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sexta-feira, 18 de julho de 2025

O Brasil, a Nova Ordem Mundial e a Guerra Existencial: entre a neutralidade e o alinhamento Sul-Sul

 O Brasil, a Nova Ordem Mundial e a Guerra Existencial: entre a neutralidade e o alinhamento Sul-Sul

O presente texto analisa os desafios e dilemas da posição geopolítica do Brasil diante de uma crescente escalada de conflitos globais, que delineiam uma ruptura da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial. Com foco na guerra por procuração entre Estados Unidos–Europa versus Rússia, e no crescente atrito entre EUA–Israel e Irã, examina-se o papel das alianças Sul-Sul e a perda de legitimidade das instituições multilaterais como a ONU. Defende-se que o Brasil, diante das ameaças à sua neutralidade, deveria reconsiderar seus alinhamentos estratégicos e reforçar sua soberania nacional por meio de uma política externa independente e de autodefesa. A análise parte da conjuntura internacional de 2024-2025 e das ameaças feitas por lideranças ocidentais ao Brasil, caso mantenha uma posição neutra.

1. Introdução: o Fim da Ordem Liberal Internacional

Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos consolidaram uma hegemonia unipolar que moldou instituições multilaterais, a economia global e os padrões de segurança internacional. No entanto, nas últimas décadas, especialmente após a invasão do Iraque (2003), a expansão da OTAN e o conflito na Ucrânia, observa-se uma erosão da legitimidade dessa ordem. A ONU, que deveria atuar como árbitro global, tem sido incapaz de conter crimes de guerra, genocídios e violações flagrantes do direito internacional, principalmente por parte de seus próprios membros permanentes.

2. O Genocídio Televisado e o Colapso Ético do Ocidente

O conflito Israel-Palestina atingiu um novo patamar de brutalidade com a ofensiva em Gaza, caracterizada por analistas da ONU, como Francesca Albanese (2024), como genocídio. Imagens de crianças mutiladas, famílias destruídas e populações famintas são transmitidas ao vivo para todo o mundo. O silêncio cúmplice dos EUA e da União Europeia, que continuam a fornecer armas a Israel, contribui para o colapso moral do Ocidente como portador de “valores universais”. Como afirma Trenin (2023), "não há mais caminho de volta", uma nova ordem emerge do sangue dos inocentes.

3. A Guerra Longa e Existencial: EUA, Israel e o Cerco ao Irã

Ao cercar o Irã com sanções, ameaças e operações clandestinas, EUA e Israel alimentam o que se tornou uma guerra de atrito e resistência. O Irã, diante das ameaças existenciais, foi empurrado para o desenvolvimento de sua própria dissuasão nuclear, não como ambição ofensiva, mas como defesa. Esta é uma consequência direta da falência diplomática ocidental e da imposição de políticas de “regime cliente” por parte de Washington e seus aliados.

4. A Neutralidade do Brasil e a Pressão da OTAN

O Brasil tem mantido historicamente uma posição de neutralidade ativa e diálogo multilateral. Contudo, essa neutralidade passou a ser vista como "ameaça" pelos Estados Unidos e membros da OTAN. O próprio presidente da aliança militar insinuou, em declarações recentes, a aplicação de sanções comerciais ao Brasil caso o país não se alinhasse à “ordem democrática” ocidental. Esta postura revela uma forma neocolonial de dominação, que exige submissão total mesmo de países que não participam dos conflitos.

5. A Emergência da Soberania Sul-Sul e a Aliança com Rússia e China

Diante desse cenário, o Brasil precisa repensar seu posicionamento internacional. Diferente dos EUA e da Europa, Rússia e China nunca impuseram sanções unilaterais ou ameaçaram a soberania brasileira. A construção de uma ordem multipolar passa necessariamente pelo fortalecimento dos BRICS+ e por um novo pacto geoestratégico baseado em respeito mútuo, cooperação econômica e autodeterminação dos povos. Como potência emergente, o Brasil deveria fortalecer sua capacidade de defesa e tecnologia autônoma, incluindo a retomada de seu programa nuclear com fins dissuasivos, como garantia de soberania.

6. Considerações Finais: a Paz é uma Construção Política

Como lembra Dmitry Trenin (2024), “há paz à frente, mas não há caminho de volta”. A humanidade está em um momento limítrofe. Ou avança para uma nova ordem mundial mais justa e multipolar, ou mergulha em uma guerra generalizada. O Brasil precisa se posicionar com coragem, rompendo as amarras coloniais do século XXI e assumindo um papel de liderança ética e estratégica no Sul Global.


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