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sexta-feira, 11 de julho de 2025

“Não sou obrigado a comprar dólar”: Lula, Trump e a disputa pela soberania monetária e política


 “Quem tem a máquina de produzir dólar são os Estados Unidos, não nós.”
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Em recente entrevista ao Jornal Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração contundente sobre a dependência do Brasil e de muitos países do mundo , da moeda norte-americana. Questionando a hegemonia do dólar, Lula respondeu diretamente às medidas protecionistas de Donald Trump, que impôs tarifas a produtos brasileiros em um gesto interpretado como ataque direto ao protagonismo internacional do Brasil e ao fortalecimento dos BRICS.

Essa fala de Lula, "Não sou obrigado a comprar dólar", não é apenas uma provocação retórica. Ela representa uma inflexão geopolítica significativa que desafia o status quo da ordem financeira global e coloca o Brasil no centro de uma discussão estratégica sobre soberania monetária, equilíbrio de poder e reposicionamento diplomático.


1. O Dólar como Instrumento de Poder

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o dólar norte-americano tornou-se a moeda central do comércio internacional. O acordo de Bretton Woods, ainda que extinto formalmente na década de 1970, legou aos Estados Unidos um poder desproporcional: emitir a moeda usada em transações globais, inclusive entre países que não fazem parte direta de sua esfera de influência.

A crítica de Lula ecoa as vozes de diversas nações que questionam esse modelo. China, Rússia, Índia, Irã, África do Sul e até a União Europeia buscam alternativas para escapar da chantagem cambial, das sanções unilaterais e da instabilidade causada pelas crises internas do sistema financeiro norte-americano.

A hegemonia do dólar tornou-se, para muitos, uma forma moderna de colonialismo monetário  e é contra isso que se levanta a proposta de uma nova arquitetura financeira internacional, como defendida nos BRICS.

2. A Reação de Trump e a Guerra Comercial como Aposta Eleitoral

O tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros, como aço, alumínio e possivelmente veículos  foi lido por analistas como um movimento com múltiplas intenções:

Desestabilizar o "B" dos BRICS, enfraquecendo o bloco que propõe alternativas ao dólar;

Reduzir o protagonismo de Lula, que tem se colocado como líder internacional em temas como paz, meio ambiente e justiça social;

Elevar o tom nacionalista nos EUA para reforçar sua base eleitoral na corrida presidencial de 2024.

A resposta de Lula se deu não apenas no campo diplomático, mas também no campo simbólico: ao recusar a imposição da moeda americana como única via para o comércio internacional, ele reposiciona o Brasil como sujeito soberano e não como satélite da política externa de Washington.

3. O G20 como Espaço de Diálogo e Civilidade

A crítica de Lula à postura unilateralista de Trump se expressa com clareza:

“Se ele tivesse divergência, o correio seria, numa reunião do G20, ele levantar o problema. Vamos fazer uma discussão civilizada.”

Aqui, Lula não apenas reafirma a tradição diplomática brasileira, marcada pelo multilateralismo e pelo diálogo, como também denuncia o uso do poder econômico como ferramenta de coação.

Ao invés de buscar soluções coletivas em fóruns como o G20 ou a OMC, Trump opta por medidas autoritárias, típicas de uma estratégia de intimidação econômica. Lula, ao propor o debate, reivindica para o Brasil o direito de ser tratado com respeito e igualdade nas relações internacionais.

4. Teoria dos Jogos e a Estratégia Brasileira

No campo da teoria dos jogos, a ação de Trump pode ser entendida como uma jogada de dominância agressiva,  o “jogador imprevisível” que tenta forçar os demais a recuar. Lula, por sua vez, responde com uma estratégia cooperativa assertiva, que combina defesa da soberania com propostas de articulação global.

Essa dinâmica se expressa no reforço do papel dos BRICS, na defesa do comércio em moedas locais e na construção de uma nova ordem multipolar. Trata-se de uma disputa não apenas de tarifas ou moedas, mas de projetos de mundo.

5. Brasil Soberano: uma Proposta de Futuro

Ao afirmar que o povo brasileiro precisa ser respeitado, Lula articula uma narrativa que vai além da economia: ele convoca um projeto nacional de dignidade, justiça e autonomia. Essa postura toca em feridas históricas do país, desde a colonização até o neoliberalismo e propõe uma nova relação entre o Brasil e o mundo.

Não se trata de romper com o Ocidente, mas de rejeitar uma ordem mundial hierárquica, onde o centro dita regras que a periferia é obrigada a seguir. A fala de Lula, assim, é também um manifesto contra a submissão e a favor da emancipação.

Conclusão: Entre Dólares e Destinos

A frase “Não sou obrigado a comprar dólar” marca uma virada simbólica no discurso político brasileiro. Lula, ao colocar em xeque a lógica do dólar como única via para o comércio global, recoloca o Brasil como protagonista de um debate global por um mundo mais justo, multipolar e solidário.

Em tempos de crises e disputas geoeconômicas, o Brasil não pode se furtar ao debate sobre qual lugar quer ocupar no mundo. E o recado de Lula é claro: não aceitaremos ser colônia de nenhum império, financeiro ou militar. Queremos ser respeitados. E seremos.

Referências:

Entrevista de Lula ao Jornal Nacional (TV Globo), julho de 2025.

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