O que há por trás da nova radicalização de setores
bolsonaristas no Brasil? Para além dos ataques ao STF, das bravatas golpistas e
do discurso anticomunista reciclado, cresce entre agentes da inteligência
brasileira a suspeita de que esses movimentos não sejam apenas “orgânicos”, mas
parte de um roteiro ensaiado por interesses externos, com participação da Casa
Branca, da CIA e grandes corporações transnacionais. O alvo? Os minérios
estratégicos do Brasil.
Lítio, nióbio, grafeno, terras raras, insumos essenciais para
a indústria do futuro têm colocado o
Brasil novamente no centro das disputas geopolíticas. E isso não é novidade. A
pilhagem das riquezas nacionais ganhou novo impulso a partir de 2013, quando,
sob o disfarce de revolta popular, as Jornadas de Junho abriram caminho para
uma ofensiva antidemocrática, jurídico-midiática e empresarial que mudaria o
rumo do país.
Abaixo traço uma pequena análise deste vídeo - Guerra de Trump contra os
BRICS dá errado: Putin e China detonam o dólar. Primeiro que os diálogos
no vídeo, BRICS: ameaça à hegemonia do dólar e à geopolítica dos EUA, logo no
início do vídeo, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, declara que os BRICS
foram criados com o intuito de enfraquecer a supremacia do dólar nas transações
internacionais. Em tom de enfrentamento, afirma que, se os BRICS quiserem jogar
este jogo, os EUA responderão com tarifas e sanções.
O vídeo que estou analisando levanta pontos
importantes da atual conjuntura geopolítica e destaca com clareza o papel do
Brasil dentro desse tabuleiro em transformação, principalmente sob o governo
Lula e em um cenário do retorno desastroso de Trump à presidência dos EUA.
Abaixo, sintetizo e organizo os principais pontos em
destaque, com comentários críticos e observações analíticas, a partir de pontos
que considero importantes
Trump e a tentativa de mudança de regime no Brasil
O vídeo sugere que Trump busca derrubar Lula e
implantar um regime cliente, governado por um presidente fantoche,
provavelmente alinhado aos interesses geopolíticos dos EUA.
Tarifas,
chantagens, pressão militar e guerra de narrativas: por que o Brasil se tornou
alvo direto da ofensiva geopolítica dos EUA? Qual o papel de Donald Trump e do
trumpismo nesse novo cenário? E como isso se conecta à luta contra o BRICS e à
tentativa de frear a ascensão de uma potência do Sul Global?
O
velho fantasma do “Quintal”
A ideia
de que a América Latina e o Brasil seriam o “quintal dos Estados Unidos” não é
nova. Ela remonta à Doutrina Monroe (1823), com o lema “A América para os
americanos”, que na prática significava: “a América sob influência dos EUA”.
Desde então, golpes, intervenções, bloqueios e chantagens passaram a fazer
parte do repertório usado para manter essa hegemonia.
O
Brasil, como maior país da região, sempre foi visto com especial atenção: grande
demais para ignorar, estratégico demais para ser livre.
Hoje, Jair Bolsonaro recebeu uma medida cautelar do Supremo Tribunal
Federal (STF). Foi alvo de busca e apreensão, conduzido para prestar depoimento
à Polícia Federal e obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Não me alegro, não
celebro. Não me regozijo. Porque isso não é questão de vingança. É, sobretudo,
questão de justiça.
Justiça para as mães dos desaparecidos políticos que morreram sem sequer
poder enterrar seus filhos, vítimas da ditadura civil-militar. Justiça diante
da humilhação institucionalizada, como o cartaz que Bolsonaro mantinha em seu
gabinete: “Só quem procura osso é cachorro”, uma resposta vil à Comissão
Nacional da Verdade (CNV), criada pela então presidenta Dilma Rousseff.
Justiça diante do escárnio com que tratou as mortes por COVID-19. Quando
questionado sobre os milhares de brasileiros mortos, respondeu com frieza: “E
daí? Eu não sou coveiro” e, não satisfeito, passou a imitar pessoas morrendo
sem ar, zombando da dor alheia.
