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quinta-feira, 3 de julho de 2025

🌍 BRICS e o Futuro Geopolítico: Reflexões para o Brasil e o Mundo

 BRICS e o Futuro Geopolítico: Reflexões para o Brasil e o Mundo

O recente painel que reuniu Pepe Escobar, Elias Jabbour, Paulo Nogueira Batista Jr., Glenn Greenwald e Alexandr Dugin trouxe um debate profundo sobre o papel dos BRICS na atual configuração global, com ênfase nas oportunidades e desafios para o Brasil. Cada participante ofereceu uma perspectiva que, ao se complementar, constrói um panorama estratégico essencial para entender as dinâmicas que estão redesenhando o poder mundial.

BRICS: Muito além de um agrupamento simbólico


Pepe Escobar destaca que os BRICS representam o núcleo de uma nova arquitetura global, destinada a desafiar a hegemonia ocidental, especialmente no campo financeiro. Ele aponta para a urgência da construção de sistemas alternativos de pagamentos e reservas internacionais que não dependam do dólar americano. Essa transformação é crucial para que os países do Sul Global reduzam sua vulnerabilidade a sanções econômicas e pressões políticas externas, abrindo caminho para maior autonomia.

A resistência multipolar de Alexandr Dugin

Complementando essa visão, Alexandr Dugin reforça o papel dos BRICS como elemento fundamental para o surgimento de um mundo multipolar. Ele vê o bloco como um bastião contra o unipolarismo dos EUA e a imposição dos valores liberais ocidentais. Para Dugin, a soberania nacional e o respeito às identidades civilizacionais diversas são pilares essenciais para a nova ordem global. Ele enfatiza a construção de alianças estratégicas entre as nações do Sul que valorizem suas particularidades culturais e políticas.

O Brasil e o papel do Novo Banco de Desenvolvimento

Paulo Nogueira Batista Jr., com sua experiência à frente do NDB, traz um olhar prático para o papel dessa instituição no processo de desenvolvimento dos países membros. Ele defende a evolução do banco para um instrumento que não se limite a empréstimos tradicionais, mas que apoie a cooperação industrial, tecnológica e a reindustrialização do Brasil. Nogueira destaca áreas estratégicas, como inovação em inteligência artificial e tecnologias verdes, como fundamentais para impulsionar o desenvolvimento sustentável e soberano.

Desafios internos: a necessidade de diversificação estratégica

Glenn Greenwald levanta um ponto crítico ao analisar o alinhamento automático do Brasil com as instituições ocidentais tradicionais. Ele chama a atenção para a contradição entre a pauta comercial brasileira, fortemente vinculada à União Europeia e aos Estados Unidos, e a falta de diversificação estratégica em direção a parceiros asiáticos e africanos. Greenwald defende que o Brasil precisa ampliar suas parcerias, rompendo com o alinhamento automático e investindo em uma diplomacia que priorize os interesses nacionais e do Sul Global.

A perspectiva latino-americana de Elias Jabbour

Por fim, Elias Jabbour traz um olhar regional ao debate, afirmando que a América Latina não pode continuar presa ao papel de mera produtora de commodities. Segundo ele, o Brasil e seus parceiros precisam se inserir nas cadeias globais de valor e participar da produção integrada com países como China, Índia, Rússia e África do Sul. Essa integração é vista como uma oportunidade para acelerar a modernização econômica e tecnológica da região, tornando-a protagonista no cenário global.

Implicações para o Brasil

Essas reflexões indicam um caminho possível para o Brasil:

·        Revisar prioridades diplomáticas, reduzindo a centralidade em grupos tradicionais como G7 e G20 para dar maior protagonismo ao BRICS.

·        Fortalecer o NDB para que canalize recursos em inovação tecnológica, infraestrutura verde e projetos de reindustrialização.

·        Estreitar parcerias tecnológicas e financeiras com China, Rússia e Índia, focando em transferência de tecnologias e desenvolvimento conjunto.

·        Expandir a agenda Sul-Sul, incorporando países da África e do Sudeste Asiático em projetos transcontinentais para diversificar parcerias e reduzir vulnerabilidades.

Um chamado à ação

Para que essas possibilidades se concretizem, é fundamental que o governo brasileiro e o Itamaraty deem prioridade estratégica ao BRICS nas negociações internacionais. Além disso, a sociedade civil, academia, indústria e movimentos sociais precisam mobilizar-se para construir um plano nacional de reindustrialização soberana, inspirado nas ideias do painel. Comunicar para o povo brasileiro que o BRICS é uma rota concreta para a soberania econômica, digital e política é também um passo decisivo para o fortalecimento do país no cenário global.

 

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