A excelente entrevista do ex-ministro de FHC e Cientista Politico Bresser Pereira é um chute no saco da hipocrisia que abateu às elites brasileira e setores da mídia brasileira sobre o caso do "mensalão", como se o Brasil até então, nunca houvesse corrupção.
A grande questão é que a mídia brasileira, com pouca exceção, tem um moralismo seletivo porque os grandes casos de corrupção da era FHC foram escondidos e não tiveram as manchetes garrafais como o PT tiveram. Veja o texto abaixo e faça suas devidas reflexões.Depois da ruína neolibeal, o "moralismo liberal"
Ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Bresser
Pereira publica duro artigo sobre o comportamento das elites ao longo
da Ação Penal 470. "O que significou, afinal, esse julgamento? O início
de uma nova era na luta contra a corrupção no Brasil, como afirmaram com
tanta ênfase elites conservadoras, ou, antes, um momento em que essas
elites lograram afinal impor uma derrota a um partido político que vem
governando o país há dez anos com êxito?"
247 - A ação penal 470 foi um
julgamento político. O momento em que as elites brasileiras, após a
rúína neoliberal, decidiram se apegar ao velho moralismo liberal. A tese
é do cientista político Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro de
FHC, que publicou artigo na Folha. Leia abaixo:
O mensalão, as elites e o povo
Depois do fracasso da aventura neoliberal, as elites se prendem ao velho moralismo liberal
O fato político de 2012 foi o julgamento pelo Supremo
Tribunal Federal do processo do mensalão e a condenação a longos anos de
prisão de três líderes do Partido dos Trabalhadores com um currículo
respeitável de contribuições ao país.
O que significou, afinal, esse julgamento? O início de uma
nova era na luta contra a corrupção no Brasil, como afirmaram com tanta
ênfase elites conservadoras, ou, antes, um momento em que essas elites
lograram afinal impor uma derrota a um partido político que vem
governando o país há dez anos com êxito?
Havia um fato inegável a alimentar o processo e suas
consequências políticas. O malfeito, a compra de deputados e o uso
indevido do dinheiro público existiram. Mas também é inegável que, em
relação aos três principais líderes políticos condenados, não havia
provas suficientes -provas que o direito penal brasileiro sempre exigiu
para condenar. O STF foi obrigado a se valer de um princípio jurídico
novo, o domínio do fato, para chegar às suas conclusões.
Se, de fato, o julgamento do mensalão representou grande
avanço na luta pela moralidade pública, como se afirma, isso significará
que a Justiça brasileira passará agora a condenar dirigentes políticos e
empresariais cujos subordinados ou gerentes tenham se envolvido em
corrupção. Acontecerá isso? Não creio.
Como explicar que esse julgamento tenha se constituído em
um acontecimento midiático que o privou da serenidade pública necessária
à justiça? Por que transformou seu relator em um possível candidato à
Presidência (aquele, na oposição, com maior intenções de votos segundo o
Datafolha)? E por que, não obstante sua repercussão pública, o
Datafolha verificou que, se a eleição presidencial fosse hoje, tanto
Dilma Rousseff quanto o ex-presidente Lula se elegeriam no primeiro
turno?
Para responder a essas perguntas é preciso considerar que
elites e povo têm visão diferente sobre a moralidade pública no
capitalismo.
Enquanto classes dominantes adotam uma permanente retórica
moralizante, pobres ou menos educados são mais realistas. Sabem que as
sociedades modernas são dominadas pela mercadoria e pelo dinheiro.
Ou, em outras palavras, que o capitalismo é
intrinsecamente uma forma de organização econômica onde a corrupção está
em toda parte. O Datafolha nos ajuda novamente: para 76% dos
brasileiros existe corrupção nas obras da Copa.
Hoje, depois do fracasso da aventura neoliberal no mundo,
as elites, inclusive a classe média tradicional, estão desprovidas de
qualquer projeto político digno desse nome e se prendem ao velho
moralismo liberal.
Já os pobres, pragmáticos, votam em quem acreditam que
defende seus interesses. Não acreditam que elites e o país se
moralizarão, mas, valendo-se da democracia pela qual tanto lutaram,
votam nos candidatos que lhes inspiram mais confiança.
Não concluo que a luta contra a corrupção seja inglória.
Ela é necessária, e sabemos que quanto mais desenvolvido, igualitário e
democrático for um país, mais altos serão seus padrões morais. Terem
havido condenações no julgamento do mensalão representou avanço nessa
direção, mas ele ficou prejudicado porque faltou serenidade para
identificar crimes e estabelecer penas.
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