Viomundo
publicado em 21 de dezembro de 2012 às 7:58
por Conceição Lemes
Desde a semana passada, quando a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso aprovou convite para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dar explicações sobre a Lista de Furnas, os tucanos estão em polvorosa.
Em discurso no plenário, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) atacou:
– Esta Lista de Furnas é um documento
produzido em oficinas criminosas que operam sob o comando do PT com
objetivo de atacar a reputação dos adversários, com uma série de nomes
de políticos que teriam recebido contribuição ilegal da estatal.
Submetida à investigação, a perícia já constatou ser uma fraude. As
assinaturas foram falsificadas.
No início de novembro, o PSDB e aliados foram surpreendidos com outra
notícia embaraçosa. Dino Miraglia, advogado do lobista Nílton Monteiro,
entrou com petição no Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando ao
ministro Joaquim Barbosa que junte no mesmo inquérito a Lista de Furnas e
o mensalão tucano. Alega haver conexão entre os processos, pois envolve
as mesmas partes e a mesma forma de fazer caixa 2. Nílton, velho
conhecido dos mineiros, denunciou os dois esquemas.
“Os tucanos tentam colocar o Nílton Monteiro na conta do PT, mas o
Nílton é cria deles”, diz o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG).
“O Nílton foi usado pelo Cláudio Mourão para pressionar o Azeredo
[Eduardo Azeredo], de quem cobrava uma dívida da campanha eleitoral de
1998. Só que o Cláudio acabou perdendo o controle sobre o Nílton, e o
seu relatório com os financiadores da campanha daquele ano e os
candidatos beneficiados acabou vazando.”
“O próprio Nílton apresentou também a Lista de Furnas, elaborada por
Dimas Toledo, que, em 2002, fez uma operação monstro para levantar
recursos para as campanhas de tucanos e aliados”, prossegue Correia.
“Dimas lista nomes e quantias recebidas por candidatos que se se
beneficiaram do esquema. Seu objetivo era pressionar Aécio Neves, eleito
governador, e outros tucanos, para que pressionassem Lula a mantê-lo à
frente de Furnas, como, de fato, aconteceu por um tempo.”
Ou seja, duas listas tiram o sono dos tucanos. A do mensalão, que a
mídia insiste em chamar de mensalão mineiro, diz respeito à eleição de
1998. Eduardo Azeredo era candidato à reeleição pelo governo de Minas
Gerais pelo PSDB. Perdeu para Itamar Franco, na época no PMDB. Já a
Lista de Furnas refere-se à campanha eleitoral de 2002. Como ambas têm
origem em Minas, no mesmo grupo político, muita gente confunde os dois
esquemas.
“A mídia geralmente omite que Aécio estava na lista do mensalão
tucano, como tendo recebido R$ 110 mil reais e que o esquema extrapolou
Minas, irrigando até a campanha de reeleição de Fernando Henrique à
presidência”, afirma Correia. “Assim como passa por cima da história da
Lista de Furnas, feita toda no esquema político do Aécio e que se
espalhou pelo Brasil inteiro. Foi o esquema da Lista de Furnas que
sustentou os tucanos na campanha de 2002.”
Tucanos e aliados odeiam Rogério Correia. Em 2005, ao tomar
conhecimento da Lista de Furnas, o deputado levou-a à Polícia Federal
(PF) e ao Ministério Público Federal e Estadual para que fosse
investigada. Em 2011, após reportagem publicada por Veja,
tentaram lhe cassar o mandato, dizendo que havia participado do
processo de falsificação dos nomes da lista. “Falsa era a reportagem da Veja”, ressalta. “A verdade acabou aparecendo.”
Daí esta nossa entrevista com o deputado, que é líder da bancada do
PT na Assembleia Legislativa e do Movimento Minas Sem Censura. Aqui,
ele faz um raio X das duas denúncias que, desde que se tornaram
públicas, têm contado com a blindagem da mídia corporativa.
Viomundo — Na semana passada, o senador Aloysio Nunes disse
que a “perícia já constatou ser uma fraude” a Lista Furnas e que “as
assinaturas foram falsificadas”. O que acha?
