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sexta-feira, 11 de julho de 2025

Soberania em disputa: o falso patriotismo bolsonarismo desmascarado e a bandeira recolocada nas mãos do povo

Soberania em disputa: o falso patriotismo desmascarado e a bandeira recolocada nas mãos do povo

1. Quando o imperialismo expõe a farsa: o tarifaço de Trump e a traição de Bolsonaro

A recente taxação imposta por Donald Trump contra produtos brasileiros escancarou o que já estava evidente para quem analisa a política com seriedade: o bolsonarismo jamais foi patriótico ou nacionalista. Pior que isso, como bem denunciou o empresário brasileiro Pih, foi cúmplice ativo de uma política externa que fragilizou o Brasil, subordinando sua soberania aos interesses da extrema-direita norte-americana.

“Trump só detém o poder de interferir na política comercial por causa dos republicanos e do Congresso”, afirmou Hillary Clinton, acrescentando que o ex-presidente dos EUA fez isso para “proteger um amigo corrupto”, referência explícita a Jair Bolsonaro.

E é isso mesmo: a extrema-direita brasileira, travestida de patriota, entregou o país como moeda de troca na disputa geopolítica global. Colocou bonés com a sigla MAGA, bateu continência para bandeiras estrangeiras, desmontou a indústria nacional, sabotou os BRICS e transformou a diplomacia brasileira em apêndice do trumpismo.

2. Soberania: a palavra que o bolsonarismo não ousa dizer

O mais simbólico é o que o bolsonarismo nunca disse. Por que, mesmo aos brados de “Brasil acima de tudo”, nunca pronunciaram a palavra soberania?

A resposta é clara: falar em soberania exige compromisso com o povo e o território. Exige pensar o país para além do mercado. Exige defender o que é nosso. Mas o projeto bolsonarista nunca teve essa intenção. Pelo contrário: entregou o pré-sal, enfraqueceu a Embraer, tentou entregar a Base de Alcântara, desmontou a ciência nacional, perseguiu universidades e abriu as portas da Amazônia para interesses estrangeiros.

Como diria Pierre Bourdieu, o poder simbólico atua também por silenciamento. O que não se diz é tão revelador quanto o que se grita. E o silêncio sobre a soberania nacional é a prova do crime de traição política à pátria.

3. O esvaziamento simbólico: da bandeira ao vazio

O cientista político Carlos Melo, do Insper, sintetizou esse momento com clareza:

“A tarifa de Trump deu a Lula a bandeira da soberania e tirou de Bolsonaro o discurso patriota.”

É isso. Lula, antes acusado de “comunista” e “inimigo da pátria” pela retórica bolsonarista, emerge como o verdadeiro defensor dos interesses nacionais. Sua reação ao tarifaço foi firme, altiva e clara: o Brasil não aceitará ser humilhado. O país precisa se industrializar, proteger seus agricultores, fortalecer suas parcerias com o Sul Global e preservar sua autonomia diante das potências.

Já o bolsonarismo, agora desmascarado, se refugia na dissimulação e no silêncio. A bandeira verde-amarela,  sequestrada por um projeto de ódio e violência simbólica, retorna lentamente às mãos do povo, dos sindicatos, dos professores, dos movimentos sociais e das periferias.

4. Nacionalismo, patriotismo e soberania: resgatar o tripé para um novo projeto de país

Diante dessa conjuntura, é urgente que o campo progressista resgate e atualize o tripé que pode sustentar um projeto de nação popular e emancipadora:

Nacionalismo popular e anticolonial: inspirado em pensadores como Moniz Bandeira e Darcy Ribeiro, capaz de articular o Brasil como sujeito geopolítico e cultural.

Patriotismo democrático e inclusivo: lealdade ao povo, não à elite; às favelas e aos quilombos, não aos bancos.

Soberania plena: econômica, alimentar, energética, científica, territorial e cultural — como defende Samuel Pinheiro Guimarães.

5. Conclusão: soberania é o nome do Brasil que queremos

O tarifaço de Trump não foi apenas um episódio econômico. Foi um divisor simbólico de águas. Expôs a farsa de um patriotismo de fachada e recolocou no centro do debate a palavra que constrói nações: soberania.

Chegou a hora de dizer com clareza:

Sem soberania, não há pátria. Sem povo no centro, não há Brasil. Sem coragem, não haverá futuro.

Referências

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A formação do império americano. Civilização Brasileira, 2005.

GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos anos de periferia. L&PM, 1999.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. Companhia das Letras, 1995.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Bertrand Brasil, 1989.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo. Cortez, 2006.

Valor Econômico, 11/07/2025.

Declarações públicas de Hillary Clinton e Carlos Melo (2025).

 


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