Hoje, Jair Bolsonaro recebeu uma medida cautelar do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi alvo de busca e apreensão, conduzido para prestar depoimento à Polícia Federal e obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Não me alegro, não celebro. Não me regozijo. Porque isso não é questão de vingança. É, sobretudo, questão de justiça.
Justiça para as mães dos desaparecidos políticos que morreram sem sequer
poder enterrar seus filhos, vítimas da ditadura civil-militar. Justiça diante
da humilhação institucionalizada, como o cartaz que Bolsonaro mantinha em seu
gabinete: “Só quem procura osso é cachorro”, uma resposta vil à Comissão
Nacional da Verdade (CNV), criada pela então presidenta Dilma Rousseff.
Justiça diante do escárnio com que tratou as mortes por COVID-19. Quando
questionado sobre os milhares de brasileiros mortos, respondeu com frieza: “E
daí? Eu não sou coveiro” e, não satisfeito, passou a imitar pessoas morrendo
sem ar, zombando da dor alheia.
Bolsonaro se orgulhava de dizer que sua especialidade era matar. Desejou
publicamente que Dilma “pegasse um câncer e morresse”. E, no dia da votação do
impeachment, prestou um voto simbólico e cruel “em nome de Ustra”, o notório
torturador do regime civil-militar. A cada frase, a cada gesto, feriu mães,
filhos, netos, feriu a história e o tecido da nossa humanidade.
Hoje, portanto, não é um dia de júbilo. É um dia de memória. De
lembrança das mulheres que perderam seus filhos na tortura, na violência
política, ou na pandemia, sem um enterro, sem um adeus. É por elas que a
justiça dos homens e das mulheres, e talvez também a justiça de Deus, começa a
se fazer presente.
Que a prisão de Bolsonaro, quando vier, não seja espetáculo, mas ato de dignificação das mães que nunca puderam enterrar seus mortos, seja na ditadura, seja no descaso genocida da pandemia. Que seja memória e reparação. Nunca revanche.
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