O ano termina e o clima político anda ruim. Piorou nos últimos meses e nada indica que vá melhorar nos próximos.
O que provoca esse anuviamento não são as tensões naturais que
existem entre oposição e governo. Nada há de extraordinário nelas.
Estranho seria se vivessem de acordo.
Está em curso um duplo processo de desmoralização. O primeiro foi
concebido para atingir o PT e sua principal liderança, o ex-presidente
Lula. O segundo decorre do anterior e afeta o sistema político como um
todo.
Alguns diriam que esse é que é grave. Que a campanha anti-PT é
circunscrita e tem impacto limitado. Que seria, portanto, menos
preocupante.
Pensar assim é, no entanto, um equívoco, pois um leva ao outro.
Em democracias imaturas como a brasileira, todo o sistema partidário
sofre quando uma parte é atacada. Mais ainda, se for expressiva.
O PT não é apenas um partido grande. É, de longe, o maior. Sozinho,
tem quase o dobro de simpatizantes que todos os demais somados.
Só um ingênuo imaginaria possível um ataque tão bem calibrado que nem
um respingo atingisse os vizinhos. Na guerra moderna, talvez existam
mísseis de precisão cirúrgica, capazes de liquidar um único individuo.
Na política, porém, isso é fantasia.
A oposição institucional o reconhece e não foi ela a começar a
demonização do PT. Até enxergou no processo uma oportunidade para ganhar
alguma coisa. Mas suas lideranças mais equilibradas sempre perceberam
os riscos implícitos.
Como vemos nas pesquisas, a população desconfia dos políticos de
todos os partidos. Acha que, na política, não existem santos e todos são
pecadores. Quando os avalia, não contrapõe “mocinhos” e “bandidos”.
Com seus telhados de vidro e conscientes de que processos desse tipo
podem se tornar perigosos, os partidos de oposição nunca se
entusiasmaram com a estratégia.
Foi a oposição extra-partidária quem pisou e continua a pisar no
acelerador, supondo que é seu dever fazer aquilo de que se abstiveram
os partidos.
Pôs sua parafernália em campo - jornais, redes de televisão, revistas
e portais de internet - para fragilizar a imagem do PT. A
escandalização do julgamento do mensalão foi o caminho.
Como argumento para esconder a parcialidade, fingem dar importância à
ética que sistematicamente ignoraram e que, por conveniência, sacam da
algibeira quando entendem ser útil. Quem duvidar, que pesquise de que
lado tradicionalmente estiveram as corporações da indústria de mídia ao
longo de nossa história.
Os resultados da eleição municipal deste ano e os prognósticos para a
sucessão presidencial em 2014 mostram que a escalada contra o PT não
foi, até agora, eficaz.
Sempre existiu um sentimento anti-democrático no pensamento
conservador brasileiro. Desde a República Velha, uma parte da elite se
pergunta se nosso povo está “preparado para a democracia”. E responde
que não.
Que ele precisa de tutores, “pessoas de bem” que o protejam dos
“demagogos”. É uma cantilena que já dura mais de cem anos, mas que até
hoje possui defensores.
A frustração da oposição, especialmente de seus segmentos mais
reacionários, a aproxima cada vez mais da aversão à democracia. Só não
vê quem não quer como estão se disseminando os argumentos autoritários.
Embora acuados, cabe aos políticos reagir. É a ideia de representação
e o conjunto do sistema partidário que estão sendo alvejados e não
somente o PT.
Para concluir com uma nota de otimismo: são positivos alguns sinais
que vieram do Congresso esta semana. Embora mantenham, para consumo
externo, um discurso cautelosamente radical, as principais lideranças do
governo e da oposição trabalham para evitar confrontações
desnecessárias.
Forma-se uma vasta maioria no Parlamento em defesa do Poder
Legislativo, ameaçado de perder prerrogativas essenciais à democracia.
Quem decide a respeito dos representantes do povo são os representantes
do povo, como está na Constituição.
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