Introdução
Em recente declaração, o chanceler chinês deixou claro: Pequim não deseja ver a
Rússia sucumbir no conflito no Leste Europeu. Mais do que solidariedade
histórica, o temor é que, uma vez triunfante, Estados Unidos e OTAN voltem
todas as suas forças contra a China. Além disso, o representante chinês acusou
o Ocidente de hipocrisia: se a China estivesse fornecendo abertamente apoio
financeiro e militar à Rússia, Moscou já teria vencido há muito tempo. Este
artigo analisa as motivações estratégicas dessa posição e amplia o olhar para o
caso do Irã, cujo eventual colapso no Oriente Médio também é visto por Pequim e
Moscou como um prelúdio de riscos diretos a eles próprios.
1. O contexto da
declaração do chanceler
Guerra Rússia‑Ucrânia em curso: desde 2022, o front oriental
tem alternado avanços e recuos, mas a Rússia mantém pressão constante sobre o
Donbass e regiões vizinhas.
Relações sino‑russo: aprofundadas nos últimos anos, com
acordos energéticos bilionários, exercícios militares conjuntos e discurso de
“parceria sem limites”.
Extensão ao Oriente Médio: China e Rússia observam com
atenção a guerra por procuração contra o Irã, apoiado por Teerã via Ansarollah
no Iêmen, Hizbollah no Líbano e milícias pró‑xiitas no Iraque e na Síria.
2. Por que a China e a
Rússia não desejam ver o Irã derrotado
Equilíbrio multipolar
Assim como a Rússia serve de contrapeso na Europa, o Irã é
barreira à expansão da influência americana e israelense no Oriente Médio. Sua
queda consolidaria o domínio ocidental na região.
Corredores energéticos e econômicos
Infraestruturas de gás e petróleo que conectam o Golfo
Pérsico ao Cáspio e à Ásia Central dependem de rotas que passam por territórios
sob controle iraniano ou de seus aliados. A instabilidade interromperia
projetos da Nova Rota da Seda
Acesso a portos estratégicos
O porto de Chabahar (Irã), parceiro de operação da Índia mas
sob supervisão e segurança compartilhada com Rússia e China, é ponto-chave para
escoamento de mercadorias sem passar pelo Estreito de Ormuz, vital para
diversificar rotas comerciais longe do controle ocidental.
Experiência de guerra por procuração
No caso do Irã, um vácuo de poder geraria um confronto direto
entre EUA/OTAN e milícias aliadas a Teerã, testando táticas que, em seguida,
poderiam ser empregadas no Mar da China Meridional ou no Extremo Oriente russo.
3. A crítica à
“hipocrisia ocidental”
Financiamento indireto e sanções seletivas
Enquanto acusam a China de “alimentar a máquina de guerra
russa” ou “financiar mísseis iranianos”, EUA e União Europeia mantêm acordos
bilionários de venda de armas aos aliados do Golfo. E muitos desses armamentos
acabam em mãos de combatentes anti‑xiitas.
Duplo padrão em crises globais
Defendem “ordem baseada em regras” ao condenar o Irã e a
Rússia, mas apoiaram intervenções no Iraque (2003), na Líbia (2011) e na Síria
(2015), quando seus interesses estratégicos assim exigiram.
Exemplo prático
Jornais ocidentais culpam a cooperação militar sino‑russa e
iraniana pela desestabilização regional, mas silenciam sobre o que chamam de
“venda legítima” de submarinos e aviões de combate a Arábia Saudita e Emirados
Árabes, que, por sua vez, apoiam grupos rebeldes com táticas semelhantes às
empregadas contra Teerã.
4. O receio de ser o
“próximo alvo”
Lógica da expansão
Para Pequim e Moscou, derrotar primeiro Teerã daria ao
Ocidente o ímpeto e o experimento operacional para replicar embargos e
operações militares navais contra a China no Pacífico e contra a Rússia no
Ártico.
Precedente histórico
A gestão pós‑2003 do Iraque sob tutela multinacional é vista
como modelo de “reconstrução” sob visão ocidental — um roteiro que poderia ser
aplicado ao Xinjiang ou à Sibéria oriental, caso a narrativa de “ameaça” seja
bem-sucedida.
Conclusão: cenários e
desafios
A declaração do chanceler chinês, estendida à análise do Irã,
deixa claro que, para Pequim e Moscou, os conflitos no Leste Europeu e no
Oriente Médio são capítulos interligados de uma disputa maior pela forma da
ordem internacional. A queda de qualquer aliado estratégico, seja Moscou ou
Teerã, seria um passo decisivo para fortalecer o domínio ocidental e abrir
caminho a pressões diretas sobre a China.
Para evitar esse desfecho, China e Rússia reforçam vínculos militares, energéticos
e diplomáticos com Teerã, formando um bloco capaz de resistir a sanções e
intervenções e de projetar uma multipolaridade real, na qual nenhum país
enfrenta sozinho o poder concentrado do Ocidente.
E você?
Como interpreta essa interdependência estratégica entre
Rússia, China e Irã? A derrota de Teerã seria mesmo o prelúdio de ataques
diretos a Pequim e Moscou, ou há limites geográficos e políticos a essa
escalada? Participe nos comentários e ajude a iluminar esse debate crucial.
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