábado, 29 de janeiro de 2011

Lula virou história


Por Rachel Berto 
Para o Valor, do Rio
Valor Econômico - 28/01/2011

O governo mal acabou, mas uma simples consulta a livrarias virtuais indica, até o momento, aproximadamente 50 livros lançados com o nome "Lula" no título - fora os demais, sem a menção direta. O número é significativo se comparado, por exemplo, aos cerca de 15 disponíveis on-line, a partir da mesma ferramenta, com "Fernando Henrique Cardoso" ou "FHC". Enquanto o ex-presidente tucano é o principal autor de suas obras - nesse caso, há mais de duas dezenas delas sendo oferecidas -, Lula não assina livro algum, mas sua história tem potencial para inspirar uma bibliografia jornalística e acadêmica ainda maior, especialmente a partir de agora, nesta fase de balanços e análises (talvez) menos polarizadas.

Um dos biógrafos mais ativos do Brasil, Fernando Morais não tem dúvida: "Lulinha dá um livraço". Autor de clássicos como "Chatô, o Rei do Brasil" e "Olga", Morais gostaria de escrever um livro com o mesmo fôlego desses sobre o ex-presidente. E ele não é o único com planos editoriais a respeito de Lula. O jornalista Kennedy Alencar prepara um dos livros mais aguardados sobre os oito anos do governo, a ser lançado pela Publifolha, no qual vai contar mais sobre os bastidores da vida palaciana. A pesquisadora Denise Paraná, autora de "Lula, o Filho do Brasil" (editora Fundação Perseu Abramo) - base do filme homônimo de Fábio Barreto -, também reuniu material para um novo livro, desta vez sobre a simbologia em torno do líder político.

O sociólogo Francisco de Oliveira planeja publicar no ano que vem "A Formação do Avesso: Predação de Classe e Trabalhos de Sísifo", pela Boitempo. "Sempre começo pelo título", diz. Seu objetivo é revisar a história brasileira, mostrando como o "lulismo" se encontraria na culminância de uma nova estratégia de dominação, iniciada há meio século, que se daria pelo avesso, ou seja, com a participação das próprias classes dominadas.

O fenômeno do lulismo é controverso, até por causa de seu ineditismo, aspecto com o qual concordam Oliveira e um dos seus principais interlocutores - e opositores - nesse debate, seu colega André Singer, porta-voz da Presidência até 2007. Também em 2012, Singer vai lançar um livro sobre o lulismo, que se baseará na tese de livre-docência que defenderá neste ano na Universidade de São Paulo (USP). "Quando comecei a fazer essa análise, estabeleci um diálogo com as hipóteses do professor Francisco de Oliveira", afirma Singer. "Concordo com ele no sentido de que temos algo novo, mas não acho que seja às avessas, até porque a política que continua a ser executada contempla aspectos do programa original do Partido dos Trabalhadores [PT], como a inclusão social, apesar da incorporação de elementos que não estavam presentes inicialmente, de extração neoliberal."

Toda a polêmica, de acordo com Fernando Morais, só faz apimentar uma virtual biografia. "É uma figura que merece algo mais exaustivo, acho que alguém vai fazer. Lula é adorado pela população, mas tem uma oposição dura. O Lula demonizado dá um sabor especial ao livro. Além disso, ele não é casmurro, o que ajuda o biógrafo. Este é um trabalho no qual eu tenho muito interesse e convivi bastante com o Lula."

No momento, entretanto, Morais prefere deixar o projeto amadurecer: "Pedi, por meio de amigos comuns, para gravar com Lula uma meia dúzia de depoimentos longos, sobre passagens importantes do governo, mas ele disse para desistir, porque ou sairia abobrinha ou perderia amigos. A poeira na alma dele ainda não baixou. Um dia, se topar, torço para que chute a bola para o meu lado."

Já o coordenador editorial da editora Fundação Perseu Abramo, Rogério Chaves, está mais otimista quanto à possibilidade de obter depoimentos do ex-presidente. A fundação tem entre seus propósitos contar a história do PT, e a ideia é preparar uma continuação do livro "Lula, o Filho do Brasil", que tem apresentação de Antonio Candido e se concentra no período de formação do filho de dona Lindu. A editora negocia a contratação de um novo autor. "Queremos amadurecer a ideia com o próprio Lula", conta Chaves. "A ideia é discutir menos o Lula como mito e sim como agente de um momento de grande mudança. Será necessário ter nessa edição a participação de uma pessoa com leitura política, que vá pegar também a fase do governo. Pensamos em aproveitar este ano, quando as informações estão mais recentes."

Além disso, a editora da fundação iniciou, no ano passado, a publicação de coleções técnicas sobre os dois mandatos. Uma delas é "2003-2010: o Brasil em Transformação", na qual serão lançados mais quatro volumes neste ano - sobre políticas sociais, direitos humanos, estatais e saúde.

A dificuldade de escrever sobre a trajetória do ex-presidente, segundo Denise Paraná, deve-se ao fato de Lula raramente dar depoimentos. "Até hoje, ele só deu depoimentos longos sobre a sua vida para a pesquisa que eu realizei. Foram muitos meses de entrevista, horas de conversa, no início dos anos 1990." Ao longo desses anos, Denise travou amizade com a família de Lula e frequenta casamentos e festas de Natal dos irmãos e dos sobrinhos dele. Já coletou amplo material sobre a construção simbólica do personagem, no Brasil e no exterior.

