Metri: Focando em energia mais cara, Marina produzirá inflação
publicado em 3 de setembro de 2014 às 12:03
Sai energia hidrelétrica e do pré-sal, entram opções que custam mais caro
Misto de FHC e Jânio, e de saia
(Veiculado pelo Correio da Cidadania a partir de 02/09/14)
Marina Silva prega uma menor presença do Estado na economia, o que
significa adicionais privatizações, a recuperação do tripé
macroeconômico, o mercado como o definidor dos investimentos, agências
reguladoras técnicas, enfim, conceitos e medidas aplicadas por FHC no
passado. A autonomia do Banco Central e a diminuição da atuação dos
bancos estatais não foram aplicadas no passado, mas devem ter a
aprovação de FHC.
O parágrafo único do artigo primeiro da Constituição diz que “todo o
poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”. Desta forma, como é
possível dar autonomia a um órgão de governo que não dá garantia alguma
de que satisfará aos interesses do povo?
Pelo contrário, esta medida tem o intuito de transformá-lo em um
órgão autônomo com relação à vontade do povo, mas subordinado ao mercado
financeiro. Será o paraíso dos “rentistas”. Quando a diretoria do Banco
Central é demissível a qualquer momento pela presidente, que tem
mandato popular, é mais provável que a vontade popular esteja sendo
cumprida.
No mundo dos negócios, é comum se ouvir que “não existe almoço de
graça”. Assim, o suporte financeiro do Itaú e de outros bancos privados
para a campanha de Marina tem como contrapartida, no caso de ela ser
eleita, a menor participação dos bancos do Estado em financiamentos,
mesmo que eles ofereçam melhores condições para o povo.
Para os ideólogos de Marina, a expressão “agências reguladoras
técnicas” significa que argumentos sociais, estratégicos e geopolíticos
nunca devem ser considerados, prevalecendo somente os aspectos
econômicos e financeiros sob o ponto de vista das empresas. Aliás, não é
muito diferente de como muitas delas, hoje, atuam.
De qualquer forma, eu não deveria estar fazendo críticas ao programa
de governo de Marina, sem dizer a que versão eu me refiro, porque ela
troca de opinião com certa frequência. Já é bastante conhecido que
Marina colocou, no seu programa de governo, ser favorável ao casamento
gay e à criminalização da homofobia. 24 horas depois, por imposição do
pastor Malafaia, mudou de opinião.
Se eleita, pastores vão ter domínio das decisões da presidente?
Recentemente, posicionou-se contrária à transposição do Rio São
Francisco, mas, segundo jornais, já mudou de opinião, o que começa a não
mais causar espanto.
Na minha percepção, Marina mente sem prurido. Pois, para ela, não
importa o conteúdo de uma promessa, desde que haja um ganho real de
votos, que é a diferença entre os votos ganhos e os votos perdidos
devido à fala. Enfim, ninguém conhece a verdadeira Marina, que só se
mostrará depois de eleita, se tal ocorrer.
Parece também que ela não tem bons assessores, pelo menos na área de
energia, sobre a qual ela falou algumas veleidades. Marina disse que “o
petróleo é um mal necessário em todo o planeta” e, por isso, irá tirar a
prioridade do Pré-Sal. Ela não sabe que a maior parte da produção do
Pré-Sal será para exportação.
Esta parcela varia a cada ano, mas será sempre a maior parcela.
Assim, ela vai abrir mão da imensa geração de divisas, que irá nos
permitir importar mais e ter acesso a novas tecnologias, e da maior
geração de recursos para o royalty e o fundo social, além da grande
ajuda na impulsão de toda a economia com as encomendas do setor
petrolífero. Sem investir no Pré-Sal, ficará mais difícil ter altas
taxas de crescimento do PIB.
Ela disse também que “a política energética será realinhada com foco
nas fontes renováveis e sustentáveis”. A candidata supõe erradamente que
um mercado elétrico, que demanda cerca de 3.000 MW novos de energia a
cada ano, possa ser satisfeito por energia eólica e solar.