Rogério Correia – Foi perícia da Polícia Federal que
atestou a autenticidade de Furnas. Assim como a lista do Cláudio
Mourão, contendo nomes de parlamentares que receberam do mensalão
tucano, na eleição de 1998. Esse documento foi periciado. Depois, o
próprio Cláudio Mourão confessou na Polícia Federal que o documento era
dele.
Viomundo – É impressão ou as pessoas confundem a Lista de Furnas com a do mensalão tucano?
Rogério Correia – Não é impressão, não. Muita gente
confunde. Primeiro, porque ambas têm origem em Minas, envolvem os mesmos
partidos políticos e os mesmos esquemas de caixa 2. Segundo, porque
cita nomes de candidatos que teriam recebido dinheiro do esquema para as
respectivas campanhas. Terceiro, porque a mídia não tem interesse em
divulgá-las, muito menos em diferenciá-las. Isso é proposital. Fica
parecendo então que só havia uma denúncia, quando, na verdade, são duas,
de eleições diferentes.
Viomundo – Esses esquemas vieram a público quando?
Rogério Correia – Em 2005, após a denúncia sobre o
mensalão do PT, é que eles ganharam notoriedade. Só que a lista do
Cláudio Mourão, a do mensalão tucano, é de 1998. A Lista de Furnas é da
eleição de 2002.
Viomundo – Vamos começar pela lista do Cláudio Mourão.
Rogério Correia – O Cláudio Mourão foi secretário de
Administração de Azeredo na Prefeitura de Belo Horizonte [1990-1992] e
no governo de Minas Gerais [1995 a 1º de janeiro de 1999]. Depois, foi o
coordenador financeiro da malsucedida campanha pela reeleição de
Azeredo ao governo do Estado. Consequentemente, dominava toda a operação
envolvendo dinheiro para a campanha: dos financiadores aos
beneficiários.
Pois bem, o Cláudio Mourão fez um documento onde relata
minuciosamente essa operação, que custou mais de R$ 100 milhões. O
documento atinge o próprio Azeredo, vários parlamentares e políticos,
entre os quais o hoje senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Nesse documento (íntegra, no final desta entrevista), ele diz, por
exemplo, que: arrecadou mais de R$ 100 milhões na gestão final de
Eduardo Azeredo; valores não declarados ao TRE-MG acima de R$ 90 milhões
(caixa 2); só a SMP&B e a DNA Propaganda, do Marcos Valério,
movimentaram quase R$ 54 milhões dos recursos levantados. Aécio Neves
está na lista do Mourão como tendo recebido R$ 110 mil para sua campanha
à Câmara dos Deputados.
Esse documento foi periciado e a sua autenticidade comprovada. Na
Polícia Federal, o Cláudio Mourão confessou que o documento era dele.
Viomundo – O que levou Cláudio Mourão a fazer e vazar esse documento? Como o Nílton Monteiro entrou no esquema?
Rogério Correia – O filho do Cláudio tinha uma
empresa de locação de veículos, que prestou serviços à campanha do
Azeredo. A fatura era de R$ 6 milhões. O Azeredo não tinha dinheiro para
pagar e o Cláudio queria receber.
A intenção era chantagear o Azeredo. Para isso, usou o Nílton Monteiro, de quem era muito amigo. A revista Época chegou a publicar uma foto dos dois numa lancha…
Só que o Nílton e o Cláudio se desentenderam. E o Nílton, que também
havia participado da campanha do Azeredo, começou a denunciar o esquema.
Foi pelas mãos do Nílton que a lista do Cláudio vazou. Os tucanos
perderam o controle sobre o Nílton. Eles querem colocar o Nílton
Monteiro na conta do PT, só que é da conta deles. O Nílton é cria deles.
Viomundo – E a história do cheque do Marcos Valério para o Cláudio Mourão?
Rogério Correia – O Cláudio entrou na Justiça para
cobrar a dívida do Azeredo. Quando chegou a campanha a senador, em 2002,
ele apertou o cerco, ameaçando denunciar tudo. Aí, entra o Marcos
Valério, pagando o Cláudio Mourão. Pagou na Justiça, com um cheque dele,
a dívida do Azeredo. O Cláudio Mourão retira então o processo. A
publicização da lista e do cheque do Marcos Valério derrubou o Azeredo
da presidência do PSDB. Tudo isso, lembre-se, apareceu pelas mãos do
Nílton Monteiro. Naquela época, estava-se discutindo o mensalão do PT.