"Não me interessam tanto o lado político partidário, as disputas ou o balanço do governo. Quero escrever sobre a visão de mundo dele, destacando os aspectos subjetivos, ideológicos, culturais. Há muitos anos, eu tenho conversado com a família toda, observado como enfrentam as situações etc. Em "Lula, o Filho do Brasil", eu já trabalhava por meio dessa corrente da psico-história", diz.

No novo livro, vai analisar como Lula estaria contribuindo para o país se livrar do chamado "complexo de vira-lata", termo cunhado por Nelson Rodrigues quando observava a seleção nacional jogando futebol com potências estrangeiras. Segundo Denise, o brasileiro está entre os cinco povos mais otimistas do mundo quanto à mobilidade social, e Lula seria um símbolo importante desse ânimo.

"Existem pessoas que conseguem ascender socialmente. Em geral, saem da classe social baixa e se adaptam à nova classe. Deixam um lugar para ocupar outro. Mas com o Lula foi diferente: ele ocupa os dois lugares. Ele tem orgulho de ser o incluído e ao mesmo tempo o orgulho de ser o superexcluído. Isso dá um nó na cabeça da elite. Lula constrói espaço novo, a partir da comunicação direta com a população. Do ponto de vista simbólico, ele quebra paradigmas e modelos o tempo todo."

Em suas pesquisas no exterior, Denise chegou a se impressionar com a força do personagem, que chegaria a substituir Pelé como principal referência a respeito do país. "Muita gente que antes nem sabia onde fica o Brasil agora fala do país através da figura do Lula. É como se ele tivesse posto o Brasil no mapa-múndi."

Mas Denise reconhece que se trata de figura controversa: "Há quem diga que ele pratica populismo de direita, enquanto outras pessoas afirmam que é completamente revolucionário. Eu ouvi isso na França. Mas não estou dizendo que tudo deu certo no governo. O fato é que há muita coisa para estudar a respeito desses últimos oito anos: foram infinitas e profundas as transformações."

Boa parte do que diz poderia servir de subsídio a uma explicação do "lulismo". De acordo com André Singer, a base do fenômeno, que se configurou claramente a partir da reeleição de 2006, se encontra nos estratos de mais baixa renda da população - sendo o Bolsa Família um ingrediente não desprezível nesse conjunto. "É uma camada da população com perspectiva de mudança de renda, mas pode ser considerada conservadora por querer essas mudanças sem ameaça à ordem estabelecida. O lulismo tem elementos carismáticos, sobretudo no Nordeste, mas é um movimento real da sociedade, democrático. Embora não formalizado, tem fôlego para durar muitos anos", afirma.

Para Oliveira, sem entender o lulismo dificilmente se entende o Brasil de hoje: "Mesmo porque o lulismo nos devora". Em sua opinião, Lula é um ilusionista: "Ele tira coelho da cartola o tempo todo. Não é o escravismo ou o patrimonialismo que explicam o atraso atual. Não se trata de uma herança de 500 anos. No livro, vou fazer a revisão da história para mostrar como essa formação do avesso se refere aos últimos 50 anos, a uma escolha das camadas dominantes. Houve uma opção pelo atraso. Cria-se a pobreza, que não é brasileira, como forma de controle e dominação. Lula tira benefício disso. Seu governo foi a culminância desse processo. Não houve avanço institucional nestes oito anos. Assim como as classes dominantes, Lula dança sobre a miséria para construir a sua popularidade."

O Brasil vive uma "falsa euforia", diz Oliveira. "Sobraram para o país os produtos baratos. É a euforia de quem chegou atrasado ao baile, a celebração da derrota da vitória. Todos estão contentes, mas sobre cultura e cidadania não temos nada. Chegou-se aos bens de consumo, mas não à civilidade", comenta. "Estamos vivendo um fascismo do consumo. As pessoas se detestam, desapareceu qualquer traço de solidariedade pessoal e social. Os valores que a sociedade deveria cultivar, ela não cultiva. Há uma tensão fascista no ar. Sempre que um materialista começa a relacionar feitos sociais, pode desconfiar que atrás existe um cheiro de fascismo." O sociólogo, que é ex-petista, reitera: "Fizeram do Lula a imagem idealizada do anjo operário, o que ele não é. Faz muitas décadas que ele deixou de ser operário. A tragédia brasileira é imensa."

Como observa Morais, "herói de bronze só tem em praça pública" e a figura de Lula, como se vê, está longe do consenso. Por enquanto, na imprensa e em seminários, o momento é dos primeiros balanços. Especula-se qual seria sua participação na gestão da sucessora, Dilma Rousseff, e se voltaria a se candidatar à Presidência, embora Denise Paraná, até o momento a maior especialista na biografia lulista, aposte que não há volta: "Lula nunca andou para trás. Quando saiu da presidência do sindicato, disseram o mesmo, que ele voltaria, mas não foi o caso. Sempre foi assim na trajetória dele. O Brasil agora já fica pequeno para Lula, que tem a possibilidade de fazer muita coisa pelo mundo. Duvido que se candidate novamente, até porque entrou para a história como o presidente mais popular do país".

