Blog Olhos do Sertão
Enquanto a maioria da mídia brasileira finge que não está
vendo, o mundo está em profunda transformação geopolítica e monetária. O que
parecia distante está cada vez mais próximo: o declínio da hegemonia do dólar
americano. E nesse cenário, os BRICS surgem como protagonistas de um novo tempo,
onde o Sul Global exige respeito, soberania e voz própria.
É por isso que Trump, os banqueiros de Wall Street e os
falcões do Pentágono estão em pânico. Porque sabem que, se o mundo parar de
usar o dólar como moeda internacional, os Estados Unidos perderão o maior
privilégio da história econômica moderna: o poder de viver de déficit
financiado pelo resto do planeta.
Como os EUA
transformaram o dólar em arma
A hegemonia do dólar não é obra do acaso. Ela começou a ser
construída com o Acordo de Bretton Woods, um tratado internacional firmado em 1944,
nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial.
O Acordo de Bretton Woods estabeleceu as bases do sistema
monetário internacional do pós-guerra. Nele, os países concordaram que o dólar
americano seria a principal moeda de reserva mundial, atrelada ao ouro (35
dólares por onça), enquanto as demais moedas teriam taxas de câmbio fixas em
relação ao dólar. Foi a partir desse sistema que nasceram instituições como o FMI
(Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial, ambas com sede e controle
direto dos EUA.
Esse arranjo deu aos Estados Unidos o poder de emissão da
moeda global e com ele, influência econômica e política sobre o mundo inteiro.
Contudo, na década de 1970, os EUA enfrentaram inflação, déficits e perda de reservas em ouro. Diante disso, em 1971, o presidente Richard Nixon suspendeu a conversão do dólar em ouro, encerrando o padrão-ouro e inaugurando a era do dólar fiduciário: uma moeda sem lastro, mas com valor imposto por sua dominância no comércio internacional.
O reforço da hegemonia:
o pacto dos petrodólares
Para garantir a supremacia do dólar mesmo sem o ouro, os EUA
fizeram um acordo estratégico com a Arábia Saudita, o maior produtor de
petróleo da época. O pacto era simples:
A Arábia venderia petróleo exclusivamente em dólar, e os EUA
garantiriam proteção militar e apoio político irrestrito.
Nascia assim o petrodólar, sistema que obrigou todos os
países a manterem reservas em dólar para comprar energia. Isso inflou artificialmente
a demanda global pela moeda americana, consolidando o dólar como símbolo de
poder e ferramenta de controle geoeconômico.
Os BRICS desafiam a
ordem unipolar
Agora, mais de 50 anos depois, essa engrenagem começa a
falhar. China, Rússia, Brasil, Índia e África do Sul, unidos sob a sigla BRICS e com novos integrantes como Irã, Egito e
Etiópia estão abrindo novos caminhos:
Comércio bilateral em moedas locais, como o acordo
Brasil-China em reais e yuans;
Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) para financiar projetos
sem depender do dólar;
Proposta de moeda comum com lastro em commodities, como ouro,
petróleo, grãos ou metais.
Esse movimento chama-se desdolarização e é um dos maiores desafios à dominação
americana desde a Guerra Fria.
Trump e o medo da
desdolarização
A resposta de Donald Trump a esse processo escancara o
desespero. Recentemente, ele declarou:
“Qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas
do BRICS será cobrado com uma tarifa adicional de 10%.”
Essa ameaça não é apenas econômica é geopolítica. Ela mostra que os EUA,
incapazes de conter o avanço dos BRICS por vias diplomáticas ou comerciais,
partem agora para a retaliação tarifária e intimidação política. O problema é
que atingem até aliados históricos, como Japão e Coreia do Sul, que já começam
a questionar seu alinhamento cego com Washington.
O que está em jogo: três
cenários possíveis
1.
Multipolaridade
ordenada;
2.
O
dólar perde espaço, mas divide protagonismo com outras moedas (yuan, euro,
real, rúpia), num mundo multipolar, mais democrático e regionalizado.
3.
Colapso
do dólar;
4.
Uma
crise sistêmica (financeira ou militar) acelera o abandono do dólar, gerando instabilidade
nos EUA, desvalorização do papel-moeda e impacto global;
5.
Reação
imperial;
6.
Os
EUA intensificam sanções, sabotagens, golpes e guerras híbridas para tentar
manter sua supremacia, como já se viu no Oriente Médio, na Venezuela e na
Ucrânia.
E o Brasil, onde entra nisso?
O Brasil está no centro dessa disputa histórica. Ao integrar
os BRICS, ao defender o multilateralismo e ao usar moedas locais no comércio
internacional, o Brasil rompe com a submissão ao dólar e assume uma posição
estratégica no redesenho do mundo.
Mas isso exige coragem política, soberania econômica e
projeto nacional algo que os governos progressistas ensaiam, mas enfrentam resistências
internas e sabotagens externas.
O povo precisa entender
essa batalha
A desdolarização não é só assunto de economistas. Ela define
o futuro dos nossos salários, dos nossos alimentos, das nossas escolas e da
nossa soberania. Enquanto os Estados Unidos impõem tarifas e espalham o medo,
os BRICS oferecem uma alternativa de mundo baseada na cooperação, não na
dominação.
Como sempre digo: não há neutralidade na luta entre hegemonia
e soberania. Que o povo brasileiro saiba em que lado da história quer estar. E
que compreenda: enquanto dependermos do dólar, viveremos sob a chantagem do
império.
Blog Olhos do Sertão
Por uma política popular, soberana e com os pés no chão do
Brasil.
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