Viomundo – Em Minas, vocês já conheciam essa denúncia?
Rogério Correia – Ela já tinha sido feita aqui. Era
mais ou menos público. Em 1999, portanto no ano seguinte à campanha de
Azeredo pela reeleição ao governo de Minas, o Durval Ângelo, que é
deputado do PT, lançou o livro O voo dos tucanos, onde contava como o dinheiro dos tucanos tinha sido obtido.
Na época, o Itamar Franco, que disputava o governo de Minas Gerais
pelo PMDB, entrou com uma ação, pedindo a impugnação da candidatura de
Azeredo devido ao Enduro da Independência. Para levantar recursos para a
campanha, a SMP&B, do Marcos Valério, promoveu o Enduro e obteve
recurso, a título de patrocínio, da administração direta e empresas
públicas de Minas Gerais, como Copasa, Bemge, Loteria Mineira, Comig.
Apenas uma pequena parte foi gasta com o Enduro. O grosso foi
repassado, segundo o próprio Mourão, à campanha do Azeredo e aliados.
Outra fonte de recurso público foi a Cemig, que repassou à SPMP&B R$ 1,6 milhão para a campanha publicitária A energia do bem.
Só que, na verdade, o recurso foi para o caixa 2 da campanha dos
tucanos, como comprova documento que obtive da própria direção da Cemig.
No mensalão tucano, portanto, o dinheiro público é na veia. Não há
nenhuma dúvida sobre isso. O que o Nílton Monteiro trouxe de novo, em
2005, foram a lista do Mourão e os DOCs bancários de repasse de recursos
da SMP&B para os candidatos.
Viomundo – Mas a mídia insiste em chamar de mineiro o mensalão tucano…
Rogério Tucano – Teve origem em Minas mas extrapolou
o Estado. O próprio Azeredo, num dos momentos de pressão, já falou
que, em 1998, foi recurso para a campanha de reeleição de Fernando
Henrique à presidência.
Reportagem da CartaCapital dessa semana mostra que o
ex-presidente Fernando Henrique usou mesmo R$ 3,5 milhões do mensalão
tucano, através das empresas de Marcos Valério. Na época, elas mantinham
contrato com a Fundacentro, do Ministério do Trabalho.
Viomundo – O Marcos Valério continuou a operar para os tucanos depois?
Rogério Correia – Sim. Em 1998, houve a eleição,
Itamar Franco ganhou aqui, o Fernando Henrique lá no Planalto. Em 1999,
ao tomar posse, Itamar cortou todos os contratos do governo de Minas com
a SMP&B. O Marcos Valério foi operar em Brasília. Sumiu daqui.
Passou a trabalhar para os Correios, levado pelo tucano Pimenta da
Veiga, então ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique
Cardoso.
Na eleição seguinte, em 2002, o Aécio ganhou aqui para governador e
Lula foi eleito presidente. Em 2003, o Marcos Valério voltou para cá.
Começou a atuar na propaganda do governo de Minas, da Assembleia
Legislativa…
Infelizmente, o PT, em vez de romper os contratos com o Valério em
Brasília, deixou que ele se aproximasse… Ele conheceu o Delúbio e, aí,
vem toda a história com o PT.
Lembro-me de que, em 2005, a CPI dos Correios veio a Minas, porque
havia denúncias de que policiais civis estavam queimando notas fiscais e
outros documentos aqui em Belo Horizonte. Colocou-se isso na conta do
mensalão do PT. Só que, na verdade, estavam queimando arquivos e
documentos referentes às operações da SMP&B, de Marcos Valério para o
governo Aécio, em Minas.
Como o pessoal do PT estava totalmente atordoado naquela CPI, os
tucanos aproveitaram para queimar toda a parte de Minas. E a CPI dos
Correios não conseguiu ou não quis apurar o que aconteceu. Por isso,
nada das operações de Marcos Valério para o governo Aécio vieram à tona.
Viomundo – O Marcos Valério operou então, simultaneamente, para os dois lados?
Rogério Correia – Exatamente, ao mesmo tempo. Ele operou em Brasília para o PT e aqui em Minas para o PSDB. Foi o auge do Marcos Valério.