Kennedy Alencar, que cobriu os dois mandatos pela "Folha de S. Paulo", em Brasília, fez questão de esperar que Lula deixasse o Planalto para terminar seu livro sobre o governo só agora. "Achei melhor assim, para ter uma perspectiva mais ampla", afirma Alencar, que começou a redigi-lo de maneira mais intensa no ano passado. Já publicou algo do que saiu na própria "Folha", em dezembro. "Desde a eleição do Lula em 2002, pensava em escrever algo, com material apurado que eu não tinha como usar no dia a dia. Reuni muitos bloquinhos de anotação ao longo dos anos. Eu sempre escrevia um pouco e guardava."

Sua intenção é identificar os piores e melhores momentos, contar sobre a sucessão de escândalos enfrentados, como o caso Waldomiro Diniz e o mensalão, falar da crise econômica, das políticas sociais etc. "Vou detalhar um pouco mais. Ainda vou ter algumas conversas. A gente nunca para de apurar. Estou com todo o material arquivado, mas quero tempo para fazer com mais calma." Haveria ainda alguma revelação importante? "Eu acho que sim, porque jornalista nunca consegue mostrar tudo. A relação entre imprensa e governo é naturalmente tensa, sempre vai ter algo para descobrir." Além disso, o próprio Lula gostaria de voltar ao assunto do mensalão este ano, como lembra o jornalista: "É muita história para contar".

Uma cruzada contra o Brasil


Do blog do Zé Dirceu. 

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Uma ampla e articulada campanha - espontânea não é - que se consolida na mídia quer que o Brasil corte gastos sociais, reduza salários, controle seu crescimento econômico e o aumento do emprego, da renda, e da demanda agregada. Querem sangue. Parece não estarem vendo o que está acontecendo no mundo.

Verdadeira cruzada contra o país, esta campanha agora ganha destaque internacional com as afirmações contidas em um relatório com cheiro de mofo do FMI. Isso mesmo, relatório evidentemente cantado em prosa e verso pelo Jornal Nacional e por toda a mídia conservadora e de oposição.

O argumento é o de sempre: há um choque de demanda sem a correspondente oferta, o que produz inflação. Para eles, estamos perigosamente atingindo o pleno emprego, há escassez de trabalhadores qualificados e nossa economia não consegue atender a demanda que cresce. Por isso, ameaçam-nos com o fantasma da inflação e do estrangulamento externo.

Tudo culpa do governo...

Tudo culpa do governo e de seus gastos, de seu endividamento, do baixo superávit, dos aumentos (reais no governo Lula) do salário mínimo e dos benefícios da Previdência. Acusam o governo, inclusive, de maquiar o superávit com operações contábeis duvidosas, mas que são tão reais quanto o aumento da receita tributária.

Tem mais: querem o fim dos empréstimos para a agricultura, saneamento, habitação, indústria, das exportações subsidiadas e dos bancos públicos. Alegam que os juros são altos porque estes financiamentos, além de os distorcerem, também expandem a base monetária do país.

Como vemos uma receita e tanto que desconhece o mundo em que vivemos. Basta comparar nosso déficit nominal e nossa dívida pública, e mesmo nosso déficit em conta correntes, com os dos Estados Unidos e Europa para constatar que somos uma ilha de controle e rigor fiscal.

Fora o fato de que o endividamento das famílias e empresas nesses países já atinge 100%, 200%, 300% do PIB, quando aqui ainda nem chegou aos 50%.

Campanha ignora medidas adotadas


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Banco Central
Sequer levam em conta as medidas do Banco Central (BC) para conter o crescimento do crédito e a valorização do real. Nem mesmo o aumento da taxa Selic em 0,5% em meados deste mês (de 10,75% para 11,25% ao ano).

Não consideram, pelo contrário, ignoram  o anúncio pelo governo do contingenciamento do orçamento de 2011. Tampouco a posição da administração Dilma Rousseff de cumprir fielmente o acordo sobre o salário mínimo é levada em conta.

Exigem mais, querem deter o crescimento, reduzí-lo a 3% ao ano. Tudo com um propósito: quando o clamor popular se transformar em oposição ao governo, derrotá-lo nas urnas, ou nas já conhecidas campanhas cívicas moralistas. A última eleição, a campanha eleitoral do ano passado, foi um pequeno trailer, um filme a que já assistimos e, espero, não ajudemos a reprisar.

Somos orientados por um pensamento econômico que nos impede de desenvolvermos plenamente.

por Luís Moreira. 

Há uma tese do "MERCADO" de que é preciso aumentar os juros para controlar a inflação, encarecendo o crédito para reduzir a demanda.

E as teses estão sendo replicadas por este país como se fossem um DOGMA com a seguinte afirmação:  - é preciso aumentar juros para...

A Globo com os seus especialistas econômicos fizeram uma "cantilena" para o aumento de juros. Na verdade foram duas semanas de "choro" para o aumento de juros, mas parece que Dilma e sua equipe "estão sensibilizadas" para o choro do MERCADO. 

E o pior: não houve reclamação. Ninguém do setor produtivo, ou da mídia "apareceu" para reclamar do aumento dos juros. Parece haver uma concordância geral no Brasil para o aumento dos juros. 

E as teses vão se constituindo como uma verdade, como se nada fosse possível fazer para ajustar a economia, sem aumentar os juros.

