Nesta semana, algo raro e profundamente simbólico aconteceu na cena internacional: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupou todos os espaços discursivos, falou ao Brasil, ao Sul Global e ao mundo, articulando com inteligência singular uma narrativa de soberania, justiça, paz e humanidade. Em tempos de lideranças automatizadas por algoritmos da guerra e da economia excludente, Lula foi, talvez, seja o último humanista a discursar com firmeza sobre a vida, os direitos humanos, a justiça social e o meio ambiente
.A análise simbólica de suas aparições públicas,
entrevistas e pronunciamentos nos convida a ir além da superfície das palavras.
É preciso escutá-lo na “gramática do tempo” de Boaventura de Sousa Santos —
aquela que se opõe ao tempo curto do capital e da guerra, e que aposta num
futuro possível, construído na esperança e na luta coletiva. Nesse sentido,
Lula se inscreve como um intérprete privilegiado das Epistemologias do Sul,
desafiando a arrogância epistêmica do Norte global e trazendo à tona saberes
outros, comprometidos com a dignidade dos povos historicamente silenciados.
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, por
exemplo, Lula não apenas respondeu com altivez e clareza, mas utilizou o espaço
midiático como arena simbólica. Suas palavras, “Trump não foi eleito para ser imperador do
mundo”, não foram apenas resposta a uma pergunta, mas um gesto político: uma
afirmação de soberania que resiste ao imperialismo simbólico e geopolítico dos
EUA. Foi, como diria Pierre Bourdieu, um uso preciso do poder simbólico, que se
exerce ao ocupar legitimamente o espaço de fala e ao produzir sentidos que
desestabilizam a dominação.
Lula mostrou conhecimento histórico, visão
estratégica e profunda sabedoria política. Cada fala foi cuidadosamente
modulada para ressoar tanto entre os mais pobres do Brasil quanto entre líderes
e intelectuais internacionais. Poucos, hoje, conseguem falar em paz, justiça e
soberania com tanta nitidez em um mundo desorientado por guerras, fake news e
lideranças que se curvam às lógicas do capital financeiro e da indústria
bélica.
Ao defender a multipolaridade, o combate às
desigualdades, a proteção da Amazônia e dos povos originários, Lula torna-se
uma rara exceção entre os chefes de Estado. Sua fala é luz na penumbra da
geopolítica contemporânea. Não é exagero dizer que ele se apresenta, hoje, como
a mais poderosa voz política do Sul Global, talvez o último “monstro político”
no melhor sentido gramsciano: alguém que emerge no tempo das crises como
portador de uma nova linguagem possível.
Lula não falou apenas como presidente do Brasil. Ele
falou como cidadão do mundo. Suas palavras reverberam na ideia de Cidadania
Planetária — conceito ainda em construção, mas já pulsante em tempos de colapso
ambiental e crise civilizatória. Diante de uma ordem mundial que insiste na
repetição do passado colonial sob novas máscaras tecnológicas e militares, Lula
aparece como o corpo e a voz da resistência ética, do diálogo global e da
esperança realista.
Que saibamos escutar, interpretar e amplificar essa
voz. Porque talvez o mundo precise, mais do que nunca, de líderes que não
gritem ordens, mas digam verdades com coragem
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