Resumo:
O presente artigo busca refletir criticamente sobre a posição do Brasil no
cenário geopolítico atual, marcado pela escalada de tensões entre Estados Unidos
e China no Indo-Pacífico, e entre Europa e Rússia no contexto eurasiático.
Argumenta-se que a neutralidade histórica do Brasil encontra-se em xeque diante
das ameaças explícitas de sanções por parte da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), caso o país se recuse a alinhar-se ao bloco ocidental.
Partindo de uma análise crítica da ordem internacional e do papel das potências
emergentes, o texto defende o fortalecimento da parceria estratégica Sul-Sul,
especialmente com China e Rússia, e a necessidade de o Brasil romper com o
neocolonialismo geopolítico do século XXI, inclusive retomando o debate sobre
sua autonomia estratégica e tecnológica, com destaque para a dissuasão nuclear.
1.
Introdução
Desde
o fim da Guerra Fria, o Brasil tem adotado uma postura de não alinhamento
automático a blocos geopolíticos, buscando manter uma diplomacia multilateral e
cooperativa. Contudo, o agravamento das tensões internacionais, marcado pela
confrontação entre os Estados Unidos e a China no Indo-Pacífico, e entre a OTAN
e a Rússia no Leste Europeu, coloca em risco essa neutralidade tradicional. O
avanço de pressões e ameaças econômicas contra países que optam pela autonomia
soberana impõe ao Brasil uma escolha de fundo: alinhar-se com o antigo polo
hegemônico do Ocidente ou fortalecer laços com o emergente eixo Sul-Sul,
formado por potências que têm respeitado a soberania nacional brasileira e
investido em parcerias estratégicas sem exigências unilaterais.
2. A
Crise da Ordem Liberal Internacional
A
Organização das Nações Unidas (ONU), nascida em 1945 como promessa de segurança
coletiva e direito internacional, tem falhado sistematicamente diante de
invasões ilegais promovidas pelos Estados Unidos e aliados, do Iraque à
Palestina. A ausência de sanções contra essas potências, ao mesmo tempo em que
países do Sul Global são constantemente cobrados por "boas condutas",
revela um colapso da legitimidade institucional da ONU. Como bem aponta Francesca
Albanese, relatora especial da ONU, o sistema internacional falha em conter os
abusos sistemáticos de Israel e em responsabilizar os EUA por suas ações
unilaterais.
3. O
Brasil e a Armadilha da Neutralidade
Em
meio ao novo cenário bélico em gestação, o Brasil já sofre pressões explícitas
da OTAN, cujos representantes sugerem sanções econômicas caso o país mantenha
sua posição neutra. Tal postura atenta contra a soberania nacional e reativa
lógicas coloniais em pleno século XXI. Como destacou o ministro das Relações
Exteriores do Brasil em fórum recente do BRICS, a soberania não é negociável, e
o Brasil deve ser respeitado como ator autônomo e estratégico no tabuleiro
global.
4. A
Alternativa Sul-Sul: BRICS, China e Rússia
Diante
desse impasse, a parceria Sul-Sul representa uma oportunidade geopolítica
inédita. A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, enquanto a
Rússia mantém laços diplomáticos sólidos e investimentos em setores como
energia e defesa. Ambos os países têm historicamente respeitado a soberania
brasileira e não participaram de intervenções hostis. Ademais, no âmbito da
ONU, a China, como membro permanente do Conselho de Segurança, possui poder de
veto e deveria assumir o compromisso, político e estratégico de proteger o
Brasil de tentativas de ingerência ocidental.
5.
Rumo à Autonomia Estratégica: Energia, Defesa e Tecnologia Nuclear
O
Brasil precisa superar a dependência estrutural de centros hegemônicos. Isso
implica não apenas desenvolver políticas industriais e tecnológicas autônomas,
mas também retomar a discussão sobre uma doutrina de defesa nacional compatível
com o novo cenário mundial. O debate sobre a capacidade de dissuasão nuclear,
congelado desde os anos 1990 com a assinatura do Tratado de Não Proliferação
Nuclear (TNP), deve ser reaberto com responsabilidade e soberania, em
consonância com os princípios de defesa legítima e proteção do território
nacional.
6.
Conclusão
A
neutralidade brasileira, embora historicamente legítima, tornou-se um risco
político diante da escalada do imperialismo ocidental. O Brasil deve, portanto,
alinhar-se com os povos do Sul Global, defender sua soberania com firmeza e
preparar-se para os desafios da nova ordem multipolar. Isso não significa
buscar a guerra, mas evitar ser arrastado para ela sem garantias mínimas de
respeito, autonomia e reciprocidade
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