Por Luis Moreira Oliveira Filho
Para o blog Olhos do Sertão
O acordo entre Mercosul e União Europeia, que já
tramita há mais de duas décadas, vem sendo apresentado por parte do
empresariado e da grande mídia como uma “janela de oportunidade” para o Brasil.
No entanto, ele pode representar o contrário: a consolidação de um Brasil como grande fazenda global, produtor
de soja, carne e minério, em troca de importação
de tecnologia, máquinas e inteligência.
É o que muitos chamam de "agrarismo de luxo": exportamos
natureza bruta e importamos futuro pronto.
O risco
de um Brasil periférico e subalterno
O atual formato do acordo
fortalece:
- A reprimarização da economia
brasileira;
- A dependência de cadeias
dominadas por multinacionais europeias;
- E o enfraquecimento da
indústria nacional, que não
consegue competir em igualdade com os subsídios e proteções europeias.
Lula olha para a Ásia: um aceno estratégico?
Durante discurso recente, o
presidente Lula afirmou:
“Nossa participação nas cadeias
globais de valor se beneficiará de maior aproximação com Japão, China, Coreia,
Índia, Vietnã e Indonésia.”
Essa fala é significativa. Ela marca uma inflexão importante na diplomacia
econômica brasileira, deslocando parte do foco do eixo eurocêntrico para
o eixo asiático, que hoje
concentra:
- Os
maiores parques industriais do mundo;
- Liderança em tecnologia, IA, semicondutores e
transição energética;
- Experiências de desenvolvimento nacional soberano com
forte papel do Estado.
A Ásia não é apenas mercado é modelo e disputa.
A guerra das tarifas e o retorno do protecionismo
O Brasil, através do Itamaraty,
denunciou recentemente o “uso de
tarifas como arma política”, às vésperas do novo prazo imposto por Trump
para revisar acordos comerciais. Essa denúncia, feita pelo ministro Mauro
Vieira, não é mero detalhe técnico:
revela que o multilateralismo está em
crise e que os países centrais usam
tarifas e bloqueios como instrumentos de dominação.
Ou seja: não há "livre mercado" quando ele serve aos poderosos. O
protecionismo europeu e norte-americano protege sua indústria e destrói a dos
países do Sul.
🚧 O que o Brasil deve fazer?
- Redefinir
o acordo Mercosul-UE com cláusulas de reciprocidade real, proteção industrial e compromissos
tecnológicos.
- Fortalecer
o Mercosul e os BRICS+ como plataformas de
integração produtiva e científica.
- Criar
um Plano Nacional de Reindustrialização com soberania, conectando universidades, empresas públicas,
Forças Armadas e setor privado nacional.
- Desenvolver
um projeto soberano de Inteligência Artificial, bioeconomia e defesa
tecnológica.
- E sobretudo, romper com a lógica de país exportador
de natureza e importador de futuro.
Conclusão: o Brasil entre a roça e o chip
A escolha é política. E o tempo é
agora.
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