“De tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade.” (Joseph Goebbels).

E eu faço os seguintes questionamentos:

Quem é o SR. MERCADO, esta figura ONIPRESENTE em nossas vidas, que tudo manda e o governo obedece?

Quem é que ganha com o aumento dos juros?"

Não existe outra possibilidade de se controlar a inflação neste país?

Sobre as teses, durante todo o mandato de Lula (oito anos) foram colocadas várias :

1. Que o governo Lula apenas surfava nas bases da política econômica (microeconomia e macroeconomia) de FHC;

2. Que o governo Lula tinha sorte;

3. Que o governo Lula não enfrentava turbulências no mercado global;

4. Que o governo Lula surfava numa "bolha econômica" mundial;

5. Que a crise financeira iria acabar com esta "bolha econômica";

6. Que era preciso cortar gastos, que era preciso fazer arrocho fiscal, aumentar juros, etc, etc, etc.

Vejam o que diz Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, em entrevista ao O Globo pensa sobre o aumento de juros para combate à inflação: 

Joseph Stiglitzacha, como muitos presentes em Davos, que o Brasil vai bem. Mas, em entrevista ao GLOBO, ele faz um alerta: o combate à inflação - sobretudo a que está sendo "importada" pelo aumento mundial no preço dos alimentos - não deve ser feita apenas subindo a taxa básica de juros da economia. Isso porque essa elevação vai fazer com que pobres no Brasil, que já vêm sofrendo com a alta dos preços dos alimentos, ainda percam o emprego por causa dos juros. Stiglitz prevê o fim do dólar como moeda de reserva e se mostra mordaz na crítica ao seu país: segundo ele, os EUA têm um modelo falho e inspiram pouca confiança para liderar.

E agora no governo DILMA O SR. MERCADO anunciou durante estes últimos dias que o governo iria aumentar os juros em 0,5%, tornando o país o campeão de juros no mundo.

Os jornalistas, os articuladores, os economistas de plantão, "o pessoal do MERCADO"  afirmam em uma só gritaria:  GOVERNO PRECISA FAZER "AJUSTE FISCAL, CORTAR GASTOS"

E infelizmente a DILMA respondeu como o MERCADO queria. E parece que o SR. MERCADO fez uma súplica de aumento de juros, via à mídia televisiva e impressa deste país.

Na verdade, os jornalistas, os articuladores, os economistas de plantão, "o pessoal do mercado" - vocês devem lembrar que sempre os comentaristas dizem a seguinte frase:

...o mercado está preocupado com as decisões do governo brasileiro; o "mercado" está preocupado com os gastos sociais do governo - é preciso cortar gastos, fazer ajuste fiscal, o "mercado", ..... o "mercado".

Pergunto: quem é este pessoal do mercado?

Não serão os mesmos que estão ganhando rios de dinheiro especulando no mercado financeiro e também ficaram ricos durante o governo Lula?

Não serão os mesmos que ajudaram a quebrar o Brasil durante o governo FHC e ganharam rios de dinheiro?

Seria importante entender, por exemplo, que a inflação é positiva para um economia em crescimento, pior do que isso é a deflação. O atual governo parece ser um governo medroso, como foi o governo Lula na condução da economia. Poderíamos ter feito mais, em termos de desenvolvimento econômico, do que fizemos. 

Vejo também que a inflação, no momento é sazonal, há uma forte demanda de alimentos no mundo consubstanciada pelos fenômenos climáticos e meteorológicos que comprometeram a oferta. 

Vejam que os produtos industrializados, eletrodomésticos, eletrônicos e e de informática existem muita oferta e muita demanda, mas sem aumento de preços. 

O problema da inflação está nos alimentos, nos serviços, nas tarifas públicas e isso merece um olhar mais cuidados do governo. 


Joseph Stiglitzacha  na entrevista ao O Globo fala que é preciso tratar setores superaquecidos da economia brasileira. 

Seria importante entender e questionar que outros instrumentos o governo dispõe para não ficar a reboque do MERCADO, no controle da inflação.

Ou o governo está subjugado pelo MERCADO?

Importante considerar que os economistas que passaram pelo Banco Central do Brasil todos, sem nenhuma exceção, são do "sr. mercado", inclusive o Henrique Meireles que tolheu o crescimento econômico deste país por um bom tempo com sua política de aumento de juros (política monetária e política cambial).

Sinceramente, tive a minha primeira decepção com o governo DILMA com este aumento de juros e eu não ACREDITO NAS TESES DO MERCADO, mas no bom pensamento elaborado de Edgar MORRIN, in Cabeça Bem Feita, quando faz a seguinte reflexão que coloco aqui ipis litteres:

Ora, o conhecimento pertinente é o que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto e, se possível, no conjunto em que está inscrita.

Assim, a ciência econômica é a ciência humana mais sofisticada e a mais formalizada. Contudo, os economistas são incapazes de estar de acordo sobre suas predições, geralmente errôneas. Por quê?

continuo com as minhas indagações aos leitores de Olhos do Sertão, nas seguintes reflexões de Edgar Morrin.

.... Como diz Jean-Paul Fitoussi, “muitos desfuncionamentos procedem, hoje, de uma mesma fraqueza da política econômica: a recusa a enfrentar a complexidade...”4.

