Soberania em disputa: o falso patriotismo
desmascarado e a bandeira recolocada nas mãos do povo
1. Quando o
imperialismo expõe a farsa: o tarifaço de Trump e a traição de Bolsonaro
A recente taxação imposta por Donald Trump contra
produtos brasileiros escancarou o que já estava evidente para quem analisa a
política com seriedade: o bolsonarismo jamais foi patriótico ou nacionalista.
Pior que isso, como bem denunciou o empresário brasileiro Pih, foi cúmplice
ativo de uma política externa que fragilizou o Brasil, subordinando sua
soberania aos interesses da extrema-direita norte-americana.
“Trump só detém o poder de interferir na política
comercial por causa dos republicanos e do Congresso”, afirmou Hillary Clinton,
acrescentando que o ex-presidente dos EUA fez isso para “proteger um amigo
corrupto”, referência explícita a Jair Bolsonaro.
E é isso mesmo: a extrema-direita brasileira, travestida de patriota, entregou o país como moeda de troca na disputa geopolítica global. Colocou bonés com a sigla MAGA, bateu continência para bandeiras estrangeiras, desmontou a indústria nacional, sabotou os BRICS e transformou a diplomacia brasileira em apêndice do trumpismo.
2. Soberania:
a palavra que o bolsonarismo não ousa dizer
O mais simbólico é o que o bolsonarismo nunca disse.
Por que, mesmo aos brados de “Brasil acima de tudo”, nunca pronunciaram a
palavra soberania?
A resposta é clara: falar em soberania exige
compromisso com o povo e o território. Exige pensar o país para além do
mercado. Exige defender o que é nosso. Mas o projeto bolsonarista nunca teve
essa intenção. Pelo contrário: entregou o pré-sal, enfraqueceu a Embraer,
tentou entregar a Base de Alcântara, desmontou a ciência nacional, perseguiu
universidades e abriu as portas da Amazônia para interesses estrangeiros.
Como diria Pierre Bourdieu, o poder simbólico atua
também por silenciamento. O que não se diz é tão revelador quanto o que se
grita. E o silêncio sobre a soberania nacional é a prova do crime de traição
política à pátria.
3. O esvaziamento
simbólico: da bandeira ao vazio
O cientista político Carlos Melo, do Insper,
sintetizou esse momento com clareza:
“A tarifa de Trump deu a Lula a bandeira da soberania
e tirou de Bolsonaro o discurso patriota.”
É isso. Lula, antes acusado de “comunista” e “inimigo
da pátria” pela retórica bolsonarista, emerge como o verdadeiro defensor dos
interesses nacionais. Sua reação ao tarifaço foi firme, altiva e clara: o
Brasil não aceitará ser humilhado. O país precisa se industrializar, proteger
seus agricultores, fortalecer suas parcerias com o Sul Global e preservar sua
autonomia diante das potências.
Já o bolsonarismo, agora desmascarado, se refugia na
dissimulação e no silêncio. A bandeira verde-amarela, sequestrada por um projeto de ódio e violência
simbólica, retorna lentamente às mãos do povo, dos sindicatos, dos
professores, dos movimentos sociais e das periferias.
4.
Nacionalismo, patriotismo e soberania: resgatar o tripé para um novo projeto de
país
Diante dessa conjuntura, é urgente que o campo
progressista resgate e atualize o tripé que pode sustentar um projeto de nação
popular e emancipadora:
Nacionalismo popular e anticolonial: inspirado em
pensadores como Moniz Bandeira e Darcy Ribeiro, capaz de articular o Brasil
como sujeito geopolítico e cultural.
Patriotismo democrático e inclusivo: lealdade ao
povo, não à elite; às favelas e aos quilombos, não aos bancos.
Soberania plena: econômica, alimentar, energética,
científica, territorial e cultural — como defende Samuel Pinheiro Guimarães.
5. Conclusão:
soberania é o nome do Brasil que queremos
O tarifaço de Trump não foi apenas um episódio
econômico. Foi um divisor simbólico de águas. Expôs a farsa de um patriotismo
de fachada e recolocou no centro do debate a palavra que constrói nações: soberania.
Chegou a hora de dizer com clareza:
Sem soberania, não há pátria. Sem povo no centro, não
há Brasil. Sem coragem, não haverá futuro.
Referências
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A formação do império
americano. Civilização Brasileira, 2005.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos anos de
periferia. L&PM, 1999.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. Companhia das
Letras, 1995.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Bertrand Brasil,
1989.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo.
Cortez, 2006.
Valor Econômico, 11/07/2025.
Declarações públicas de Hillary Clinton e Carlos Melo
(2025).
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