Sem palavras, Veja faz da Justiça seu Papai Noel
José Dirceu foi condenado por Joaquim
Barbosa e demais ministros do Supremo Tribunal Federal a mais de 10 anos
de prisão. Carlinhos Cachoeira, que durante muitos anos foi a fonte
principal e parceiro da revista Veja em reportagens de interesse do
bicheiro, está solto por decisão do desembargador Tourinho Neto. Será
que 2012 foi mesmo o ano da Justiça?
247 - Como sempre ocorre nas edições
de fim de ano, Veja circula com uma retrospectiva. Desta vez, define
2012 como "O ano da Justiça" e diz que "os ministros do Supremo foram os
heróis do Brasil". Internamente, todos os seus colunistas se rasgam em
elogios ao desfecho do julgamento da Ação Penal 470. Reinaldo Azevedo
trata os "petralhas" como "ladrões de cofres e de instituições". José
Roberto Guzzo, por sua vez, afirmou que este foi o ano em que o
brasileiro comum e a justiça fizeram as pazes, pois o público teve a
satisfação de ver gente poderosa condenada a prisão.
Ocorre que nem todos os poderosos condenados à prisão
vivem aqueles que poderiam ser definidos como seus piores dias.
Condenado a 39 anos de prisão, o bicheiro Carlos Cachoeira está livre,
leve e solto, por decisão do desembargador Tourinho Neto. Neste sábado,
ele se casa em Goiânia com Andressa Mendonça, a despeito de ter sido
alvo de duas operações da Polícia Federal e de uma CPI que terminou sem
relatório.
Como se sabe, o esquema Cachoeira só era poderoso porque o
bicheiro dispunha de um acesso privilegiado à revista Veja. Numa das
pontas, publicava denúncias na revista gerados a partir de fitas, filmes
e grampos clandestinos. Em outra, acionava o então senador Demóstenes
Torres, um "mosqueteiro da ética", segundo Veja, para que os escândalos
fossem reverberados no Congresso. Esse potente instrumento de pressão
era usado em favor dos interesses do bicheiro no jogo, no mundo da
construção pesada, na parceria com a empreiteira Delta, e em vários
negócios no setor público. Ministros, governadores e outras autoridades
eram permanentemente ameaçados pela quadrilha.
O ano termina com vários réus condenados na Ação Penal
470, mas sem que o PT tenha conseguido sequer aprovar a convocação do
jornalista Policarpo Júnior, diretor de Veja em Brasília e principal
desaguadouro das denúncias de Cachoeira, para a CPI que transcorreu no
Congresso.
De certo modo, para a revista Veja, a estátua da Justiça,
que tem uma venda sobre os olhos, merece, sim, o gorro de Papai Noel,
como na imagem que ilustra seu editorial deste fim de semana. Um
editorial sem palavras, que parece expressar um singelo agradecimento
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