A política econômica é a mais incapaz de perceber o que não é quantificável, ou seja, as paixões e as necessidades humanas.

De modo que a economia é, ao mesmo tempo, a ciência mais avançada matematicamente e a mais atrasada humanamente.

Hayek dizia:

“Ninguém pode ser um grande economista se for somente um economista.” Chegava até a acrescentar que “um economista que só é economista torna-se prejudicial e pode constituir um verdadeiro perigo”.

Eu me questiono: como os nossos economistas têm sido DANOSOS com o nosso país e com o nosso povo?

Com o todo o potencial deste país e de seu povo, como somos ainda atrasados economicamente?

Como estes economistas quebraram e endividaram este país com os seus planos econômicos e suas teses?

.... continuo com Edgar Morrin com o seguinte questionamento:

“Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”

“Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?”Eliot

“A finalidade de nossa escola é ensinar a repensar o pensamento, a ‘dessaber’ o sabido e a duvidar de sua própria dúvida; esta é a única maneira de começar a acreditar em alguma coisa.” JUAN DE MAIRENA.

E penso que este é o caminho para duvidar desta tese dos aumento dos juros, como se outro remédio, ou receita não fosse possível utilizar.

Por fim, penso que continuamos a sermos orientados por um pensamento econômico que nos impede de desenvolvermos plenamente.

Abraços.
Luís Moreira

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O desmoronamento das ditaduras obscenas sustentadas pelos EUA e Israel no Oriente Médio.

ORIENTE EM CHAMAS
MANIFESTANTES ENFRENTAM TROPAS E TANQUES DO EXÉCITO EM CAIRO E SUEZ

Colar de ditaduras e semi-ditaduras obscenas sustentadas pelos EUA e por Israel no Oriente Médio desmorona sob protestos de massa contra a opressão e o desemprego. No Egito, onde o desemprego entre os jovens chega a 20%, forças policiais foram incapazes de deter as grandes manifestções. Apesar da dura represssão, combinada com censura à internet e bloqueio da telefonia celular, o policiamento convencional perdeu o controle da situação. O Exército foi chamado e o país encontra-se sob toque de recolher, mas os enfrentamentos não cessam. As próximas horas serão decisivas. Já há notícias de mortos e mais de 800 feridos. Pode ocorrer um banho de sangue se o governo falido de Hosni Mubarak, apoiado e armado pelos EUA, insistir em ignorar a nova realidade das ruas. Defensores seletivos dos direitos humanos, sempre alertas contra o Irã, Cuba e a Venezuela, tem a palavra. A ver.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sergio Amadeu: "Ana de Holanda e ECAD atacam política de Lula"



O movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma. O artigo é de Sergio Amadeu da Silveira.
Os defensores da indústria de intermediação e advogados do ECAD lançam um ataque a política de compartilhamento de conhecimento e bens culturais lançada pelo presidente Lula. Na sua jornada contra a criatividade e em defesa dos velhos esquemas de controle da cultura, chegam aos absurdos da desinformação ou da mentira.

Primeiro é preciso esclarecer que as licenças Creative Commons surgiram a partir do exemplo bem sucedido do movimento do software livre e das licenças GPL (General Public Licence). O software livre também inspirou uma das maiores obras intelectuais do século XXI, a enciclopédia livre chamada Wikipedia. Lamentavelmente, os lobistas do ECAD chegam a dizer que a Microsoft apóia o software livre e o movimento de compartilhamento do conhecimento. 

Segundo, o argumento do ECAD de que defender o Cretaive Commons é defender grandes corporações internacionais é completamente falso. As grandes corporações de intermediação da cultura se organizam e apóiam a INTERNATIONAL INTELLECTUAL PROPERTY ALLIANCE® (IIPA, Associação internacional de Propriedade Internacional) e que é um grande combatente do software livre e do Creative Commons. O Relatório da IIPA de fevereiro de 2010 ataca o Brasil, a Malásia e outros países que usam licenças mais flexíveis e propõem que o governo norte-americano promova retaliações a estes países.

Terceiro, a turma do ECAD desconsidera a política histórica da diplomacia brasileira de luta pela flexibilização dos acordos de propriedade intelectual que visam simplesmente bloquear o caminho do desenvolvimento de países como o Brasil. Os argumentos contra as licenças Creative Commons são tão rídiculos como afirmar que a Internet e a Wikipedia é uma conspiração contra as enciclopédias proprietárias, como a Encarta da Microsoft ou a Enciclopédia Britânica.

Quarto, o texto do maestro Marco Venicio Andrade é falso até quando parabeniza a presidente Dilma por ter "restabelecido a soberania de nossa gestão cultural, anulando as medidas subservientes tomadas pelos que, embora parecendo modernos e libertários, só queriam mesmo é dobrar a espinha aos interesses das grandes corporações que buscam monopolizar a cultura". O blog do Planalto lançado pelo presidente Lula e mantido pela presidente Dilma continua com as licenças Creative Commons. Desse modo, os ataques que o defensor do ECAD fez a política dos commons lançada por Gilberto Gil, no MINC, também valem para a Presidência da República.

Quinto, o movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma. 

(*) Sergio Amadeu da Silveira é professor da UFABC. Sociólogo e doutor em Ciência Política. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e primeiro coordenador do Comitê Técnico de Implementação do Software Livre na gestão do presidente Lula.