Demonstra não saber que estas energias são mais caras que, por
exemplo, a energia hidroelétrica, resultando no encarecimento dos
produtos e serviços brasileiros para exportação e no recrudescimento da
inflação. São mais caras por serem intermitentes e sazonais. Portanto,
para instalá-las, é preciso ter unidades em “stand by”, que possam
fornecer energia nos períodos sem vento e sem sol. No caso da solar, há o
agravante de a tecnologia fotovoltaica ainda estar cara.
Notar que Aécio é tão neoliberal quanto Marina e não cresceu nas
pesquisas. Assim, a razão que justifica a sua ascensão, além do empurrão
dos institutos de pesquisa e da mídia, que têm a missão de expulsar o
PT do poder, pode ser o fato de que ela gera um sentimento de piedade no
eleitorado pela forma de surgimento da sua candidatura e pela sua
fragilidade.
Ela é herdeira do espólio político de Eduardo Campos, morto de forma
trágica, com grande comoção popular. Além disso, é mulher, negra,
franzina, aparentando estar subnutrida, foi empregada doméstica e
analfabeta até os 16 anos.
Marina sabe que não possui estrutura partidária para governar e a
proposta de nova política não irá resolver, pois precisaria, antes, de
um novo povo, mais alimentado, com mais saúde, mais alfabetizado,
desfrutando de novos canais de informação, mais democráticos, o que
permitiria maior politização da sociedade e, consequentemente, melhor
escolha de seus representantes.
Por falar nesses pontos, o governo Dilma está providenciando a
melhoria de muitos deles, o que significará, se houver continuidade,
votações mais conscientes e melhores representantes do povo no futuro.
Contudo, hoje, existe um Congresso com a maioria de representantes de
grupos de capital, com os quais Marina não conseguirá aplicar a sua
nova política, a menos que se subordine aos interesses destes grupos.
Pode-se argumentar que qualquer candidato que for eleito terá esta
dificuldade, o que nos leva a concluir que, no Brasil de hoje, os
candidatos ainda têm que fazer acordos com o capital para poderem
governar.
Assim sendo, o que irá os diferenciar serão suas alianças
preferenciais. Exatamente neste ponto, reside uma das maiores virtudes
dos governos Lula e Dilma, pois eles mantiveram muitos acordos
reprováveis com o capital, como com os bancos, mas começaram a
construção de uma sociedade mais consciente e com maior possibilidade de
proteger seus próprios interesses.
Se Marina pensa que, eleita, os congressistas terão que obedecê-la,
como a uma rainha absolutista, senão ela renunciará e “retornará nos
braços do povo”, é bom ela se lembrar do que aconteceu com o
ex-presidente Jânio Quadros.
Marina tem como inspiradores ideológicos de suas posições o Itaú, a
Natura, o Greenpeace e o World Wildlife Fund, além dos tucanos. Com
estas ligações, não há possibilidade de ser uma presidente para o povo.
Acredita ser beneficiada pela providência divina, mas, se fosse um
verdadeiro Messias, uma estadista, não fecharia acordo para capturar
votos de incautos para, em troca, entregar o país a aproveitadores de
toda espécie.
Ela não ajudará a arrefecer a tensão da luta de classes, pelo
contrário, ela a aumentará, o que poderá ser sentido através da maior
violência dentro da sociedade.
A direita está em uma sinuca de bico, pois tem um candidato
confiável, no sentido de fazer acordos e cumprí-los, de não ser rebelde,
não se achar um iluminado, não acreditar que a providência divina o
escolheu para uma missão, que não repudia a velha política — aliás, a
única que existe. Mas, para tristeza da direita, está preso a um baixo
patamar de intenção de voto. Será que ela, irresponsavelmente,
continuará a insuflar a candidatura Marina?
*Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia
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