Bolsonaro se orgulhava de dizer que sua especialidade era matar. Desejou
publicamente que Dilma “pegasse um câncer e morresse”. E, no dia da votação do
impeachment, prestou um voto simbólico e cruel “em nome de Ustra”, o notório
torturador do regime civil-militar. A cada frase, a cada gesto, feriu mães,
filhos, netos, feriu a história e o tecido da nossa humanidade.
Hoje, portanto, não é um dia de júbilo. É um dia de memória. De
lembrança das mulheres que perderam seus filhos na tortura, na violência
política, ou na pandemia, sem um enterro, sem um adeus. É por elas que a
justiça dos homens e das mulheres, e talvez também a justiça de Deus, começa a
se fazer presente.
Que a prisão de Bolsonaro, quando vier, não seja espetáculo, mas ato de
dignificação das mães que nunca puderam enterrar seus mortos, seja na ditadura,
seja no descaso genocida da pandemia. Que seja memória e reparação. Nunca
revanche.
Nesta semana, algo raro e profundamente simbólico
aconteceu na cena internacional: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupou
todos os espaços discursivos, falou ao Brasil, ao Sul Global e ao mundo,
articulando com inteligência singular uma narrativa de soberania, justiça, paz
e humanidade. Em tempos de lideranças automatizadas por algoritmos da guerra e
da economia excludente, Lula foi, talvez, seja o último humanista a discursar
com firmeza sobre a vida, os direitos humanos, a justiça social e o meio
ambiente
A entrevista concedida pelo presidente Lula à jornalista
Christiane Amanpour, da CNN Internacional, amplia o campo discursivo inaugurado
pelo pronunciamento oficial, reposicionando o Brasil no cenário global por meio
de uma performance diplomática que também opera como disputa simbólica. Como aponta
Pierre Bourdieu, o discurso político é uma prática social situada, e nessa
entrevista Lula mobiliza o habitus de negociador sindical para produzir
legitimidade diante do público internacional, especialmente norte-americano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu uma
entrevista exclusiva à Christiane Amanpour, da CNN Internacional, nesta quinta-feira (17), e comentou a ameaça do líder
americano Donald Trump de impor 50% de taxas aos produtos brasileiros
Lula:
Bem, Christiane, para mim foi uma surpresa — não só o valor dessa tarifa, mas
também a forma como ela foi anunciada. Acho que está faltando um pouco de
multilateralismo na mentalidade do presidente Trump, e ele sabe que um problema
desse tipo se resolve à mesa de negociação.
Fomos
surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano
anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto.
O
Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o
governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de
negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem
inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações
falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
Contamos
com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo
legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla
defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania
nacional.
Só
uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades,
garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as
oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.
Soberania,
Verdade e Tempo Histórico: análise do pronunciamento Lula da Silva à luz de
Bourdieu e Boaventura de Sousa Santos
O
presente ensaio analisa o pronunciamento do presidente do Brasil frente à
imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, à luz das teorias do
poder simbólico de Pierre Bourdieu e da gramática do tempo de Boaventura de
Sousa Santos. Identificamos como o discurso não apenas responde à conjuntura
internacional, mas também constrói uma narrativa simbólica sobre soberania,
verdade e futuro. Trata-se de uma resposta discursiva que disputa sentidos no
campo político global e nacional, reorganizando temporalidades e produzindo
alianças imaginadas.
O Brasil, a Nova Ordem Mundial e a Guerra Existencial: entre a neutralidade e o alinhamento Sul-Sul
O presente texto analisa os desafios e dilemas da posição geopolítica do Brasil diante de uma crescente escalada de conflitos globais, que delineiam uma ruptura da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial. Com foco na guerra por procuração entre Estados Unidos–Europa versus Rússia, e no crescente atrito entre EUA–Israel e Irã, examina-se o papel das alianças Sul-Sul e a perda de legitimidade das instituições multilaterais como a ONU. Defende-se que o Brasil, diante das ameaças à sua neutralidade, deveria reconsiderar seus alinhamentos estratégicos e reforçar sua soberania nacional por meio de uma política externa independente e de autodefesa. A análise parte da conjuntura internacional de 2024-2025 e das ameaças feitas por lideranças ocidentais ao Brasil, caso mantenha uma posição neutra.