Em São Paulo os tucanos são "antropófagos" enquanto isso, as tragédias assolam o povo paulista.

Os paradoxos da política paulista

Cristian Klein – VALOR

São Paulo produz as maiores contradições

Há 16 anos, o confronto entre PT e PSDB molda e polariza a disputa presidencial de maneira que podemos dizer que à estabilidade econômica do país seguiu-se uma estabilidade do mercado eleitoral.

A estrutura de oportunidades consolidou-se e fechou-se para “outsiders” e partidos nanicos. Se é difícil para uma terceira via potente como o PMDB, que dirá para uma repetição de novos Collors ou PRNs, sintomas de desequilíbrios do sistema. Como era a hiperinflação para a economia.

A competição política brasileira é regida por essa lógica. Uma lógica paulista, criticada por políticos de outros Estados, mas que deu – mais rápido do que se imaginava – clareza para as decisões do eleitor, numa democracia recente e com quadro partidário fragmentado.

Há um paradoxo, porém: é justamente São Paulo que tem produzido algumas das maiores contradições do cenário político brasileiro, com um facciosismo capaz de dar nó nos neurônios de qualquer cidadão. Há uma reunião de práticas nada exemplares e sem hora para terminar. O jogo municipal para 2012 pôs o moinho a girar novamente, completando uma volta de intrigas e complicados cálculos políticos.

Três personagens principais – o prefeito, o atual governador e o ex, ambos correligionários – lideram o elenco de coadjuvantes que atuam num enredo cheio de surpresas e tramoias. O conteúdo dramático é rico, mas o significado político é pobre.

O prefeito quer trocar de legenda e já fez de sua transferência uma novela. E o partido que ajudou a dar estabilidade econômica e política no plano nacional se comporta como um estranho corpo com duas cabeças, ora comandado por uma, ora por outra. Um autêntico filme B.

Não há um PSDB. Mas uma legenda com dois caciques que travam conflito aberto, apesar das tentativas de aparentar civilidade. Se a sigla vencer em 2012, a informação só será completa se vier acompanhada de uma resposta à pergunta: serrista ou alckmista?

Em seu terceiro mandato como governador, Geraldo Alckmin dá as cartas de novo, depois de duas derrotas seguidas – para a Presidência, em 2006, e para a Prefeitura de São Paulo, em 2008. José Serra, depois de duas vitórias consecutivas – para a prefeitura, em 2004, e para o governo paulista, em 2006 -, volta ao limbo de não ter qualquer máquina sob seu comando, após perder a competição ao Planalto.

São fases opostas que refletem uma gangorra pela manutenção do espaço seguro de sobrevivência política, que é o Estado. E que tem como pano de fundo o salto ambicioso para Brasília. A origem da disputa entre Serra e Alckmin está aí.

Enquanto os longos bicos dos maiores tucanos paulistas estiveram virados para direções diferentes, não houve divergência. Mas o início da era Lula acabou por confinar os dois no mesmo ambiente.

Serra, desde os tempos da UNE, construiu uma carreira de orientação tipicamente nacional – própria (deputado federal, senador) e depois atrelada aos anos FHC (ministro) até 2002, quando perde a eleição para Lula. A partir de então, se vê obrigado a se voltar para o plano regional e se acotovelar com Alckmin. Ex-prefeito de Pindamonhangaba, Alckmin, por sua vez, cresceu como político de caráter regional. Mas seu avanço para a esfera nacional foi quase inevitável após governar o maior Estado do país. Ambição política natural, mas que colidiu com a de Serra.

O partido ficou pequeno para os dois desde que, numa noite de dezembro de 2005, em entrevista ao programa “Roda Viva” (TV Cultura), Alckmin pôs o pé na porta e se proclamou pré-candidato do PSDB à Presidência, atrapalhando os planos do correligionário.

A retaliação de Serra, que veio na eleição seguinte, municipal, marca o início da construção ilógica em que se transformou a política de São Paulo. A derrota de Alckmin para Gilberto Kassab (DEM) – reeleito com o apoio de Serra, de quem havia sido vice – criou a clivagem inusitada. Um PSDB alckmista e um PSDB serrista aliado a Kassab, cujo partido também se esfacela.

A troca de sinais é contínua. No fim do ano passado, na eleição para a presidência da Câmara, Kassab (DEM) apoiou o vereador José Police Neto (PSDB), contra o candidato de seu partido, Milton Leite (DEM), em reação à colaboração do parlamentar com a banda de Alckmin. Ou seja, as demarcações partidárias são nebulosas e o cenário incerto.

A confusão entre os donos do poder aumenta a imprevisibilidade da eleição de 2012, cheia de opções vindas de PT (Marta Suplicy e Aloizio Mercadante), PSB (Gabriel Chalita e Paulo Skaf), PP (Celso Russomano) e PV (Guilherme Leal). Sem direito à reeleição, Kassab insufla nomes de sua órbita, como Rodrigo Garcia, eleito deputado federal. Mas, com o imbróglio de sua ida para o PMDB, é provável que a legenda (ou seu grupo) não tenha força para lançar candidato competitivo. Sua pretensão de se eleger governador em 2014 passará inevitavelmente pelo colega tucano.

