Declaração propõe que centros de pensamento político de todo
o mundo se reúnam para garantir direitos sociais e trabalhistas e
enfrentar problemas sociais e ambientais
Publicado em 15/12/2012, 10:45
Última atualização às 10:45
Lula e o presidente francês durante lançamento de iniciativa
que propõe novo modelo econômico (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto
Lula)
São Paulo – O Instituto Lula e a Fundação Jean Jaurès, ligada ao
Partido Socialista francês, lançaram na última quarta-feira (12) uma declaração
conjunta em que atacam os pacotes de austeridade adotados pelos países
europeus – que, quatro anos depois, ainda não amenizaram os impactos da
crise econômica – e propõem a adoção de políticas de crescimento.
"Somente assim a globalização poderá garantir o respeito à coesão social
e ao meio ambiente", defende o documento. "Hoje a globalização divide
ao invés de unir."
Denominada Fundações para o Progresso Social, a iniciativa foi
apresentada em Paris durante encontro entre o ex-presidente brasileiro, o
chefe de Estado francês, François Hollande, e a presidenta Dilma
Rousseff, que está em visita oficial à Europa. Dos três, apenas Lula
assina o manifesto. A França foi escolhida para o lançamento da
iniciativa durante a Rio+20. Na ocasião, Hollande demonstrou interesse
em conhecer melhor as políticas adotadas pelo Brasil para enfrentar a
crise, e convidou Lula e Dilma para um encontro na capital francesa.
Em termos gerais, enquanto os países europeus – orientados pelo Fundo
Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, a
chamada troika – optaram por reduzir salários, privatizar estatais e
demitir funcionários públicos, Brasília preferiu dar combate à recessão
apostando nas chamadas medidas anticíclicas e aumentando os
investimentos governamentais. Apesar das críticas por "excesso de
intervencionismo" na economia e dos baixo crescimento registrado neste
ano, as decisões têm contribuído para afastar os efeitos da crise.
De acordo com a assessoria do Instituto Lula, o fórum Fundações para o
Progresso Social seria formado por centros de pensamento ligados a
partidos de esquerda em todo o mundo. Por enquanto, convites formais
foram estendidos à Fundação Perseu Abramo, pertencente ao Partido dos
Trabalhadores, e à Friedrich Ebert Stiftung (FES), associada ao Partido
Social Democrata alemão. O próximo encontro deve ocorrer no Brasil no
final de 2013.
Êxito
Classificada pelo jornalista Luis Nassif como o "anti-consenso de
Washington", em contraposição ao encontro que sentou as bases do
neoliberalismo, o Fundações para o Progresso Social lembra as
articulações propostas pelo Foro de São Paulo. Criado há 22 anos, o
grupo foi impulsionado pelo dirigente cubano Fidel Castro para aglutinar
partidos e entidades de esquerda na América Latina – e também contou
com o protagonismo de Lula. O objetivo, então, era discutir alternativas
às políticas econômicas então vigentes na região.
"Somos uma iniciativa exitosa", avalia Valter Pomar, secretário-executivo do Foro de São Paulo, em entrevista à RBA.
"Começamos em 1990 com um único partido de governo, hoje estamos
presentes em importantes governos da região. Começamos com os Estados
Unidos falando de unipolaridade, hoje a hegemonia deles está em
declínio. Começamos com o socialismo em crise, hoje é o capitalismo que
está em crise. Começamos quando o neoliberalismo se dizia triunfante,
hoje estão em decadência."
Pomar afirma que o Foro de São Paulo não está formalmente envolvido
no Fundações para o Progresso Social, mas acredita que a iniciativa
"representa um reconhecimento – por parte de um setor da esquerda
europeia – de que o enfrentamento ao neoliberalismo encontra-se num
certo sentido mais avançado na América Latina do que na Europa. Neste
sentido,", pondera, "representa uma confirmação de teses que o Foro de
São Paulo abraçou desde sua fundação."
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