Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Luciano Coutinho, presidente do BNDES em uma das mesas
O “Fórum pelo progresso social. O crescimento como saída para a
crise”, realizado nos últimos dias 11 e 12, em Paris, produziu um
documento conjunto em que convoca fundações políticas e institutos
progressistas do mundo inteiro para debater e propor uma nova governança
global. A declaração é assinada pelo Instituto Lula e pela Fundação
Jean Jaurès, que foram as duas promotoras do encontro.
O objetivo da iniciativa “Fundações pelo Progresso Social” é
construir uma articulação internacional que busque convergências e
consensos e forme uma união que tenha influência nos destinos do mundo. A
ideia da iniciativa vem da constatação de que a globalização atual
divide, em vez de unir. A partir disso, a proposta é derrotar, no campo
das ideias, o consenso obtido pelo neoliberalismo nas últimas décadas,
cujo receituário foi ineficiente para poupar os países e suas populações
dos efeitos da crise financeira pós-2008.
Leia a íntegra do documento abaixo.
DECLARAÇÃO CONJUNTA DA FUNDAÇÃO JEAN JAURÈS E DO INSTITUTO LULA
A globalização é um imenso desafio com o qual se confronta a humanidade.
Ela tem um poder formidável de mudança para todas as sociedades: a
mudança econômica, com a intensificação das trocas; a mudança cultural,
pois essas trocas possibilitam a circulação de ideias e a transformação
das práticas culturais e de costumes; a mudança política, já que a
emergência de preocupações partilhadas exige uma vontade comum de agir e
de superar conjuntamente as dificuldades.
No entanto, a globalização, da forma que ocorre atualmente, está longe de satisfazer as aspirações que legitimamente suscita.
A crise econômica internacional agrava a concorrência entre os países
e as sociedades. Ela atinge os mais vulneráveis, particularmente os
trabalhadores e os jovens. Ela afeta a todos os países, os que estão em
recessão e os que estão em crescimento. Ela conduz governos a adiar as
decisões necessárias para prevenir o aquecimento global, sendo que a
exaustão e a degradação dos recursos naturais corre o risco de atingir
um ponto de não-retorno devido à falta de uma ação planejada de forma
conjunta.
Sejamos claros: hoje, a globalização divide ao invés de unir.
Isoladas, as políticas de austeridade mostraram seus limites para
encontrar a saída da crise. A retomada ainda não esta garantida, ao
mesmo tempo em que os direitos econômicos e sociais estão ameaçados. É
imprescindível que sejam adotadas políticas de crescimento. Somente
assim a globalização poderá garantir o respeito à coesão social e ao
meio ambiente.
Uma nova governança é necessária para, de um lado, regular os
conflitos entre as nações e garantir a paz e, de outro, permitir que
cada nação realize o modelo de sociedade que escolheu. Os poderes
públicos devem garantir que todos tenham oportunidades de desenvolver
suas capacidades individuais. Devem também trabalhar em prol da
perenidade do meio ambiente para as gerações futuras.
Mas um novo mundo está em gestação para responder aos desafios
sociais, ambientais e políticos da globalização. A sociedade civil
mundial se tornou uma realidade tangível. Políticas públicas inovadoras e
outros modos de governar surgem em todos os continentes,
particularmente nos países emergentes e em desenvolvimento. As
instâncias multilaterais também estão se reconfigurando. A constituição
do G20 reflete a mudança dos equilíbrios mundiais, mas seu impacto ainda
limitado ilustra a dificuldade dos governos de chegarem a um acordo e
de agir de forma concreta.
As respostas às questões colocadas pela globalização não se afirmarão
espontaneamente. Elas se construirão pelo diálogo, pelo debate das
opiniões dos estudiosos e pela mobilização dos atores e dos povos, no
sentido mais amplo.
É por isso que, a partir deste fórum que se reuniu em Paris nos dias
11 e 12 de dezembro, lançamos um chamado para as outras fundações
políticas e institutos progressistas do mundo inteiro: vamos constituir a
iniciativa “Fundações pelo Progresso Social”. Fiéis à nossa vocação e à
nossa missão, vamos nos reunir periodicamente para debater, escutar,
propor. Vamos fazer emergir convergências e consensos; vamos nos unir
para ter uma influência nos destinos do mundo.
Os riscos que atualmente ameaçam a humanidade são grandes demais para
nos focarmos apenas em uma gestão de curto prazo destes problemas.
Fazemos uma conclamação em defesa da confiança na capacidade humana
de se reinventar e do poder criador de nossa sociedade-mundo, para sair
definitivamente da crise e construir as bases de um futuro harmonioso
que possa ser compartilhado por todos.
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