BRICS e o Futuro Geopolítico: Reflexões para o Brasil e o Mundo
O recente painel que
reuniu Pepe Escobar, Elias Jabbour, Paulo Nogueira Batista Jr., Glenn Greenwald
e Alexandr Dugin trouxe um debate profundo sobre o papel dos BRICS na atual
configuração global, com ênfase nas oportunidades e desafios para o Brasil.
Cada participante ofereceu uma perspectiva que, ao se complementar, constrói um
panorama estratégico essencial para entender as dinâmicas que estão redesenhando
o poder mundial.
BRICS: Muito além de um agrupamento simbólico
Pepe Escobar destaca
que os BRICS representam o núcleo de uma nova arquitetura global, destinada a
desafiar a hegemonia ocidental, especialmente no campo financeiro. Ele aponta
para a urgência da construção de sistemas alternativos de pagamentos e reservas
internacionais que não dependam do dólar americano. Essa transformação é
crucial para que os países do Sul Global reduzam sua vulnerabilidade a sanções
econômicas e pressões políticas externas, abrindo caminho para maior autonomia.
A resistência multipolar de Alexandr Dugin
Complementando essa
visão, Alexandr Dugin reforça o papel dos BRICS como elemento fundamental para
o surgimento de um mundo multipolar. Ele vê o bloco como um bastião contra o
unipolarismo dos EUA e a imposição dos valores liberais ocidentais. Para Dugin,
a soberania nacional e o respeito às identidades civilizacionais diversas são
pilares essenciais para a nova ordem global. Ele enfatiza a construção de
alianças estratégicas entre as nações do Sul que valorizem suas
particularidades culturais e políticas.
O Brasil e o papel do Novo Banco de Desenvolvimento
Paulo Nogueira
Batista Jr., com sua experiência à frente do NDB, traz um olhar prático para o
papel dessa instituição no processo de desenvolvimento dos países membros. Ele
defende a evolução do banco para um instrumento que não se limite a empréstimos
tradicionais, mas que apoie a cooperação industrial, tecnológica e a
reindustrialização do Brasil. Nogueira destaca áreas estratégicas, como
inovação em inteligência artificial e tecnologias verdes, como fundamentais
para impulsionar o desenvolvimento sustentável e soberano.
Desafios internos: a necessidade de diversificação
estratégica
Glenn Greenwald
levanta um ponto crítico ao analisar o alinhamento automático do Brasil com as
instituições ocidentais tradicionais. Ele chama a atenção para a contradição
entre a pauta comercial brasileira, fortemente vinculada à União Europeia e aos
Estados Unidos, e a falta de diversificação estratégica em direção a parceiros
asiáticos e africanos. Greenwald defende que o Brasil precisa ampliar suas
parcerias, rompendo com o alinhamento automático e investindo em uma diplomacia
que priorize os interesses nacionais e do Sul Global.
A perspectiva latino-americana de Elias Jabbour
Por fim, Elias
Jabbour traz um olhar regional ao debate, afirmando que a América Latina não
pode continuar presa ao papel de mera produtora de commodities. Segundo ele, o
Brasil e seus parceiros precisam se inserir nas cadeias globais de valor e
participar da produção integrada com países como China, Índia, Rússia e África
do Sul. Essa integração é vista como uma oportunidade para acelerar a
modernização econômica e tecnológica da região, tornando-a protagonista no
cenário global.
Implicações para
o Brasil
Essas reflexões
indicam um caminho possível para o Brasil:
·
Revisar prioridades diplomáticas, reduzindo a
centralidade em grupos tradicionais como G7 e G20 para dar maior protagonismo
ao BRICS.
·
Fortalecer o NDB para que canalize recursos em
inovação tecnológica, infraestrutura verde e projetos de reindustrialização.
·
Estreitar parcerias tecnológicas e financeiras
com China, Rússia e Índia, focando em transferência de tecnologias e
desenvolvimento conjunto.
·
Expandir a agenda Sul-Sul, incorporando países
da África e do Sudeste Asiático em projetos transcontinentais para diversificar
parcerias e reduzir vulnerabilidades.
Um chamado à ação
Para que essas
possibilidades se concretizem, é fundamental que o governo brasileiro e o
Itamaraty deem prioridade estratégica ao BRICS nas negociações internacionais.
Além disso, a sociedade civil, academia, indústria e movimentos sociais
precisam mobilizar-se para construir um plano nacional de reindustrialização
soberana, inspirado nas ideias do painel. Comunicar para o povo brasileiro que
o BRICS é uma rota concreta para a soberania econômica, digital e política é
também um passo decisivo para o fortalecimento do país no cenário global.
Nenhum comentário:
Postar um comentário