Por Gianni Carta, na CartaCapital
“Não estou acostumado a ter medo. Durante toda minha vida vivi em
crise. Sou de um terra que se até 5 anos e idade você não morreu de fome
é um milagre” , diz Lula em visita com Dilma a Paris. ”
Luiz Inácio Lula da Silva fez um de seus mais primorosos discursos
hoje à noite, quarta-feira 12, na Fundação Jean-Jaurès, em Paris, onde,
em parceria com o Instituto Lula, foi organizado o “Fórum pelo Progresso
Social: o Crescimento como Saída da Crise”.
O presidente francês François Hollande e a presidenta Dilma Rousseff, esta em sua primeira visita de Estado à França, abriram o fórum na terça-feira 11, mas foi Lula quem fez o último discurso.
O presidente francês François Hollande e a presidenta Dilma Rousseff, esta em sua primeira visita de Estado à França, abriram o fórum na terça-feira 11, mas foi Lula quem fez o último discurso.
Humor não escasseou na fala do ex-presidente.
“É a primeira vez que pessoas secundárias fazem o discurso final”,
disse Lula referindo-se ao discurso a anteceder o seu do ex-premier
socialista Lionel Jospin.
“Isso, na França, é muito ruim, porque somos pessoas sem mandato.”
A plateia visivelmente apreciou o discurso sério de um exímio orador
que soube engajar personalidades presentes (como Jospin) e mesclar sua
própria experiência com a crise econômica global.
“Não estou acostumado a ter medo. Durante toda minha vida vivi em crise. Sou de uma terra que se até 5 anos e idade você não morreu de fome é um milagre”, ofereceu Lula.
“Não estou acostumado a ter medo. Durante toda minha vida vivi em crise. Sou de uma terra que se até 5 anos e idade você não morreu de fome é um milagre”, ofereceu Lula.
Os risos começaram com as primeiras palavras do ex-presidente. “Não
falo francês, inglês e nem português.” Disse, então, que falaria devagar
para as tradutoras entenderem o que ele diria.
Lula caçoou, ainda, de sua falta de opção na vida. Um jornalista, por
exemplo, pode escolher sua profissão. Um metalúrgico não escolhe nada:
ele vira metalúrgico para sobreviver.
No entanto, ao longo de mais de uma hora de discurso, ficou claro que
o metalúrgico pode ser muito mais sábio do que jornalistas não somente
na oratória, mas também na maneira de tratar quem o cerca.
Em 2002, quando subia a rampa do Palácio do Planalto, após ser eleito
no primeiro mandato, Lula era criticado pelos “sociólogos”
(especialmente por um específico), e pelos “economistas”. “Eles sabem
tudo”, argumentou Lula, não sem sua costumeira ironia. Todos, na sua
galgada ao Palácio do Planalto, “puxavam minha manga”.
“Não vai”, repetiam.
“Eles me diziam que o Brasil estava quebrado”, contou Lula para o
deleite da plateia parisiense. “Mas eu queria fazer algo de diferente. A
primeira coisa era que nos respeitássemos. Não somos uma republiqueta.”
Naquela época, contou o ex-presidente, os líderes latino-americanos
ficavam presos em seus grotescos paradigmas. Quem, por exemplo, era o
melhor amigo de Bill Cintion?
Segundo Lula, o Brasil dava as costas para a América Latina, e, de
forma ignorante, para a África, por acreditar que o Oceano Atlântico é
uma fronteira.
Em um momento, Lula declarou: “É muito fácil cuidar dos pobres, e muito mais difícil cuidar dos ricos”.
Antes, disse Lula: “O Brasil era um país capitalista sem capital”. O
programa de inclusão social Bolsa Família, está claro, fez ingressar
milhões de brasileiros na classe média.
Lula fez mais pelos pobres. Investigou, por exemplo, por que eles não
tinham acesso ao crédito. “Porque o pobre não oferecia garantias”,
descobri. Mas o ex-presidente acabou por acertar que o crédito do
trabalhador é seu salário. E, assim, 40 bilhões de dólares foram
colocados nas mãos dos pobres.
Por este e outros programas, muitos empresários não votaram em Lula
nos seus dois mandatos, argumentou o próprio. “Eles têm medo de mim.” E
emendou: “Mas hoje sabem que nunca ganharam tanto dinheiro – e nunca
empregaram tanta gente”.
O ex-presidente disse que a crise pode abrir uma oportunidade para os
governantes assumirem responsabilidades e tomarem decisões importantes.
“Essa crise está nos chamando para as grandes decisões políticas que
desaprendemos a tomar depois de um longo tempo de bem-estar social.”
Lula chegou até a questionar o dólar como moeda padrão internacional
aqui em Paris. Para ele, é um absurdo um brasileiro ter de comprar um
colar boliviano em dólares.
O ex-presidente arrancou aplausos quando disse que se a ONU pôde
criar Israel em 1948, mas não faz o mesmo para um verdadeiro Estado da
Palestina.
Por fim, ele criticou os banqueiros. “Vocês já viram banqueiros presos nas manchetes de jornais? Não?”
É simples: eles financiam a mídia.
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Extraído do blog O Escrevinhador
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