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quinta-feira, 3 de julho de 2025

🇧🇷🌏 O Brasil será fazenda ou fábrica? Soberania, Mercosul e a nova disputa geopolítica global

Por Luis Moreira Oliveira Filho

Para o blog Olhos do Sertão

O acordo entre Mercosul e União Europeia, que já tramita há mais de duas décadas, vem sendo apresentado por parte do empresariado e da grande mídia como uma “janela de oportunidade” para o Brasil. No entanto, ele pode representar o contrário: a consolidação de um Brasil como grande fazenda global, produtor de soja, carne e minério, em troca de importação de tecnologia, máquinas e inteligência.

É o que muitos chamam de "agrarismo de luxo": exportamos natureza bruta e importamos futuro pronto.

O risco de um Brasil periférico e subalterno

O atual formato do acordo fortalece:

  • A reprimarização da economia brasileira;
  • A dependência de cadeias dominadas por multinacionais europeias;
  • E o enfraquecimento da indústria nacional, que não consegue competir em igualdade com os subsídios e proteções europeias.

Não há soberania sem reindustrialização.
Não há projeto nacional sem ciência e tecnologia próprias.
Não há desenvolvimento com base apenas em soja e gado.


Lula olha para a Ásia: um aceno estratégico?

Durante discurso recente, o presidente Lula afirmou:

“Nossa participação nas cadeias globais de valor se beneficiará de maior aproximação com Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia.”

Essa fala é significativa. Ela marca uma inflexão importante na diplomacia econômica brasileira, deslocando parte do foco do eixo eurocêntrico para o eixo asiático, que hoje concentra:

  • Os maiores parques industriais do mundo;
  • Liderança em tecnologia, IA, semicondutores e transição energética;
  • Experiências de desenvolvimento nacional soberano com forte papel do Estado.

A Ásia não é apenas mercado é modelo e disputa.

A guerra das tarifas e o retorno do protecionismo

O Brasil, através do Itamaraty, denunciou recentemente o “uso de tarifas como arma política”, às vésperas do novo prazo imposto por Trump para revisar acordos comerciais. Essa denúncia, feita pelo ministro Mauro Vieira, não é mero detalhe técnico: revela que o multilateralismo está em crise e que os países centrais usam tarifas e bloqueios como instrumentos de dominação.

Ou seja: não há "livre mercado" quando ele serve aos poderosos. O protecionismo europeu e norte-americano protege sua indústria e destrói a dos países do Sul.

🚧 O que o Brasil deve fazer?

  1. Redefinir o acordo Mercosul-UE com cláusulas de reciprocidade real, proteção industrial e compromissos tecnológicos.
  2. Fortalecer o Mercosul e os BRICS+ como plataformas de integração produtiva e científica.
  3. Criar um Plano Nacional de Reindustrialização com soberania, conectando universidades, empresas públicas, Forças Armadas e setor privado nacional.
  4. Desenvolver um projeto soberano de Inteligência Artificial, bioeconomia e defesa tecnológica.
  5. E sobretudo, romper com a lógica de país exportador de natureza e importador de futuro.

Conclusão: o Brasil entre a roça e o chip

Ou o Brasil se torna um protagonista nas novas cadeias globais de valor, investindo em ciência, indústria, educação e tecnologia…
Ou seguirá sendo a fazenda do mundo rico, exportando o suor da terra e importando o valor da inteligência.

A escolha é política. E o tempo é agora.

 

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