Serra até pode se lançar candidato para melhor abrigar seu grupo. Mas é improvável, depois da promessa feita na eleição de 2004, e não cumprida, de que não largaria o posto para concorrer a um cargo mais alto. Pesam também as movimentações de Alckmin, que procura dominar os diretórios estadual e municipal. A aposta maior é o senador eleito Aloysio Ferreira. Já o governador investe em secretários, como Bruno Covas (Meio Ambiente) e José Aníbal (Energia).

A medição de força entre dois grandes caciques políticos de um mesmo partido no mesmo Estado não é rara. Mas geralmente tem outras soluções. Por exemplo, a coexistência razoavelmente pacífica, como a que fez o PMDB paulista se dividir entre a atuação nacional de Michel Temer e a regional de Orestes Quércia. Ou a saída de um deles da legenda, como no PMDB fluminense, no qual Garotinho ficou sem espaço, com a eleição de Sérgio Cabral.

O esdrúxulo da situação paulista é a convivência forçada e turbulenta dos caciques e suas consequências. Curiosamente, há um paradoxo dentro do paradoxo que mostra o limite do personalismo. Serra e Alckmin enfrentam restrições. O custo de se mudar de partido, ainda mais de uma legenda como o PSDB, em seu comando central, pode ser alto demais.

Cristian Klein é repórter de Política. A titular da coluna, Rosângela Bittar, está em férias

E-mail cristian.klein@valor.com.br

A NOVA E A VELHA GEOPOLÍTICA

O tucano FHC fechou seu governo deixando a Petrobrás em 27º lugar no PFC Energy 50 (de 1999), ranking das maiores empresas de energia do mundo em valor de mercado. Lula encerrou seu segundo mandato, em dezembro de 2010, com a estatal ocupando a 3º colocação no mesmo ranking, atrás apenas da Shell e da Petrochina. 

Com US$ 228,9 bilhões em valor de mercado, a Petrobrás posiciona-se agora à frente da ExxonMobil e da Chevron -a quem Serra, em plena campanha presidencial de 2010, prometera reverter a regulação soberana das reservas do pré-sal. ‘Vocês vão e depois voltam', garantiu o candidato da derrota conservadora a emissários da petroleira internacional,conforme revelações do Wikileaks. 

Em 2010 a Petrobrás também bateu o recorde de produção de petróleo e gás, com a média equivalente a 2,583 milhões de barris/dia. Analistas especializados observam que as descobertas e o crescimento da produção em países da periferia do capitalismo mudaram a geopolítica do petróleo no século XXI. 

Quase em simultâneo, falando de Genebra, onde guarda repouso após as derrotas eleitorais no Brasil, FHC assegurou que ‘o governo Dilma está sem estratégia'. Sua referência, naturalmente, é a exemplar condução estratégica do país no ciclo tucano de privatizações e alinhamentos carnais.
(Carta Maior, 4º feira, 26/01/2011)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O discurso hipócrita dos "direitos humanos" dos EUA e aliados.

Eu estou cansado de ver o discurso e as ações de hipocrisias do governo norte-americano. 

EUA invadem e assassinam milhares civis no Iraque e no Afeganistão. Israel assassina barbaramente milhares de palestinos. 

EUA criaram um sistema de tortura em suas bases de guerra espalhados pelo mundo. 

EUA ameaçam de retaliação países que não se submetem aos seus interesses nas votações da ONU. 

EUA financiaram e ainda financiaram golpes militares na América Latina. 

Vejam o texto hipócrita e cuidado para não vomitar neste lixo. 


'Estamos frustrados com a relutância do Brasil'

A gência o globo por  Fernanda Godoy e Evandro Éboli

NOVA YORK e BRASÍLIA. O Brasil tem desempenhado um papel frustrante na promoção dos direitos humanos em escala global, na avaliação da Human Rights Watch, que afirma que o país também enfrenta "importantes desafios" internos nesse terreno. O vice-diretor da HRW para as Américas, Daniel Wilkinson, disse que o Brasil tem ficado aquém das expectativas, agindo com relutância e hesitação em relação a países como o Irã, sacrificando uma postura de defesa dos direitos humanos em nome de fortalecer as relações Sul-Sul.

- Nós temos sido frustrados pela relutância do Brasil, no passado, em apoiar os esforços para promover os direitos humanos ao redor do mundo. Temos esperança de que o novo governo se moverá em uma nova direção, porque o Brasil poderia ter um papel muito importante e construtivo - disse.

Em relação a assuntos internos, as críticas tratam de abusos e tortura praticados pela polícia, da situação das penitenciárias, do domínio de comunidades por traficantes e milícias, de trabalho forçado e de violência no campo. O texto cita a instalação das UPPs nas favelas cariocas, ressalvando que "no entanto, o Estado ainda não tomou as medidas adequadas para assegurar que os policiais que cometam abusos sejam responsabilizados". A Human Rights Watch critica ainda "invasões em clínicas de planejamento familiar e repressão agressiva ao aborto".

A organização também condena o fato de que o "Brasil nunca processou os responsáveis pelas atrocidades cometidas" da ditadura.

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, disse que o governo não desconhece e nem nega o conteúdo do relatório. Mas afirmou que medidas estão sendo adotadas como, por exemplo, investimentos na formação do policial.

A ministra comentou as citações no relatório de "repressão agressiva ao aborto" e de que o Brasil nunca processou os responsáveis por violações na ditadura militar.