Viomundo – E a Lista de Furnas?
Rogério Correia — Esse esquema não é do Valério, é
do Dimas Toledo, para a eleição de 2002. O Dimas Toledo era diretor de
Furnas, onde durante muitos anos operou para os tucanos.
Em 2002, o Dimas fez uma operação monstro para os tucanos, PFL (hoje
DEM) e demais aliados com vistas às eleições daquele ano. Lula disputava
a presidência com o Serra. Alckmin era candidato a governador de São
Paulo e Aécio, a governador de Minas. Se você examinar a Lista de Furnas
vai ver que eles operaram no Brasil inteiro, a partir de Minas.
Operaram pro Serra, Alckmin, Aécio…
Dimas é extremamente ligado a Aécio e a Danilo de Castro, que já foi
deputado federal e presidente da Caixa Econômica Federal no governo
Fernando Henrique Cardoso. É o homem forte do Aécio. Foi secretário de
Governo na gestão Aécio e hoje secretário de Governo do Anastasia
[Antonio Anastasia, governador de MG pelo PSDB].
Pois bem, o Dimas, com conhecimento de Danilo de Castro, captou
recursos de empresas que trabalhavam com Furnas e formou o caixa 2, o
mensalão de Furnas. Foi quem fez a lista com os nomes e valores
recebidos pelos candidatos.
Viomundo – Por que o Dimas fez a lista incriminadora se era operador dos tucanos?
Rogério Correia – Para pressionar Aécio e demais
tucanos, para permanecer em Furnas. Dimas queria que o tucanato fizesse
pressão sobre o Lula, para mantê-lo na direção da empresa, como, de
fato, aconteceu por um tempo.
Aqui, o pessoal do PT ficou furioso, porque o Dimas é inimigo nosso e
continuou em Furnas a pedido do Aécio, que fez muita pressão para isso
ocorrer.
Quem apresentou a Lista de Furnas foi o Nílton Monteiro. Daí o ódio
que os tucanos e aliados têm do Nílton. Chamam-no de estelionatário,
vagabundo, etc, etc. Insisto. O Nílton Monteiro é alguém que veio lá de
dentro deles, é cria deles.
Viomundo – E como essa lista se tornou pública?
Rogério Correia – O Nílton Monteiro mostrou essa
lista para um monte de gente, inclusive para mim. Muitos não
acreditaram… Todo mundo ficou desconfiado, com medo de mexer, já que
envolvia as principais figuras do tucanato. Mas, como antes ele havia me
dado uma cópia da lista do Cláudio Mourão e doss DOCs bancários, que
eram verdadeiros, eu resolvi dar atenção e verificar o que era.
Pedi-lhe então uma cópia, pois observei que a lista tinha lógica
política. Só poderia fazê-la quem conhecesse bem a política mineira. Era
impossível que fosse inventada de tão certinha que estava. Estão nela
tucanos, peemedebistas, que naquele momento estavam divididos aqui… O
Itamar Franco, por exemplo, apoiou o Aécio e o Lula.
O que eu fiz? Entreguei o xérox da lista para a Polícia Federal examinar. Quem passou a investigá-la foi o delegado Luís Flávio Zampronha. O
Nílton ficou enrolando para não entregar os originais. Depois de muito
tempo, o Zampronha conseguiu com que o Nílton os entregasse. Se eu não
me engano, isso aconteceu já em 2006… O Zampronha veio de Brasília e o
Nílton entregou os originais nas mãos dele. Nessa altura, a Polícia
Federal já havia grampeado e tinha dicas de que o documento era
verdadeiro.
Viomundo – Foi o senhor que tornou pública a Lista de Furnas?
Rogério Correia – Não, eu passei para a Polícia
Federal. Mas como o Nílton entregou-a para um monte de gente em 2005,
não se sabe quem a colocou na internet. Os tucanos trataram logo de
desmoralizá-la, porque não havia o original. Diziam que o documento era
falso.
Mas a Polícia Federal ficou atrás do Nílton, até que um dia ele
resolveu entregá-la. O Zampronha veio a BH para receber receber
pessoalmente, das próprias mãos de Nílton, a Lista de Furnas.
