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sábado, 19 de julho de 2025

De quintal a potência: o que está em jogo na escalada dos EUA contra o Brasil?

Tarifas, chantagens, pressão militar e guerra de narrativas: por que o Brasil se tornou alvo direto da ofensiva geopolítica dos EUA? Qual o papel de Donald Trump e do trumpismo nesse novo cenário? E como isso se conecta à luta contra o BRICS e à tentativa de frear a ascensão de uma potência do Sul Global?

O velho fantasma do “Quintal”

A ideia de que a América Latina e o Brasil seriam o “quintal dos Estados Unidos” não é nova. Ela remonta à Doutrina Monroe (1823), com o lema “A América para os americanos”, que na prática significava: “a América sob influência dos EUA”. Desde então, golpes, intervenções, bloqueios e chantagens passaram a fazer parte do repertório usado para manter essa hegemonia.

O Brasil, como maior país da região, sempre foi visto com especial atenção: grande demais para ignorar, estratégico demais para ser livre.

A nova guerra: tarifas, OTAN e guerra híbrida

O governo Trump deixou isso ainda mais evidente. Mesmo após anos de alinhamento ideológico com Bolsonaro, os EUA impuseram tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros no governo Lula, como aço e alumínio. E as ameaças não pararam por aí:

Pressões indiretas ligadas à presença da China no 5G.

Tentativas de isolar o Brasil de fóruns internacionais estratégicos.

Incentivo à adesão do Brasil como “parceiro global da OTAN”, em pleno Atlântico Sul.

Esses movimentos mostram que não se trata apenas de comércio ou diplomacia. Estamos diante de um projeto de contenção estratégica da soberania brasileira, agora sob novas formas.

Brasil como obstáculo à hegemonia: por que Trump dobrou a aposta?

A escalada contra o Brasil tem quatro objetivos centrais:

Frear a autonomia brasileira e sua liderança regional.

Desarticular o BRICS, bloco visto como ameaça direta à hegemonia global dos EUA.

Neutralizar o Brasil como potência emergente no Sul Global.

Controlar recursos estratégicos (pré-sal, biodiversidade, tecnologia).

Apesar da retórica agressiva, Trump (e seus aliados) sabiam que o Brasil, se bem posicionado, pode ser pivô de uma nova ordem multipolar e por isso precisa ser enfraquecido ou absorvido.

🌍 O BRICS no Alvo

O BRICS propõe um mundo mais equilibrado, com:

Comércio em moedas nacionais.

Instituições financeiras próprias.

Cooperação tecnológica e diplomática fora da órbita dos EUA.

O Brasil é peça-chave nesse tabuleiro. Ao tentar isolá-lo do BRICS, Trump procurou enfraquecer o bloco por dentro, usando afinidades ideológicas com Bolsonaro para isso.

Lula e o desafio da soberania

Com Lula de volta ao poder, o Brasil tenta reconstruir uma política externa autônoma e multilateral, aproximando-se novamente dos BRICS, do G77, da África e da América do Sul.

Mas isso tem um custo.

A pressão externa aumentará. A chantagem econômica virá sob a forma de “tarifas verdes”. As investidas ideológicas continuarão através da guerra híbrida, do lawfare e do controle narrativo.

Precisamos de outra gramática política

A situação exige mais do que respostas institucionais pontuais. Ela pede:

Uma nova forma de pensar a política nacional, com a soberania no centro.

Uma comunicação estratégica com o povo, que explique o que está em jogo.

Uma integração regional sólida e popular, que vá além das elites.

Uma leitura clara de que o imperialismo hoje opera em múltiplos níveis e todos estão ativos no Brasil.

Para onde vamos?

O Brasil será potência soberana ou continuará sendo tratado como quintal?
Vamos reforçar nossa integração ao Sul Global ou ceder à lógica da subordinação?
Vamos resistir às tentativas de “regime change” disfarçadas de preocupações democráticas?

A escalada está em curso. E a história nos chama mais uma vez a escolher entre submissão e soberania.

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