A Guerra que já começou: Irã, Israel, EUA e o Genocídio Televisado da
Palestina
Forçaram o Irã a buscar armas nucleares. Não há outra alternativa viável
para Teerã diante do cerco sistemático imposto pelos Estados Unidos, Israel e
seus aliados ocidentais. As sanções econômicas, os assassinatos de cientistas
nucleares, o isolamento diplomático e os bombardeios em solo sírio ou iraquiano
configuram um contexto de guerra prolongada, que não se dá apenas por tanques
ou mísseis, mas também por narrativas, sabotagens e bloqueios.
O que estamos testemunhando é uma guerra existencial: EUA-Israel contra
Irã, com o povo palestino no epicentro desse embate geopolítico, sendo
massacrado sob a justificativa de “segurança” e “combate ao terrorismo”. A
tragédia humanitária que se desenrola em Gaza é televisionada todos os dias:
crianças famintas, famílias indefesas, bairros inteiros transformados em
ruínas. A cada imagem que circula nas redes, escancara-se o que já pode ser
qualificado, juridicamente e moralmente, como genocídio, termo que não é usado
de maneira leviana, mas sustentado por relatórios da ONU, da relatora Francesca
Albanese, da Human Rights Watch e de outros organismos internacionais.
A
Guerra Fragmentada do Império (EUA): resistência multipolar e a lógica da primazia global
Subtítulo:
a disputa entre potências oculta um projeto global de dominação unipolar. EUA, OTAN e seus satélites operam uma guerra
estratégica contra a China, Rússia e Irã, não por democracia, mas por
hegemonia.
Introdução
Estamos
vivendo uma guerra mundial em câmera lenta. Diferente dos grandes conflitos do
século XX, o que se desenha no início do século XXI é uma guerra fragmentada,
indireta, travada em diversas frentes e através de múltiplos instrumentos:
sanções econômicas, golpes de Estado, sabotagem midiática, lawfare, cercos
tecnológicos e operações militares por procuração. No centro desse conflito
está a tentativa dos Estados Unidos de manter sua primazia global frente à emergência
de um mundo multipolar.
A lógica da dominação imperial
A
política externa dos EUA, desde o fim da Guerra Fria, jamais aceitou plenamente
a ideia de um mundo multipolar. Como apontou Zbigniew Brzezinski em The Grand
Chessboard (1997), o controle da Eurásia é vital para a hegemonia global
norte-americana. É neste contexto que se inscrevem os conflitos com Rússia,
China e Irã — três potências que desafiam, cada uma à sua maneira, a lógica do
império.
China,
Irã e Rússia vêm fortalecendo suas alianças, apesar de divergências históricas
e ideológicas. Esse fortalecimento não é fruto apenas de afinidades
estratégicas, mas, sobretudo, da necessidade comum de resistir ao cerco
crescente imposto pelos Estados Unidos e seus países satélites.
Os
EUA não pretendem cessar sua ofensiva geopolítica contra China, Rússia e Irã.
Pelo contrário, intensificam ações de contenção, sabotagem, sanções e estímulo
a conflitos em zonas estratégicas. Hoje, a Rússia está atolada em uma guerra de
atrito com a OTAN em solo ucraniano; o Irã sustenta conflitos diretos e
indiretos no Oriente Médio; e a China, cada vez mais central no mundo
multipolar, é confrontada principalmente na questão de Taiwan e no cerco do
Indo-Pacífico.
A seguir está uma análise de um
artigo escrito por Dmitri Trenin, um pensador russo que entrevistei neste canal
há 3 anos. Naquela época, Trenin avaliava que a guerra na Ucrânia era o início
de uma nova Guerra Fria. Desde então, ele revisou suas opiniões, argumentando
hoje que já estamos dentro da Terceira Guerra Mundial, embora nem todos os
teatros de guerra tenham se transformado em conflitos armados ainda. Mas,
segundo ele, a direção é bastante clara. Artigo de Trenin: https://profile.ru/politics/epoha-voj... Minha entrevista com Dmitri Trenin e Anatol Lieven há 3 anos: • It's an Existential Threat! | Dmitri Treni...
