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sábado, 22 de dezembro de 2012

Será que 2012 foi mesmo o ano da Justiça?

247 - Como sempre ocorre nas edições de fim de ano, Veja circula com uma retrospectiva. Desta vez, define 2012 como "O ano da Justiça" e diz que "os ministros do Supremo foram os heróis do Brasil". Internamente, todos os seus colunistas se rasgam em elogios ao desfecho do julgamento da Ação Penal 470. Reinaldo Azevedo trata os "petralhas" como "ladrões de cofres e de instituições". José Roberto Guzzo, por sua vez, afirmou que este foi o ano em que o brasileiro comum e a justiça fizeram as pazes, pois o público teve a satisfação de ver gente poderosa condenada a prisão.
Ocorre que nem todos os poderosos condenados à prisão vivem aqueles que poderiam ser definidos como seus piores dias. Condenado a 39 anos de prisão, o bicheiro Carlos Cachoeira está livre, leve e solto, por decisão do desembargador Tourinho Neto. Neste sábado, ele se casa em Goiânia com Andressa Mendonça, a despeito de ter sido alvo de duas operações da Polícia Federal e de uma CPI que terminou sem relatório. 
Como se sabe, o esquema Cachoeira só era poderoso porque o bicheiro dispunha de um acesso privilegiado à revista Veja. Numa das pontas, publicava denúncias na revista gerados a partir de fitas, filmes e grampos clandestinos. Em outra, acionava o então senador Demóstenes Torres, um "mosqueteiro da ética", segundo Veja, para que os escândalos fossem reverberados no Congresso. Esse potente instrumento de pressão era usado em favor dos interesses do bicheiro no jogo, no mundo da construção pesada, na parceria com a empreiteira Delta, e em vários negócios no setor público. Ministros, governadores e outras autoridades eram permanentemente ameaçados pela quadrilha.
O ano termina com vários réus condenados na Ação Penal 470, mas sem que o PT tenha conseguido sequer aprovar a convocação do jornalista Policarpo Júnior, diretor de Veja em Brasília e principal desaguadouro das denúncias de Cachoeira, para a CPI que transcorreu no Congresso.
De certo modo, para a revista Veja, a estátua da Justiça, que tem uma venda sobre os olhos, merece, sim, o gorro de Papai Noel, como na imagem que ilustra seu editorial deste fim de semana. Um editorial sem palavras, que parece expressar um singelo agradecimento

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