Por Luís Moreira de Oliveira Filho
Blog Olhos do Sertão
A esquerda não é uma confraria de monges beneditinos. Ela não
é composta por santos, mas por sujeitos históricos concretos, com trajetórias,
desejos, falhas e lutas. É feita de gente. Gente que sofre, que estuda, que
trabalha, que acredita no poder da política como instrumento de transformação
coletiva.
Hoje fui votar na eleição interna do Partido dos
Trabalhadores (PT). Fiz questão de exercer meu direito e dever partidário.
Votei em nível nacional e estadual buscando renovação de quadros, pois acredito
que o partido precisa se reinventar constantemente. Já em Russas, onde havia
apenas uma chapa, votei em branco. Não por omissão, mas por coerência política:
o nome indicado não representa, a meu ver, os interesses populares e o projeto
de sociedade que defendo há décadas.
E é assim que sigo: com autonomia crítica e compromisso coletivo. Ao analisar as votações do PT no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas, vejo muito mais virtudes do que defeitos. Sim, o PT cometeu erros, como todos os partidos. Mas nenhum outro carrega as virtudes históricas que a esquerda construiu no Brasil. E isso está provado não em discursos, mas em políticas públicas reais que mudaram a vida do povo brasileiro.
Se há SUS, é porque houve luta da esquerda
Se seu filho hoje estuda numa universidade pública no
interior, se há uma UPA perto da sua casa, se você conseguiu comprar um imóvel
pelo Minha Casa Minha Vida, ou teve acesso a medicamentos pela Farmácia
Popular, saiba: essas são conquistas da esquerda. E mais: são conquistas que
meus votos ajudaram a construir.
Quando vejo o Piso Salarial Nacional dos Professores, o Bolsa
Família, o Pé-de-Meia, os IFs (Institutos Federais), o FIES, o ENEM, a Lei de
Cotas, o Luz para Todos, as Cisternas de Placas, os programas de apoio à
agricultura familiar e tantas outras iniciativas, eu não vejo apenas ações de
governo — vejo política com P maiúsculo. Vejo o povo entrando no orçamento.
Vejo dignidade entrando pela porta da frente do sertão.
E a direita? O que
construiu?
Me pergunto: quais políticas públicas foram criadas pela
direita ou pela extrema direita para beneficiar o povo nordestino nos últimos
anos? Falo de educação, saúde, segurança alimentar, água no semiárido. A
resposta é dura e triste: nenhuma.
O governo de Jair Bolsonaro, por exemplo, desmontou políticas
sociais históricas. Enfraqueceu o Bolsa Família, acabou com o Programa de
Cisternas, atacou universidades, desprezou a ciência, hostilizou professores e
tentou apagar tudo o que foi construído com muito suor, mobilização e
resistência popular.
Mas a memória é viva. E o voto consciente é também um ato de
resistência. Cada estudante que entra na universidade é uma resposta a quem nos
chamou de vagabundos. Cada cisterna no sertão é um grito contra quem quis ver
nosso povo morrendo de sede. Cada medicamento distribuído, cada casa
construída, cada jovem negro ou indígena que chega ao ensino superior, é a
vitória da política sobre o ódio.
Epílogo: unidade,
formação e compromisso partidário
Outrossim, torço para que o diretório do PT eleito, com o
presidente reeleito, aprenda com os erros do partido e com seus próprios erros.
É preciso acreditar na potencialidade do PT, nas suas virtudes, engajar jovens,
novas lideranças, e fazer com que a tese da Unidade Partidária, que foi a que
defendi com meu voto, seja efetivada de fato.
Desejo que as lideranças petistas em Russas, a vereadora e os
dois vereadores eleitos pelo nosso partido — vistam com orgulho as bandeiras
históricas do PT e lutem com firmeza para efetivar as políticas públicas e
programas sociais de nossos governos. Que defendam o governo na tribuna da
câmara, que fortaleçam nossas lutas históricas e coletivas, da moradia à
educação, da saúde à agricultura familiar.
A unidade partidária não pode ser apenas um discurso de
campanha ou uma tese para conquistar votos. Ela precisa ser uma prática
cotidiana — principalmente nas decisões coletivas e nas lutas em defesa do povo.
Por fim, mesmo não tendo sido a minha escolha, o presidente
reeleito terá o meu apoio e a minha colaboração. Acredito que precisamos
promover reuniões de formação política, para que os novos filiados entendam o
que é o Partido dos Trabalhadores, sua história de 45 anos de luta, e o que
significa ser militante de um partido com a grandeza e o legado do PT.
Coloco-me à disposição para encontros formativos, análise de
conjuntura política e rodas de diálogo. Reafirmo que, mesmo tendo discordado, não
dos nomes, mas das formas como foram construídas certas candidaturas a
prefeito(a), sempre estive do lado do povo: votei, militei, estive presente nos
anos 1990 e em todas as lutas do século XXI.
Conclusão: a felicidade
do voto que alimenta
Sou feliz por saber que minhas escolhas políticas levaram
pão, água, escola, saúde e dignidade para as famílias do meu sertão. Não me
movo por ilusão, mas por realidade concreta. O voto consciente é um voto que
alimenta, que ensina, que cura, que transforma.
E mesmo diante das dificuldades, dos ataques, da
criminalização da política, sigo acreditando que as virtudes da esquerda falam
mais alto que seus defeitos. Porque seus defeitos são humanos, mas suas
virtudes são históricas e coletivas — porque levaram pão e água para os nossos
sertões. Porque mataram não somente a fome de barriga, mas também a fome de
cabeça, com escolas em tempo integral, institutos federais e universidades
públicas para todos e todas.
Abraços a todos os companheiros e companheiras de Russas.
Desejo-lhes sucesso, coragem e coerência.
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