Para Trenin, o mundo já está em guerra, não uma guerra convencional, mas
uma guerra estrutural, global e ideológica entre dois modelos de civilização:
ü O Ocidente, representado pelos EUA, UE, OTAN e seus
aliados, que ele acusa de querer destruir a Rússia e impedir a ascensão da
China.
ü O Oriente, representado por Rússia, China, Irã, Coreia do
Norte e aliados táticos, que segundo ele lutam por soberania, pluralismo
civilizacional e uma nova ordem mundial multipolar.
Principais características desta “guerra”:
Não é uma guerra tradicional: não começou com uma invasão formal ou
declaração, mas com um conjunto de ações encadeadas de desestabilização
econômica, guerra de narrativas, sabotagens, sanções, e conflitos por
procuração (proxy wars), como na Ucrânia.
Alvos estratégicos incluem a moral, economia e coesão social dos países
rivais, e não apenas posições militares ou territórios.
A Ucrânia é retratada como “apenas um peão” num xadrez maior, um teatro
de confronto direto entre Rússia e Europa Ocidental (com apoio da OTAN).
A guerra informacional e simbólica é central: Trenin denuncia o
“controle da informação” no Ocidente e convoca a Rússia a “romper o escudo
informacional ocidental”.
A Terceira Guerra Mundial já começou, diz
o pesquisador russo Dmitry Trenin
Aos olhos do Ocidente, a Rússia deve ser
destruída. Isso não nos deixa escolha.
A estratégia dos EUA e seus proxys da
EUROPA e em outras partes do mundo, é uma guerra sangrenta, longa, de grande
atrito.
Dmitry Trenin diz: não há caminho de
volta, mas também há paz à frente.
Dmitri Trenin, ICDS, Rússia. Foto
cortesia: ICDS
Dmitry
Trenin, professor de pesquisa russo na Escola Superior de Economia e principal
pesquisador do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais – e
membro do Conselho Russo de Assuntos Internacionais (RIAC) – argumenta que esta
guerra já começou, e que o Ocidente pretende destruir a Rússia. Escrevendo para
a RT, ele observa que, para a Rússia, o período pré-guerra terminou em 2014;
para a China, era 2017; e para o Irã, 2023. Desde então, o conflito moderno e
difuso só se intensificou. Não é uma nova Guerra Fria. Desde 2022, a campanha
do Ocidente contra a Rússia tornou-se mais decisiva, com o risco de confronto
nuclear direto com a OTAN crescendo. Embora o retorno de Donald Trump à Casa
Branca tenha oferecido brevemente uma janela para evitar a escalada, em meados
dos falcões de 2025 euros nos EUA e na Europa Ocidental levaram o mundo
imediatamente a fechar novamente.
Resumo:
O presente artigo busca refletir criticamente sobre a posição do Brasil no
cenário geopolítico atual, marcado pela escalada de tensões entre Estados Unidos
e China no Indo-Pacífico, e entre Europa e Rússia no contexto eurasiático.
Argumenta-se que a neutralidade histórica do Brasil encontra-se em xeque diante
das ameaças explícitas de sanções por parte da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), caso o país se recuse a alinhar-se ao bloco ocidental.
Partindo de uma análise crítica da ordem internacional e do papel das potências
emergentes, o texto defende o fortalecimento da parceria estratégica Sul-Sul,
especialmente com China e Rússia, e a necessidade de o Brasil romper com o
neocolonialismo geopolítico do século XXI, inclusive retomando o debate sobre
sua autonomia estratégica e tecnológica, com destaque para a dissuasão nuclear.
Brasil
renasce entre as maiores economias do mundo: crescimento com dignidade e
redistribuição de renda, o que cria oportunidades de desenvolvimento de nosso
povo e do país.
Em
2025, o Brasil voltou a ocupar o 7º lugar entre as maiores economias do mundo
por Paridade de Poder de Compra (PPC). Esse dado, que pode parecer apenas
estatístico, carrega consigo uma verdade profunda: o país voltou a crescer com
dignidade, distribuição de renda e respeito à vida humana.
