O boné da vergonha e da servidão voluntária
Na cena, um gesto: o
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, posa sorridente com o boné
vermelho de Donald Trump, o infame “Make America Great Again”. Mas aquele boné
diz mais do que parece. Ele não está apenas vestindo um adereço: está
assumindo, com orgulho, o papel de capacho ideológico.
A foto fala. E grita.
Enquanto Trump impõe
tarifas sobre produtos brasileiros, entre eles o etanol brasileiro, justamente
um dos principais produtos da indústria paulista, Tarcísio sorri, bate
continência e diz que é uma “grande oportunidade”. São Paulo, maior exportador
para os EUA e maior produtor de etanol do país, é agora sabotado por um de seus
próprios governadores.
Ele não está do lado
de São Paulo. Está do lado de Washington, do bolsonarismo, da Faria Lima e dos
interesses rentistas internacionais.
E para piorar:
depois do escândalo, apagou a foto do boné de seu Instagram. Que recibo!
A personalidade múltipla de um governador
“Tenho duas caras. A cada dia acordo com uma
personalidade diferente”, disse ele, em tom de piada. Mas a frase é reveladora.
Um dia elogia
Trump, no outro elogia Lula. Um dia diz que tarifas americanas são boas para
SP, no outro lamenta a desindustrialização. Esse jogo de cena revela mais que
confusão: revela conveniência. Revela cálculo. Ou pior: revela subserviência.
Tarcísio governa com o manual de um vassalo: agrada os senhores da vez e torce para que o povo aceite. Mas o povo vê. O povo sente.
Quando a política externa vira submissão
Enquanto outros
países protegem seus mercados, fortalecem suas cadeias produtivas e buscam
autonomia, temos um governador que elogia a imposição de barreiras contra sua
própria economia. Isso não é pragmatismo. Isso é servidão.
E não uma servidão
imposta. É uma servidão escolhida.
Étienne de La Boétie explica
No século XVI, o
pensador francês Étienne de La Boétie escreveu o Discurso da Servidão Voluntária, onde perguntava: “Por que os
povos aceitam ser governados por tiranos, se poderiam, com um simples ato de
vontade, recusar o jugo?”
A resposta? O
hábito. A manipulação. A ilusão.
Tarcísio representa
essa escolha. Ele não é obrigado a se curvar. Ele se curva porque quer. Porque
acredita que ajoelhar-se diante de Trump de Bolsonaro e dos assemelhados da
extrema-direita internacional e nacional é estratégico. Porque aprendeu que
agradar poderosos vale mais que defender o povo.
Mas São Paulo não
precisa de bajuladores. Precisa de estadistas. Precisa de quem defenda sua
economia, sua gente e sua soberania.
São Paulo não é
colônia. O Brasil não é quintal.
Contra a servidão
voluntária, afirmamos a liberdade crítica.
Contra o boné do império, defendemos o chapéu de
palha da dignidade.
Aqui no Nordeste, o
povo produziu e segue produzindo sua existência com o chapéu de palha tecido
das folhas das nossas majestosas carnaubeiras. É ele que protege o rosto do
lavrador, da rendeira, do vaqueiro e da mestra da cultura popular. É ele que representa
o trabalho, a sabedoria e a dignidade do povo do sertão.
E não produzimos
apenas a nossa existência.
Produzimos também a
soberania de nosso povo sobre as nossas riquezas, nossas culturas e nossas
formas de vida, onde natureza e cultura estão entrelaçadas. É nesse
entrelaçamento que reside a verdadeira dignidade: não em servir ao império, mas
em cultivar a terra, a memória e o futuro com os próprios pés fincados no chão
do Brasil.
Por isso, recusamos
o boné da submissão e reafirmamos o chapéu da dignidade.
O Brasil não
precisa se ajoelhar para ser grande. Ele precisa se levantar.
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