O Zampronha mandou periciar. Passados uns dois meses, veio o
resultado da perícia: o documento era verdadeiro. Não havia sido
montado, não era falsificado e a assinatura era do Dimas Toledo. Não se
tem mais dúvidas disso.
Viomundo – Mas os tucanos insistem que a lista é falsa.
Rogério Correia — Os tucanos mandaram fazer perícia
em outro documento que não o original. Fizeram perícia em cima de algum
xerox. O único original existente é o que foi periciado pela Polícia
Federal, ele está na mãos da Polícia Federal até hoje.
Mais recentemente os tucanos contrataram um especialista
norte-americano para fazer perícia numa lista xerocada. Pagaram R$ 200
mil para esse perito, que é desmoralizado nos EUA, já foi até processado
lá.
Viomundo – O Dimas Toledo disse que não assinou a Lista de Furnas e que a Polícia Federal havia sido induzida a erro.
Rogério Correia — Perguntaram isso ao Zampronha. Ele
acha que não existe a possibilidade de a Polícia Federal ter errado.
Para a Polícia Federal, a Lista de Furnas é autêntica, verdadeira. Não
tem como os tucanos continuarem negando. A única assinatura da lista é a
assinatura do Dimas Toledo, que é comprovadamente verdadeira.
Viomundo – E o conteúdo?
Rogério Correia – De público, há três confissões que
atestam a veracidade do conteúdo. A primeira foi a do Roberto
Jefferson, que disse que recebeu exatamente o valor que consta lá: R$ 75
mil. Ele disse: “não posso dizer dos outros, mas eu posso dizer que eu
recebi o que está aí”.
Em matéria postada no seu blog, o Noblat contou que havia conversado
com um deputado que disse que o valor que constava da lista era
realmente o que ele havia recebido. O Noblat não quis dar o nome do
deputado.
Mais recentemente, quando os tucanos tentaram cassar o meu mandato
aqui, o deputado estadual Antonio Júlio, do PMDB, foi para cima deles.
“Cassar o quê, se o que ele diz é verdade?!”, reagiu Antonio Júlio na
época.
Antonio Júlio pediu a Dimas uma verba não para ele, mas para um
hospital da sua base eleitoral. O Dimas mandou para lá exatamente o
valor que está na Lista de Furnas. O hospital recebeu e o Antonio Júlio
tem o recibo disso (imagem abaixo). Foi a pá de cal nos tucanos, que
murcharam, e na matéria da Veja.
Viomundo – Como foi essa tentativa de cassá-lo?
Rogério Correia – Antes, vou explicar a armação montada pelo pessoal do Aécio & Cia.
Danilo de Castro nomeou Márcio Nabak como delegado do Departamento de
Operações Especiais de Minas, o Deoesp, antigo DOPS. O Nakak é
nitidamente tucano, um capacho do Danilo. Tem péssima reputação aqui, há
vários procedimentos contra ele, não poderia nunca ser nomeado delegado
tal a ficha dele. Inclusive, já foi retirado do cargo.
Bem, o Danilo foi colocado no Deoesp para fazer basicamente esta
operação. Prendeu Nílton Monteiro por crimes que ele teria cometido no
passado, nada a ver com Furnas. Mas o objetivo real era que falasse
sobre a Lista de Furnas. Segundo o Nílton, três deputados federais do
PSDB de Minas estiveram com ele e o Nabak, oferecendo liberdade em troca
de delação premiada: Domingos Sávio, vice-presidente do PSDB, Marcos
Pestana e o Rodigo de Castro, que é filho do Danilo de Castro, o homem
forte do Aécio.
Segundo o Nílton, o Nabak, na frente dos deputados federais, fez-lhe a
proposta de delação premiada. Propôs que ele renunciasse à lista de
Furnas, dissesse que era falsa e que tinha sido armação minha. De dentro
da prisão, o Nílton mandou uma carta à Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais contando tudo isso.
Estava na cara que prenderam o Nílton para poder me acusar depois. Aí, começaram a plantar notas na imprensa.
Ao mesmo tempo, o Nabak solicitou no Rio de Janeiro o inquérito sobre
a Lista de Furnas. Lá existem conversas grampeadas do Nílton Monteiro.