Há
poucos anos no governo da família Bolsonaro e aliados da direita e
extrema-direta, imagens de brasileiros catando ossos e carcaças em lixões de
frigoríficos correram o mundo. Eram os retratos cruéis da miséria extrema, do
abandono social, da fome institucionalizada. Hoje, essas imagens dão lugar a
outras: crianças voltando à escola com merenda no prato, trabalhadores com
carteira assinada, e famílias recuperando a capacidade de planejar o futuro.
Isso não é acaso, é projeto de país.
Genocídio e Campo de Concentração em Gaza, Cumplicidade Ocidental e a Resistência no Mar Vermelho
O que se desenrola diante dos
nossos olhos não é apenas mais um conflito no Oriente Médio. Trata-se de um genocídio
televisionado, um massacre sistemático contra o povo palestino em Gaza, com a
conivência do Ocidente e o silêncio ensurdecedor de instituições que deveriam
proteger os direitos humanos universais.
A relatora especial da ONU para
os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, publicou recentemente
um relatório devastador que classifica as ações de Israel como genocidas. O
documento expõe não apenas a brutalidade da ocupação, mas também como empresas
norte-americanas lucram diretamente com a destruição da Palestina.
Os bastidores da política externa dos EUA e a submissão da Europa
Por Luis Moreira de Oliveira Filho
“A guerra é a continuação da política por outros meios.” –
Carl von Clausewitz
Vivemos uma era de guerras encobertas por discursos
democráticos e promessas de paz. A guerra na Ucrânia, travada com sangue
europeu e armamento norte-americano, talvez seja o maior exemplo daquilo que o
analista Brian Berletic chama de “guerra por procuração”. Em entrevista ao
jornalista Glenn Greenwald, Berletic desconstrói os discursos oficiais que
cercam o conflito e revela os bastidores de uma política externa imperialista,
que se traveste de diplomacia, mas age pela força, pela sabotagem e pelo domínio.
O
vídeo “Exclusivo, documentos: como instituições dos EUA articularam/financiaram
avanço neoliberal no Brasil” (disponível em YouTube)
apresenta uma investigação jornalística com base em documentos inéditos,
revelando como instituições governamentais e privadas dos EUA influenciaram a
política econômica brasileira, especialmente nas décadas de 1990 e 2000.
Esse
vídeo apresenta documentos inéditos que mostram como instituições
estadunidenses, como o World Bank, o Fundo Monetário Internacional, o Departamento
do Tesouro e agências como a USAID, além de fundações como a Atlas Network e o NED,
articularam e financiaram o avanço do neoliberalismo no Brasil. Aqui está uma
análise aprofundada:
Trecho
1: O papel da Atlas Network
“A
Atlas Network financiou dezenas de think tanks no Brasil que atuaram na propagação
das ideias neoliberais.”
A Atlas Network é uma organização internacional baseada nos EUA que promove
políticas de livre mercado. No Brasil, ela financia instituições como o
Instituto Liberal, o Instituto Millenium e o Instituto de Estudos Empresariais,
que foram fundamentais para moldar a opinião pública contra políticas estatais
e em favor de privatizações e reformas trabalhistas e previdenciárias
Trecho
2: Empréstimos com condicionalidades
“O
Banco Mundial emprestou bilhões ao Brasil para a educação e infraestrutura, com
a condição de implementar reformas de orientação neoliberal.”
O
Banco Mundial e o FMI aplicaram condicionalidades nos empréstimos, exigindo
reformas como abertura de mercado, redução do Estado, reforma da previdência e
privatizações. Isso ocorreu fortemente nos anos FHC, mas também impactou
governos posteriores, como os de Lula e Dilma, em negociações mais sutis.
Trecho
3: Formação de lideranças
“Organizações
financiadas pelos EUA realizaram cursos e eventos para formar jovens lideranças
pró-mercado no Brasil.”
Diversos programas de formação, como os oferecidos pelo IFL (Instituto de
Formação de Líderes) e pela própria Atlas, têm o objetivo de formar lideranças
empresariais e políticas alinhadas com o pensamento liberal, muitas das quais
hoje estão no Congresso ou na mídia empresarial.
