Tarifas, chantagens, pressão militar e guerra de narrativas: por que o Brasil se tornou alvo direto da ofensiva geopolítica dos EUA? Qual o papel de Donald Trump e do trumpismo nesse novo cenário? E como isso se conecta à luta contra o BRICS e à tentativa de frear a ascensão de uma potência do Sul Global?
O
velho fantasma do “Quintal”
A ideia
de que a América Latina e o Brasil seriam o “quintal dos Estados Unidos” não é
nova. Ela remonta à Doutrina Monroe (1823), com o lema “A América para os
americanos”, que na prática significava: “a América sob influência dos EUA”.
Desde então, golpes, intervenções, bloqueios e chantagens passaram a fazer
parte do repertório usado para manter essa hegemonia.
O Brasil, como maior país da região, sempre foi visto com especial atenção: grande demais para ignorar, estratégico demais para ser livre.
A
nova guerra: tarifas, OTAN e guerra híbrida
O
governo Trump deixou isso ainda mais evidente. Mesmo após anos de alinhamento
ideológico com Bolsonaro, os EUA impuseram tarifas de até 50% sobre produtos
brasileiros no governo Lula, como aço e alumínio. E as ameaças não pararam por
aí:
Pressões
indiretas ligadas à presença da China no 5G.
Tentativas
de isolar o Brasil de fóruns internacionais estratégicos.
Incentivo
à adesão do Brasil como “parceiro global da OTAN”, em pleno Atlântico Sul.
Esses
movimentos mostram que não se trata apenas de comércio ou diplomacia. Estamos
diante de um projeto de contenção estratégica da soberania brasileira, agora
sob novas formas.
Brasil
como obstáculo à hegemonia: por que Trump dobrou a aposta?
A
escalada contra o Brasil tem quatro objetivos centrais:
Frear
a autonomia brasileira e sua liderança regional.
Desarticular
o BRICS, bloco visto como ameaça direta à hegemonia global dos EUA.
Neutralizar
o Brasil como potência emergente no Sul Global.
Controlar
recursos estratégicos (pré-sal, biodiversidade, tecnologia).
Apesar
da retórica agressiva, Trump (e seus aliados) sabiam que o Brasil, se bem
posicionado, pode ser pivô de uma nova ordem multipolar e por isso precisa ser
enfraquecido ou absorvido.
🌍 O BRICS no Alvo
O
BRICS propõe um mundo mais equilibrado, com:
Comércio
em moedas nacionais.
Instituições
financeiras próprias.
Cooperação
tecnológica e diplomática fora da órbita dos EUA.
O
Brasil é peça-chave nesse tabuleiro. Ao tentar isolá-lo do BRICS, Trump
procurou enfraquecer o bloco por dentro, usando afinidades ideológicas com
Bolsonaro para isso.
Lula
e o desafio da soberania
Com
Lula de volta ao poder, o Brasil tenta reconstruir uma política externa
autônoma e multilateral, aproximando-se novamente dos BRICS, do G77, da África
e da América do Sul.
Mas
isso tem um custo.
A
pressão externa aumentará. A chantagem econômica virá sob a forma de “tarifas
verdes”. As investidas ideológicas continuarão através da guerra híbrida, do
lawfare e do controle narrativo.
Precisamos
de outra gramática política
A situação
exige mais do que respostas institucionais pontuais. Ela pede:
Uma nova
forma de pensar a política nacional, com a soberania no centro.
Uma comunicação
estratégica com o povo, que explique o que está em jogo.
Uma integração
regional sólida e popular, que vá além das elites.
Uma
leitura clara de que o imperialismo hoje opera em múltiplos níveis e todos
estão ativos no Brasil.
Para
onde vamos?
O
Brasil será potência soberana ou continuará sendo tratado como quintal?
Vamos reforçar nossa integração ao Sul Global ou ceder à lógica da
subordinação?
Vamos resistir às tentativas de “regime change” disfarçadas de preocupações
democráticas?
A
escalada está em curso. E a história nos chama mais uma vez a escolher entre submissão
e soberania.
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