- O Ministério da Saúde tem se esforçado para tratar o aborto como questão de saúde pública - disse. - E a resposta para a questão da ditadura é nosso empenho pela aprovação da Comissão Nacional da Verdade no Congresso.

Eric Hobsbawm elogia governo Lula e o Partido dos Trabalhadores



Eric


O historiador inglês Eric Hobsbawm elogiou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores por terem mostrado ao mundo, desde 2003, que ainda é possível "que a classe trabalhadora forme o esqueleto de movimentos mais amplos de transformação social".

"O Brasil, que tem um caso clássico de partido trabalhista nos moldes do fim do século 19 -baseado numa aliança de sindicatos, trabalhadores, pobres em geral, intelectuais e tipos diversos de esquerda- que gerou uma coalizão governista notável. E não se pode dizer que não seja bem-sucedida, após oito anos de governo e um presidente em final de mandato [a entrevista foi feita no final de 2010] com 80% de aprovação", disse Hobsbawn, em entrevista ao jornal inglês The Guardian, republicada hoje (25) pelo jornal Folha de S. Paulo.

Aos 93 anos, Hobsbawm publica um novo livro e diz que , hoje, do ponto de vista ideológico, se sente mais em casa na América Latina. " É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem -a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo", disse.

Leia a entrevista:

'Sinto-me mais em casa na América Latina', diz Hobsbawm

Hampstead Heath, em Londres, orgulha-se do seu papel na história do marxismo. Era lá que, aos domingos, Karl Marx subia o Parliament Hill com sua família. Nos dias de semana, Marx se juntava a Friedrich Engels para caminhar pelo parque. A ambição marxista permanece viva na casa de Eric Hobsbawm, numa rua lateral que sai do parque. Na última vez em que o entrevistei, em 2002, ele enfrentava outro ataque da mídia pela ligação com o Partido Comunista.

As coisas mudaram: a crise global transformou os termos da discussão, e a crítica marxista da instabilidade do capitalismo ressurgiu. Parecia não haver momento melhor para Hobsbawm reunir seus ensaios mais famosos sobre Marx em um volume, com material sobre o marxismo visto à luz do crash.

Guardian - Há no âmago desse livro um senso de algo que provou seu valor? De que, mesmo que as propostas de Marx possam não mais ser relevantes, ele fez as perguntas certas sobre o capitalismo?

Eric Hobsbawm - Com certeza. A redescoberta de Marx está acontecendo porque ele previu muito mais sobre o mundo moderno do que qualquer outra pessoa em 1848. É isso, acredito, o que atrai a atenção de vários observadores novos -atenção essa que, paradoxalmente, surge antes entre empresários e comentaristas de negócios, não entre a esquerda.

O sr. tem a impressão de que o que pessoas como George Soros apreciam em parte em Marx é o modo brilhante com que ele descreve a energia e o potencial do capitalismo?

Acho que é o fato de ele ter previsto a globalização que os impressionou. Mas acredito que os mais inteligentes também enxergaram uma teoria que previa o risco de crises. A teoria oficial do período, fim dos anos 90, descartava essa possibilidade.

E o sr. acha que o interesse renovado por Marx também foi beneficiado pelo fim dos Estados marxistas-leninistas?

Com a queda da União Soviética, os capitalistas deixaram de sentir medo, e desse modo tanto eles quanto nós pudemos analisar o problema de maneira muito mais equilibrada. Mas foi mais a instabilidade da economia globalizada neoliberal que, creio, começou a ficar tão evidente no fim do século.

O sr. não está surpreso com o fato de a esquerda marxista e a social-democrata não terem explorado politicamente a crise dos últimos anos?

Sim, é claro. Na realidade, uma das coisas que procuro mostrar no livro é que a crise do marxismo não é só do seu braço revolucionário, mas também do seu ramal social-democrata. O reformismo social-democrático era, essencialmente, a classe trabalhadora pressionando seus Estados-nações. Com a globalização, a capacidade dos Estados de reagir a essa pressão se reduziu concretamente. Assim, a esquerda recuou.

O sr. acha que o problema da esquerda está em parte no fim da classe trabalhadora consciente e identificável?

Historicamente falando, isso é verdade. O que ainda é possível é que a classe trabalhadora forme o esqueleto de movimentos mais amplos de transformação social.

Um bom exemplo é o Brasil, que tem um caso clássico de partido trabalhista nos moldes do fim do século 19 - baseado numa aliança de sindicatos, trabalhadores, pobres em geral, intelectuais e tipos diversos de esquerda- que gerou uma coalizão governista notável. E não se pode dizer que não seja bem-sucedida, após oito anos de governo e um presidente em final de mandato [a entrevista foi feita no final de 2010] com 80% de aprovação.

Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem -a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.

O título de seu novo livro é "How to Change the World". No final, o sr. escreve: "A substituição do capitalismo ainda me parece possível". A esperança continua forte?

Não existe esperança reduzida hoje. O que digo agora é que os problemas do século 21 exigem soluções com as quais nem o mercado puro nem a democracia liberal pura conseguem lidar adequadamente. É preciso calcular uma combinação diferente. Que nome será dado a isso não sei. Mas é bem capaz de não ser mais capitalismo, não no sentido em que o conhecemos aqui e nos EUA. 
Fonte: PT