Jovens, muito orgulho de vocês
Por Gilson Caroni Filho*
Não costumo comentar pesquisas, mas a de
ontem (26/09/2014), do Datafolha, me obriga a abrir uma exceção. Dilma
cresceu nas pesquisas com intenções de voto que migraram de Marina para
ela. Os analistas da grande imprensa rapidamente arrumaram uma
explicação: “a candidata da Rede perdeu votos nos extratos mais pobres”.
É o desejo se confundindo com a análise.
É a tentativa de ocultar o mais significativo: parcela da juventude que
estava com Marina Silva entendeu que ela nada mais é que “a velha
direita” disfarçada de “nova política”. Mas vocês, jovens que são, sabem
o que é velho, mesmo que o disfarce tenha maquiagem da grande mídia.
Tentaram instrumentalizá-los nas suas
legítimas manifestações de junho do ano passado. Mas ali, com o apoio
inestimável da Mídia Ninja, vocês começaram a entender que queriam
transformá-los em massa de manobra para interesses reacionários.
Pregavam ódio à política. No primeiro momento, vocês até que se
confundiram ao gritar “não à política”.
A grande recusa
Mas com o tempo, mostrando, mais uma
vez, que só se aprende na ação, se deram conta de que a alternativa que
lhes propunham era dizer sim a uma imprensa que abandonou o jornalismo
para virar panfleto partidário do PSDB. A opção que lhes ofereciam era
deixar tudo com o mercado e ficarem brincando com celulares, aplicativos
e joguinhos. E foi aí, afirmando que não se deixariam infantilizar, que
se deu o que chamarei de ” a grande recusa”: vocês estão começando a
vida, mas não são mais crianças. São jovens cidadãos que não estão
acorrentados ao cabresto dos fetiches. Conheceram as ruas e entenderam
que é nelas que se faz a grande política.
Confesso que na minha juventude era
muito mais fácil optar por um caminho. As coisas eram claras ou escuras,
pois vivíamos sob uma ditadura brutal. Para vocês, foi mais difícil:
vivemos uma crise de representação e todos se dizem democratas. Velhos
corruptos falam de uma indignação que não sentem e escravocratas
resolveram posar de vestais da República.
Mostrando discernimento, aprenderam a
ler a grande imprensa e passaram a ignorá-la. A edição da revista “Veja”
desta semana é um exemplo. Prometeram um “tiro de prata” e produziram
uma matéria patética, um tiro de espoleta que evidencia a tarefa dos
estudantes jornalismo: recriar a imprensa, pois a que aí está jogou sua
credibilidade no ralo.
Por fim, e isso foi maravilhoso,
compreenderam que nada é mais novo e revolucionário do que dar
continuidade a três governos que reduziram substancialmente as
desigualdades com políticas de inclusão. Nada é mais importante do que
continuar tirando milhões de pessoas da miséria, dando-lhes condições de
frequentar uma escola e, posteriormente, ingressar em uma faculdade.
Vocês, mais do que eu, sabem como é rica a convivência, em ambiente
acadêmico, de pessoas de classe média alta com jovens oriundos de
comunidades carentes. Como a gente aprende com isso, como vencemos
preconceitos. E é isso que faremos juntos: continuaremos vencendo
preconceitos e construindo um mundo novo.
Em vários oportunidades, eu os concitei à
reflexão. Hoje é diferente. Venho aqui para externar meu orgulho pelos
jovens que não se renderam ao discurso do ressentimento, do ódio de
classe reproduzido pela mídia, por algumas escolas, igrejas e alguns
professores portadores de discursos pseudomodernos.
Meu orgulho é como pai, avô e professor. Seguiremos unidos até a vitória.
*Gilson Caroni Filho é professor de sociologia e colabora com o “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Traço de Mestre“.
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