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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Os Bárbaros à Porta: Como a Desdolarização Pode Desintegrar o Império Americano


 “O velho está morrendo, e o novo não pode nascer. Nesse interregno, surgem os monstros.”
— Antonio Gramsci

Roma e os EUA: Dois Impérios no Espelho da História

A queda do Império Romano do Ocidente não foi um evento súbito. Foi um colapso gradual, moldado por décadas de decadência interna e pressões externas. Os chamados “bárbaros”, visigodos, vândalos, hunos e outros, não foram os únicos responsáveis, mas atuaram como catalisadores de um processo já em curso.

Hoje, vemos sinais semelhantes de declínio em outro império: os Estados Unidos. Se Roma caiu com o saque de suas cidades e o colapso de sua moeda, os EUA podem enfrentar seu próprio colapso simbólico e geopolítico através da desdolarização, um movimento crescente para abandonar o dólar como moeda dominante no comércio internacional.

1. Por que Roma caiu?

Fatores internos:

Crise econômica e inflação: A moeda romana, o denário, perdeu valor após a redução do teor de prata.

Corrupção e má administração: O império inchou com uma burocracia cara e ineficiente.

Divisão política: A separação entre o Oriente (Constantinopla) e o Ocidente (Roma) minou a unidade.

Declínio cívico: O espírito coletivo romano, sua ética pública e identidade comum, se enfraqueceu.

Fatores externos:

Migrações e conflitos: Povos germânicos e hunos pressionaram as fronteiras romanas.

Militarização terceirizada: Roma passou a depender de soldados bárbaros (foederati) que, mais tarde, se voltaram contra ela.

Saques históricos: Em 410 (visigodos) e 455 (vândalos), Roma foi saqueada e  marcos do fim simbólico de sua grandeza.

2. O que é desdolarização e por que ela ameaça os EUA?

A desdolarização é o processo pelo qual países deixam de usar o dólar como moeda de referência para o comércio, especialmente de commodities como o petróleo, além de reduzirem suas reservas cambiais em dólar.

Esse movimento ameaça o coração do poder americano: o petrodólar e a hegemonia da moeda como padrão global. E não se trata de teoria: está em curso.

Sinais claros da desdolarização:

BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) avançam em acordos comerciais com moedas locais.

China e Rússia negociam petróleo em yuan e rublos.

Irã, Venezuela e Arábia Saudita buscam fugir do sistema SWIFT (dominando pelos EUA).

O Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS surge como alternativa ao FMI e Banco Mundial.

3. O que a desdolarização pode causar nos EUA?

a) Colapso da demanda por dólares

Sem a necessidade global de dólares, o valor da moeda americana pode despencar, tornando o financiamento do déficit insustentável.

b) Inflação estrutural

Os EUA poderão enfrentar inflação crônica, semelhante à que afetou impérios em decadência.

c) Perda de poder geopolítico

O dólar permite sanções, controle sobre o comércio e domínio dos fluxos financeiros globais. Sem ele, o poder coercitivo dos EUA enfraquece.

d) Crise de legitimidade

Com a ascensão da China, Índia e de coalizões como os BRICS, aliados tradicionais dos EUA começam a buscar alternativas.

4. Roma x EUA: Espelhos da História

Elemento

Império Romano

Império Estadunidense

Moeda enfraquecida

Denário desvalorizado

Dólar ameaçado pela desdolarização

Exércitos terceirizados

Bárbaros como foederati

OTAN, mercenários, PMCs (Empresas militares privadas)

Invasões externas

Visigodos, vândalos, hunos

Pressão econômica e tecnológica (China, BRICS)

Corrupção e burocracia

Administração decadente

Paralisação política e crise institucional

Cultura em crise

Esgotamento do ethos romano

Polarização extrema, crise de valores

Queda simbólica

Saques de Roma (410, 455)

Fim do petrodólar? Crise sistêmica?

 

5. Conclusão: O novo bárbaro fala mandarim?

A queda de impérios não acontece da noite para o dia. É sempre um processo, por vezes imperceptível, até que se torne irreversível. O Império Americano, fundado sobre a supremacia do dólar, do petróleo e da força militar, encontra-se diante de um movimento tectônico silencioso.

A desdolarização não é uma simples mudança financeira, ela é um sintoma de um mundo que não gira mais em torno de Washington. Assim como os bárbaros que um dia marcharam sobre Roma, hoje temos coalizões, moedas alternativas e novos polos de poder econômico desafiando a velha ordem.

A história não se repete, mas rima.

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