A canção Beatriz, fruto da parceria entre Chico Buarque e Edu Lobo, é uma verdadeira obra de arte. O acompanhamento de piano é magistral, com um arranjo magnífico, capaz de sustentar a delicadeza e a intensidade da composição.
A letra é fantástica, quase como uma história real, cheia de imagens e perguntas que nos colocam dentro da cena. Há um detalhe curioso e revelador da genialidade de Chico: a palavra céu é cantada na nota mais aguda, enquanto chão aparece na mais grave, algo que encantou e surpreendeu Edu Lobo pela coincidência expressiva.
Na voz de Milton Nascimento, a canção atinge um patamar ainda mais alto. Ele consegue transitar por modulações complexas sem ceder à tentação da desafinação, algo que, segundo o próprio Edu Lobo, é um desafio para grandes intérpretes pela dificuldade de execução.
O piano e o arranjo musical seguem impecáveis, mantendo o compasso e o tempo exatos imaginados por Edu, sem perder de vista a poesia da letra. Beatriz, que rima com atriz e com por um triz evoca a sensação de se aproximar da vida de alguém e arriscar-se a entrar no seu mundo.
A introdução do piano é um convite à contemplação, como se preparasse o ouvinte para as perguntas de Milton: “Será que é moça? Será que é triste? Será que é o contrário? Será que é pintura o rosto da atriz? Será que dança no sétimo céu?” e assim seguimos, embalados pela imaginação, acreditando que possa existir “um outro país”.
Beatriz é, enfim, uma lição de imaginação e sensibilidade, capaz de nos conduzir para dentro de um universo íntimo e encantado, onde a música e a poesia se fundem em beleza.
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