E, segundo a Veja, teria conversas grampeadas do Nílton Monteiro com um assessor meu e comigo mesmo.
Dentro do contexto, as conversas não são nada comprometedoras. Mas a Veja
pinçou trechos, para dar a entender que um assessor meu falsificava com
o Nílton Monteiro nomes para a lista. E com essas “informações” Veja
publicou a matéria contra mim. Eles queriam me desmoralizar e depois me
cassar. Mas como eu tinha todos os documentos mostrando que aquilo era
mentira, a história não pegou.
Entrou em cena o esquema de sempre: PSDB vazou a história para a Veja, Estado de Minas
repercutiu, PSDB viu e pediu a minha cassação. E como eles são maioria,
iriam me cassar mesmo. Só que nós reagimos, fomos para cima deles e
ainda provamos que falsa era a matéria da Veja.
Viomundo — Que deputados pediram a sua cassação?
Rogério Correia – O Domingos Sávio, vice-presidente do PSDB.
Viomundo – No final de 2011, a procuradora criminal Andréia
Baião, do Ministério Público do Rio de Janeiro, concluiu o seu trabalho
sobre a Lista de Furnas, comprovando a existência do esquema de caixa
2.
Rogério Correia – Exatamente. A conclusão dela é
que a Polícia Federal, com base nos grampos, ficou ainda mais convencida
de que a Lista de Furnas era verídica. Segundo relato da Polícia
Federal, até para a mulher dele, o Nílton falava que a lista é
verdadeira. Os grampos demonstraram também que ele procurava ganhar
tempo com os dados que tinha em mãos, já que é um lobista. A dra.
Andréia Baião denunciou o Dimas Toledo por corrupção ativa e o Roberto
Jefferson por corrupção passiva.
Outra ação que demonstra a veracidade da lista foi a derrota do então
deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA). Ele entrou com uma ação
aqui em Belo Horizonte contra o Nílton Monteiro, alegando que ele teria
falsificado a lista. Tanto a juíza Maria Luíza de Marilac Alvarenga
Peixoto, que examinou o caso inicialmente, quanto o Tribunal de Justiça
de MG deram ganho de causa ao Nílton Monteiro. A juíza baseou-se no
depoimento do delegado Praxedes, que trabalhou junto com o Zampronha,
que levou ao conhecimento dela que o documento era verdadeiro e o Nílton
não o havia falsificado.
Viomundo — O que aconteceu com esta lista?
Rogério Correia — A procuradora mandou o inquérito
para o juiz federal no Rio de Janeiro, que se julgou incompetente para
analisar o assunto. Disse que não era caso de Justiça Federal, e sim,
estadual, porque, segundo ele, Furnas é uma empresa de economia mista.
Se fosse empresa pública, a competência seria federal. Então todo
procedimento voltou para a promotoria no Rio de Janeiro, onde está sob
análise.
O advogado do Nílton Monteiro, que também trabalha para família
daquela modelo mineira que circulava nos meios políticos e foi
assassinada, pediu ao ministro Joaquim Barbosa, no Supremo, que junte a
lista de Furnas e o mensalão tucano no mesmo processo, alegando que as
pessoas envolvidas são as mesmas, a forma de fazer caixa 2 é a mesma. O
ministro Joaquim Barbosa está estudando.
Viomundo – E agora?
Rogério Correia – O Roberto Gurgel, procurador-geral
da República, e o ministro Joaquim Barbosa, atualmente presidente do
STF, têm conhecimento de tudo isso. Dizem que é muito mais fácil um saci
cruzar as pernas do que o Gurgel investigar o tucano. Esperamos que,
diante de tantas provas, o ministro Barbosa acolha a solicitação de
juntar a investigação da Lista de Furnas com o mensalão tucano.
Agora, o que pretendo mesmo é ampliar a campanha pela reforma
política, em especial o financiamento público. Isso que aconteceu, no
fundo, tem relação com o modelo eleitoral. O crime de caixa 2 é
inerente a esse modelo. A solução é fortalecer os partidos políticos de
caráter ideológico definido, permitindo governabilidade a partir do
resultado eleitoral e não do toma lá dá cá entre o Executivo e o
Parlamento.
Mensalão tucano: a lista do Cláudio Mourão
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