Trecho 4: Estratégias de guerra cultural
“A
guerra cultural e a crítica ao ‘marxismo cultural’ foram parte do plano de
inserção ideológica no Brasil.”
Financiadores ligados à extrema-direita americana (como os irmãos Koch) atuaram
também na propagação de narrativas como ‘escola sem partido’, anticomunismo e
revisionismo histórico, buscando deslegitimar movimentos sociais e
universidades públicas.
Trecho
5: Agentes locais da influência
“Instituições
como o MBL, o Instituto Liberal e o Millenium foram identificadas como
principais receptores de apoio indireto via fundações e consultorias.”
O MBL e outros grupos de nova direita surgiram com apoio logístico e ideológico
dessas redes, utilizando-se de redes sociais, cursos de formação e
financiamento indireto (como via convênios com ONGs estrangeiras ou
consultorias ligadas a empresas internacionais
Em um gesto raro e significativo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou, em 10 de julho de 2025, um artigo simultaneamente nos principais jornais da França, Espanha, Portugal, Alemanha, Itália, Japão, China, Argentina e México, intitulado: "Não há alternativa ao multilateralismo". Mais do que um posicionamento diplomático, o texto é um manifesto pela reconstrução do pacto civilizatório em ruínas.
O que está em jogo não é apenas a falência das instituições internacionais fundadas em 1945, mas o surgimento de um novo tipo de dominação global, silenciosa e eficaz: a dominação algorítmica. Os velhos impérios usavam canhões; os novos usam dados. O poder do software substitui o poder do exército. A manipulação da mente coletiva substitui a ocupação territorial. Vivemos sob a sombra da guerra cognitiva.
Brasil entre potências: soberania, comércio e a nova
geopolítica Sul-Sul
1. Um tarifaço, muitas consequências
A ameaça de Donald Trump de impor tarifas de até 50%
sobre produtos brasileiros teve um efeito colateral inesperado: recolocou o
debate sobre soberania econômica e alianças geopolíticas no centro da política
nacional.
Ao contrário do que esperavam os setores submissos ao
trumpismo, o presidente Lula respondeu com altivez:
“O Brasil pode sobreviver sem comércio com os EUA e
vai recorrer a outros parceiros para substituí-lo.”
A fala é mais que retórica. Ela expressa uma mudança
de eixo na política externa brasileira e um reconhecimento do que os números
já indicam há anos: o Brasil é hoje muito mais parceiro da China do que dos
Estados Unidos.
2. Os números
não mentem: China é o principal parceiro comercial do Brasil
Segundo dados divulgados pela Econovis e citados pela
Bloomberg:
Em 2024, o comércio total de bens entre Brasil e EUA
foi de US$ 92 bilhões.
Os EUA exportaram US$ 50 bi e importaram US$ 42 bi.
Resultado: superávit de US$ 7 bilhões para os EUA.
No mesmo período, o comércio entre Brasil e China foi
de US$ 188 bilhões.
A China exportou US$ 72 bi e importou US$ 116 bi.
Resultado: déficit de US$ 44 bilhões para a China, ou
seja, superávit para o Brasil.
Em outras palavras, a China compra muito mais do
Brasil do que vende, ao passo que os EUA fazem o contrário. Isso mostra
claramente quem contribui para a industrialização brasileira e quem se
beneficia da nossa desindustrialização.
Soberania Aérea e Dependência Tecnológica: a Embraer, o Brasil e
o Desafio da Autonomia na Indústria Aeronáutica
Em um mundo marcado pela disputa tecnológica e pelo reposicionamento
geopolítico, o setor aeronáutico emerge como um campo estratégico de soberania.
A exemplo da Rússia, que busca produzir aviões 100% nacionais, o Brasil,
através da Embraer, se depara com o desafio de reduzir sua dependência de
componentes estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos. Este artigo analisa
as possibilidades e limitações da indústria aeronáutica brasileira diante de
possíveis sanções internacionais, discute a cadeia de produção da Embraer, e
propõe caminhos para uma estratégia de autossuficiência nacional.
