O que está por trás de Marina Silva: candidatura e programa de governo
A candidatura Marina representa a proposta de uma nova versão do neoliberalismo em nosso país, com aparência de politicamente correto, popular e ecológico.
A candidatura de Marina Silva representa a proposta de uma nova versão do neoliberalismo em nosso país, com aparência de “politicamente correto”, popular e ecológico, que não apenas retoma a sua ofensiva sobre nossa economia, relações internacionais e legislação trabalhista, mas pretende se desdobrar ao plano político e social, propondo a construção de uma cultura popular neoliberal. Este projeto de neoliberalismo reformulado se descola parcialmente das oligarquias tradicionais, profundamente desmoralizadas desde a crise do consenso de Washington na América Latina - o que no Brasil se manifesta pelo alto nível de rejeição do PSDB e do DEM - para assumir nova aparência com a janela de oportunidade aberta pelos protestos de junho de 2013, que manifestaram descontentamento com a exclusão e limites de classe da política brasileira, em parte debitados à extrema moderação e centrismo dos governos petistas, de quem se nutria expectativas de mudanças mais radicais.
Este novo neoliberalismo busca sua representação máxima numa ex-seringueira, dissidente do Partido dos Trabalhadores, para se apropriar de um signo que lhe dê credibilidade junto opinião pública. Para se reivindicar como novo necessita romper com o moralismo decadente das velhas oligarquias, amplamente desvinculado do sentido concreto de liberdade individual para a juventude, introduzindo alguns de seus temas como o direito ao aborto, a criminalização da homofobia e a defesa da ecologia. A apologia ao novo se articula com a ideologia empreendedorismo que perpassa seu programa, tão valorizado pelas igrejas evangélicas, e permite à candidata dizer com naturalidade que o problema do Brasil não é a existência de elites, mas a falta delas. Trata-se de constituí-las, com fé, dedicação e trabalho, num ambiente competitivo, sem discriminações étnicas ou sexuais, independente das diferenças de propriedade ou poder econômico.
Pouco importa a coerência deste discurso renovador e que Marina tenha defendido há meses a permanência do misógino e homofóbico Feliciano na Presidência da Comissão de Direitos Humanos, sob o pretexto de perseguição aos evangélicos. O discurso foi cuidadosamente articulado para ir ao encontro das aspirações de junho de 2013. Por trás da aparência renovadora que se tenta imprimir à candidatura de Marina [1] ergue-se um brutal ataque à soberania nacional que propõe o alinhamento de nossa política externa aos interesses estadunidenses, a desindustrialização de nossa economia, a independência do Banco Central, o fim do regime de partilha nas parcerias público-privadas, a redução do Estado, o realinhamento dos preços públicos, a flexibilização da legislação trabalhista, a privatização da vida pública com o enfraquecimento dos partidos políticos brasileiros, a transferência do controle dos serviços públicos para agências reguladoras independentes, e um modelo fundiário que limita a reforma agrária à minifúndios complementares ao agronegócio. Trata-se de um programa extremamente ambicioso que propõe uma nova geração de reformas neoliberais e que tem entre seus redatores membros da equipe de governo de Fernando Henrique Cardoso, como André Lara Resende, ex-Presidente do BNDES, demitido a partir da revelação de grampos telefônicos que o flagravam manipulando os leilões de privatização.
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