China,
Irã e Rússia vêm fortalecendo suas alianças, apesar de divergências históricas
e ideológicas. Esse fortalecimento não é fruto apenas de afinidades
estratégicas, mas, sobretudo, da necessidade comum de resistir ao cerco
crescente imposto pelos Estados Unidos e seus países satélites.
Os
EUA não pretendem cessar sua ofensiva geopolítica contra China, Rússia e Irã.
Pelo contrário, intensificam ações de contenção, sabotagem, sanções e estímulo
a conflitos em zonas estratégicas. Hoje, a Rússia está atolada em uma guerra de
atrito com a OTAN em solo ucraniano; o Irã sustenta conflitos diretos e
indiretos no Oriente Médio; e a China, cada vez mais central no mundo
multipolar, é confrontada principalmente na questão de Taiwan e no cerco do
Indo-Pacífico.
O papel
da China é singular. Sua atuação baseia-se em uma coesão positiva, fundamentada
em infraestrutura, investimentos e diplomacia, enquanto os EUA operam com uma coesão
negativa, ancorada em sanções, pressão militar e desestabilização política.
O
Irã, por sua vez, demonstrou capacidade de sustentar, com seus próprios
recursos, uma guerra de 12 dias. No entanto, essa resiliência não seria
possível sem o apoio logístico, tecnológico e estratégico da China — que,
aliás, continua a reabastecer o país com mísseis e sistemas de defesa aérea. A
Rússia também anunciou estar pronta para cooperar com o Irã no desenvolvimento
de tecnologia nuclear.
Israel,
por outro lado, articula com os EUA novos ataques no Oriente Médio, o que faz
parte de um desenho mais amplo: uma divisão de tarefas geoestratégica. Europa e
OTAN lidam diretamente com a Rússia; os EUA, com China e Irã, usando para isso
seus próprios meios e seus aliados (como Israel e Japão). Essa segmentação
permite aos EUA manter o foco no objetivo central: conter e, se possível,
subordinar seus adversários estratégicos.
Muitos
analistas cometem o erro de analisar esses conflitos de forma isolada. No
entanto, eles fazem parte de um tabuleiro único, de uma estratégia coerente e
articulada: a manutenção da primazia global estadunidense. Esse é o eixo que
liga todas as ações, da Ucrânia ao Mar da China Meridional, do Irã ao Brasil.
O
caso do Irã não se trata, essencialmente, de seu programa nuclear. O verdadeiro
objetivo é mudança de regime. O mesmo vale para outros países que resistem à
lógica imperial: Rússia, China, Venezuela, Cuba e, em diferentes escalas, até o
Brasil.
Os
EUA pretendem instalar governos serviçais, moldados segundo seus interesses,
transformando países soberanos em vassalos modernos, à semelhança das antigas
províncias do Império Romano. Querem conter China, Rússia e Irã, mas, acima de
tudo, desejam controlá-los política, econômica e militarmente.
O que
estamos presenciando é uma guerra global fragmentada:
EUA x
Rússia, via OTAN e Ucrânia;
EUA x
Irã, via Israel e sanções;
EUA x
China, via Taiwan e cercos comerciais e militares.
Essa
fragmentação pode escalar para confrontos diretos. O risco aumenta à medida que
os EUA pressionam por bombardeios a instalações nucleares iranianas ou avançam
com a OTAN em território ucraniano. Mas há limites.
Os
EUA enfrentam restrições internas e externas: não conseguem travar guerras
simultâneas em três frentes, por questões logísticas, políticas, industriais e
até psicológicas. Por isso, organizam um sequenciamento estratégico das guerras
e terceirizam tarefas a seus aliados. A Europa lida com a Rússia. Israel
enfrenta o Irã. Os EUA reservam sua força para a contenção da China.
O
mundo caminha para um possível conflito prolongado, de larga escala e grande
atrito. Os arsenais estão sendo reconstituídos. O rearmamento é visível. E
ainda que ninguém deva subestimar o poderio dos EUA, tampouco se deve ignorar o
grau de integração e resistência construída por China, Rússia e Irã.
Estamos, talvez, diante dos prenúncios de um novo ciclo global de confrontos — com o mundo dividido entre potências que lutam por manter um sistema unipolar, e forças que constroem alternativas para um mundo multipolar.
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