1. Introdução
A indústria aeronáutica é uma das mais complexas e tecnologicamente
exigentes do mundo. Seu controle representa não apenas poder econômico, mas
também soberania estratégica. A dependência de motores, aviônicos, softwares e
certificações internacionais coloca países em situação de vulnerabilidade. O
recente movimento da Rússia de produzir aviões com 100% de conteúdo nacional,
como resposta às sanções ocidentais, reacende o debate: e o Brasil, estaria
preparado para enfrentar algo semelhante?
Nasci na Ilha do Poró em
Jaguaruana e cresci em Russas, no
semiárido cearense, onde a vida, entre os anos 70 e 80, era marcada por
blecautes noturnos, escassez de alimentos, água e oportunidades. A infância e
juventude vividas sob o peso da seca, especialmente entre 1979 e 1983, moldaram
um tempo de dor e luta. Com o povo empurrado pela fome rumo à cidade, o que se
via era um país ausente para os pobres. O acesso à educação era para poucos, e
a sobrevivência dependia de ajudas esporádicas e serviços emergenciais.
Este texto é ao mesmo tempo
memória e posicionamento. Nele, entrelaço minha formação como educador, as
transformações sociais vividas em minha cidade e a disputa de projetos
políticos que marcaram o Brasil das últimas décadas. Uma história vivida por
dentro, por quem atravessou a fome, o analfabetismo, as derrotas e as esperanças
e que segue acreditando que a pátria é maior que qualquer narrativa de ódio.
Soberania em disputa: o falso patriotismo
desmascarado e a bandeira recolocada nas mãos do povo
1. Quando o
imperialismo expõe a farsa: o tarifaço de Trump e a traição de Bolsonaro
A recente taxação imposta por Donald Trump contra
produtos brasileiros escancarou o que já estava evidente para quem analisa a
política com seriedade: o bolsonarismo jamais foi patriótico ou nacionalista.
Pior que isso, como bem denunciou o empresário brasileiro Pih, foi cúmplice
ativo de uma política externa que fragilizou o Brasil, subordinando sua
soberania aos interesses da extrema-direita norte-americana.
“Trump só detém o poder de interferir na política
comercial por causa dos republicanos e do Congresso”, afirmou Hillary Clinton,
acrescentando que o ex-presidente dos EUA fez isso para “proteger um amigo
corrupto”, referência explícita a Jair Bolsonaro.
E é isso mesmo: a extrema-direita brasileira,
travestida de patriota, entregou o país como moeda de troca na disputa
geopolítica global. Colocou bonés com a sigla MAGA, bateu continência para
bandeiras estrangeiras, desmontou a indústria nacional, sabotou os BRICS e
transformou a diplomacia brasileira em apêndice do trumpismo.
1.
Introdução: o dilema político e simbólico do Brasil contemporâneo
O
Brasil vive um dilema decisivo entre projetos de nação: de um lado, a
reconstrução democrática com soberania popular, desenvolvimento e justiça
social; de outro, os resquícios de um projeto autoritário, subordinado e
farsante que se apropriou de palavras como "pátria",
"família" e "Deus" para entregar o país ao capital
internacional e à destruição institucional. Para entender esse impasse, é
necessário resgatar três conceitos fundamentais — nacionalismo, patriotismo e
soberania e compreender como foram manipulados pelo bolsonarismo.
2. Nacionalismo: emancipação ou
exclusão
O nacionalismo
pode ser lido de dois modos. Em sua forma progressista e libertadora, ele
representa a luta dos povos por autonomia, dignidade e desenvolvimento soberano
— como no caso das lutas anticoloniais, da Revolução Cubana ou dos movimentos
de integração regional na América Latina. Foi esse o nacionalismo defendido por
intelectuais como Moniz Bandeira e Samuel Pinheiro Guimarães, articulando
soberania nacional e integração Sul-Sul.
Mas
há também o nacionalismo excludente e autoritário, como aquele promovido pelo
bolsonarismo: baseado em intolerância, xenofobia, armamentismo e culto à força,
ele se apropria de símbolos nacionais para combater direitos civis, perseguir
minorias e legitimar o entreguismo econômico. Em vez de proteger a pátria,
serve para dividi-la internamente e subordiná-la externamente.