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sexta-feira, 18 de julho de 2025

A Guerra frontal e o multipolarismo em disputa


China, Irã e Rússia vêm fortalecendo suas alianças, apesar de divergências históricas e ideológicas. Esse fortalecimento não é fruto apenas de afinidades estratégicas, mas, sobretudo, da necessidade comum de resistir ao cerco crescente imposto pelos Estados Unidos e seus países satélites.

Os EUA não pretendem cessar sua ofensiva geopolítica contra China, Rússia e Irã. Pelo contrário, intensificam ações de contenção, sabotagem, sanções e estímulo a conflitos em zonas estratégicas. Hoje, a Rússia está atolada em uma guerra de atrito com a OTAN em solo ucraniano; o Irã sustenta conflitos diretos e indiretos no Oriente Médio; e a China, cada vez mais central no mundo multipolar, é confrontada principalmente na questão de Taiwan e no cerco do Indo-Pacífico.


O papel da China é singular. Sua atuação baseia-se em uma coesão positiva, fundamentada em infraestrutura, investimentos e diplomacia, enquanto os EUA operam com uma coesão negativa, ancorada em sanções, pressão militar e desestabilização política.

O Irã, por sua vez, demonstrou capacidade de sustentar, com seus próprios recursos, uma guerra de 12 dias. No entanto, essa resiliência não seria possível sem o apoio logístico, tecnológico e estratégico da China — que, aliás, continua a reabastecer o país com mísseis e sistemas de defesa aérea. A Rússia também anunciou estar pronta para cooperar com o Irã no desenvolvimento de tecnologia nuclear.

Israel, por outro lado, articula com os EUA novos ataques no Oriente Médio, o que faz parte de um desenho mais amplo: uma divisão de tarefas geoestratégica. Europa e OTAN lidam diretamente com a Rússia; os EUA, com China e Irã, usando para isso seus próprios meios e seus aliados (como Israel e Japão). Essa segmentação permite aos EUA manter o foco no objetivo central: conter e, se possível, subordinar seus adversários estratégicos.

Muitos analistas cometem o erro de analisar esses conflitos de forma isolada. No entanto, eles fazem parte de um tabuleiro único, de uma estratégia coerente e articulada: a manutenção da primazia global estadunidense. Esse é o eixo que liga todas as ações, da Ucrânia ao Mar da China Meridional, do Irã ao Brasil.

O caso do Irã não se trata, essencialmente, de seu programa nuclear. O verdadeiro objetivo é mudança de regime. O mesmo vale para outros países que resistem à lógica imperial: Rússia, China, Venezuela, Cuba e, em diferentes escalas, até o Brasil.

Os EUA pretendem instalar governos serviçais, moldados segundo seus interesses, transformando países soberanos em vassalos modernos, à semelhança das antigas províncias do Império Romano. Querem conter China, Rússia e Irã, mas, acima de tudo, desejam controlá-los política, econômica e militarmente.

O que estamos presenciando é uma guerra global fragmentada:

EUA x Rússia, via OTAN e Ucrânia;

EUA x Irã, via Israel e sanções;

EUA x China, via Taiwan e cercos comerciais e militares.

Essa fragmentação pode escalar para confrontos diretos. O risco aumenta à medida que os EUA pressionam por bombardeios a instalações nucleares iranianas ou avançam com a OTAN em território ucraniano. Mas há limites.

Os EUA enfrentam restrições internas e externas: não conseguem travar guerras simultâneas em três frentes, por questões logísticas, políticas, industriais e até psicológicas. Por isso, organizam um sequenciamento estratégico das guerras e terceirizam tarefas a seus aliados. A Europa lida com a Rússia. Israel enfrenta o Irã. Os EUA reservam sua força para a contenção da China.

O mundo caminha para um possível conflito prolongado, de larga escala e grande atrito. Os arsenais estão sendo reconstituídos. O rearmamento é visível. E ainda que ninguém deva subestimar o poderio dos EUA, tampouco se deve ignorar o grau de integração e resistência construída por China, Rússia e Irã.

Estamos, talvez, diante dos prenúncios de um novo ciclo global de confrontos — com o mundo dividido entre potências que lutam por manter um sistema unipolar, e forças que constroem alternativas para um mundo multipolar.








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