No balanço dos principais acontecimentos políticos do ano, as eleições de outubro têm lugar garantido.
De um lado, porque eleições sempre são importantes. São raros
os momentos em que o conjunto de um país se expressa de maneira direta
e, em nossa tradição, menos frequentes que na de outros.
Desde a redemocratização, entre referendos e plebiscitos, só
fizemos dois de âmbito nacional. O costume de convocá-los sempre, tão
característico da cultura política norte-americana, nunca se enraizou no
Brasil.
Restam-nos, portanto, apenas as consultas em que, a cada dois
anos, são ouvidos os cidadãos para escolher os ocupantes dos cargos
eletivos no Executivo e no Legislativo.
Nelas, ninguém fala pelas pessoas, ninguém tem o direito de se
atribuir o conhecimento do que elas querem. Estão dispensados os
intérpretes e os bem-intencionados que julgam saber o que é “bom para o
povo”.
De outro lado, as eleições municipais deste ano se tornaram mais
relevantes por acontecer em um momento de forte tensão em nosso sistema
político. A sucessão presidencial está chegando e as oposições andam
nervosas.
A perspectiva de um nova vitória do PT em 2014, sugerida pelas
pesquisas que dão folgada vantagem para Dilma ou Lula, cria um cenário
preocupante para todos os adversários, especialmente à direita.
Confirmado esse prognóstico e depois do quarto mandato petista
seguido, quem apostaria em uma mudança em 2018? Teria o PT condições de
realizar o desejo tucano de permanecer 20 anos à frente da presidência
da República? E o que viria na sequência?
Tentando fazer desde logo o possível para evitar esse futuro,
as oposições politizaram e nacionalizaram o processo de escolha de
prefeitos e vereadores para além do habitual. Pensando adiante,
decidiram entrar na eleição local com o que julgavam força máxima.
Atuaram em duas frentes. Investiram pesado na estratégia de
desgastar a imagem do PT, esperando com isso prejudicar seus candidatos e
preparar um discurso para os próximos meses. Escalaram seu “grande
campeão”, o ex-governador José Serra, para vencer a simbólica batalha
paulista.
Os partidos da oposição e a mídia conservadora fizeram tudo que
estava a seu alcance. Na desconstrução do PT, bombando o julgamento do
mensalão, no esforço de torná-lo o “maior escândalo de nossa história
política”. Para eleger Serra, o que puderam.
Como sabemos, não deu certo. O PT venceu onde tinha que vencer e
perdeu onde tinha que perder, sem que a vasta maioria dos eleitores
fosse afetada pelo estardalhaço armado pela mídia. Teve em São Paulo uma
saborosa vitória, não apenas pela derrota que impôs a Serra, mas por
ter feito de Fernando Haddad um nome de óbvio futuro na política estadual e nacional.
Entre 1996 e 2000, PSDB e DEM cresceram no número de
prefeituras conquistadas, indo de 1851 para 2018. Nas eleições
legislativas, foram de 152 deputados federais em 1994 a 204, em 1998.
Voltaram a 154, em 2002, quando Lula obteve seu primeiro mandato.
De 2000 para cá, os dois partidos sistematicamente perderam
bases municipais: 1350 prefeituras em 2004, 1282 em 2008 e 980 este ano.
Na Câmara dos Deputados, suas bancadas vieram de 131, em 2006, para os
96 que elegeram em 2010.
São números que sugerem haver relação estreita entre os dois
processos. Partidos que se saem mal na eleição municipal tendem a
diminuir de tamanho na representação na Câmara.
É o horizonte dos dois maiores partidos de oposição. Com metade
das prefeituras que tinham na época de Fernando Henrique, vão para 2014
se arriscando a não passar de discreta minoria no futuro Congresso.
Mais que a contabilidade de quem venceu aqui ou acolá, esse é o saldo da eleição municipal de 2012.
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