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sábado, 5 de julho de 2025

A Profecia de Dilma e a Maldição dos Golpistas: como 2016 afundou o Brasil

Em 2016, durante o processo de impeachment, a então presidenta Dilma Rousseff fez um alerta contundente ao Brasil: se o golpe institucional fosse consumado, o país mergulharia no retrocesso social, no desmonte do Estado e na volta da miséria. À época, muitos chamaram de exagero. Disseram que era discurso político. Mas menos de uma década depois, os fatos falam mais alto: a profecia se cumpriu com rigor cirúrgico. E o povo, como sempre, pagou a conta.

O Golpe de 2016: entre o teatro político e o assalto ao Estado

O impeachment de Dilma não foi um ato isolado, tampouco um simples ajuste de poder. Foi parte de uma ofensiva mais ampla de setores do capital financeiro, do rentismo internacional, da grande mídia empresarial e das elites nacionais para reconfigurar o Estado brasileiro. O que estava em jogo era a quebra do pacto social construído a duras penas com a Constituição de 1988 e aprofundado com as políticas sociais dos anos 2000.

Ao contrário do que muitos disseram, não foi um “ajuste democrático”. Foi um movimento orquestrado para desmontar os direitos sociais e trabalhistas, entregar o patrimônio nacional e submeter o Brasil aos interesses das elites locais e internacionais. O próprio Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, classificou o impeachment como um “golpe parlamentar” a serviço de interesses econômicos.


Um Congresso em Cena de Horror

A sessão do impeachment na Câmara foi um espetáculo grotesco. Deputados votando “em nome de Deus, da família e da moral” , enquanto muitos respondiam a processos criminais, envolviam-se em escândalos e defendiam torturadores. O então deputado Jair Bolsonaro prestou homenagem ao torturador Brilhante Ustra, símbolo do aparato repressivo da ditadura militar, em plena tribuna da democracia. Um gesto que se tornaria prenúncio de um ciclo de autoritarismo e obscurantismo que viria a seguir.

A cena foi simbólica: o Brasil estava sendo entregue à barbárie sob o pretexto de moralidade. E os votos da maioria revelavam não uma indignação ética, mas o desejo de poder e vingança de uma elite que nunca aceitou um projeto popular no comando da nação.

Os Traidores e Seus Castigos

Muitos que protagonizaram o golpe foram, posteriormente, atingidos por escândalos e derrotas políticas. Michel Temer, que assumiu a Presidência após o impeachment, foi preso por corrupção e protagonizou um governo desastroso, marcado por tentativas de compra de apoio parlamentar e reformas impopulares.

Aécio Neves, símbolo da oposição golpista, foi gravado pedindo dinheiro ao próprio primo e ameaçando de morte caso houvesse delação. Sua irmã foi presa, e sua reputação política jamais se reergueu. Eduardo Cunha, o grande articulador do golpe, também foi preso, cassado e condenado por corrupção. Empresários como os irmãos Batista (JBS) passaram de financiadores da nova ordem a delatores de um sistema podre.

No Ceará, o senador Eunício Oliveira, presidente do Senado durante o impeachment, não se reelegeu. O deputado Adail Carneiro, que havia almoçado com Dilma antes de votar pelo impeachment, caiu no ostracismo político.

A chamada “maldição dos golpistas” foi mais do que simbólica: foi histórica. Mas seus efeitos, infelizmente, não pararam por aí.

A Queda Livre do Brasil

A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 representou a radicalização do golpe de 2016. Expulso do Exército por indisciplina, sem histórico legislativo relevante, defensor da tortura e da ditadura, Bolsonaro chegou ao poder em meio a um cenário de desinformação, manipulação das redes sociais e apoio de grupos econômicos interessados no aprofundamento do desmonte do Estado.

Seu governo foi o ápice do desastre: ataques às universidades, destruição das políticas ambientais, estímulo ao armamento da população, perseguição a professores, artistas, jornalistas e cientistas, e, sobretudo, o descaso criminoso com a pandemia da COVID-19.

Foram mais de 700 mil mortes, muitas evitáveis. Famílias inteiras foram dizimadas pela negligência do governo, que zombava da ciência, atrasava a compra de vacinas, promovia medicamentos ineficazes e negociava propina para aquisição de imunizantes.

No campo econômico, o desastre foi igualmente brutal: o PIB encolheu, a inflação explodiu, o desemprego aumentou, o preço dos alimentos disparou. Milhões voltaram à miséria. O Brasil, que havia saído do Mapa da Fome da ONU, retornou com força. E as filas do osso tornaram-se a imagem cruel de um país saqueado.

A destruição do Estado e o entreguismo

O governo Bolsonaro acelerou a privatização de empresas públicas estratégicas, como a Eletrobras, e desmontou programas sociais como o Bolsa Família, substituído por um “Auxílio Brasil” improvisado e eleitoreiro. A educação pública foi atacada sistematicamente. O meio ambiente virou moeda de troca para grileiros e garimpeiros. Povos indígenas foram dizimados por invasões e descaso.

A geopolítica brasileira foi rebaixada. O Brasil tornou-se pária internacional. Saiu do protagonismo latino-americano, abandonou os BRICS e adotou uma política externa submissa aos EUA de Trump e aos interesses do capital transnacional.

A Luta não acabou

Apesar de tudo, há resistência. Há memória. Há mobilização popular, intelectual e política. Os governos golpistas passaram, mas as feridas ainda doem. A reconstrução será longa e exigirá coragem, verdade e compromisso com a justiça social. O Brasil precisa, urgentemente, de um novo pacto civilizatório baseado na soberania, na democracia, na inclusão e no respeito aos direitos humanos.

A profecia de Dilma se concretizou, mas também permanece como sinal: é possível resistir, é preciso lembrar, é urgente reconstruir. A história cobra, mas também ensina. E a lição que fica é clara: não há futuro possível sem democracia, sem justiça e sem memória.

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