PT define ataque; sugere que adversária vai entregar o pré-sal
publicado em 3 de setembro de 2014 às 1:00
Ilustração de Vitor Teixeira no Facebook
Presidenta, eu dizia que tive a oportunidade de relatar aqui, por
diversas vezes, os significativos avanços que foram experimentados pelo
Brasil ao longo dos últimos 12 anos: a expansão do Produto Interno
Bruto em mais de quatro vezes, a redução da dívida pública à metade, o
controle total da inflação. E fizemos isso, gerando 20 milhões de
empregos, enquanto o mundo cortava postos de trabalho, dando um aumento
real de 72% sobre o valor do salário mínimo, retirando 40 milhões de
cidadãos da extrema pobreza e promovendo a ascensão de mais de 42
milhões de brasileiros à classe média.
São, enfim, incontáveis mudanças iniciadas pelo Presidente Lula e
aprofundadas pela Presidenta Dilma, que promoveram uma revolução sem
precedentes na nossa história. Daqui a pouco mais de um mês, tudo isso
vai a escrutínio pelo povo brasileiro, e o que está em jogo é saber se
este País seguirá avançando ou se cairemos em um retrocesso devastador
para o nosso futuro.
Já tive também a oportunidade de desnudar, aqui, desta tribuna, o
atraso que representa a política encabeçada pelo candidato do PSDB, o
nosso colega Senador Aécio Neves. Uma política que ficou conhecida pela
receita amarga que impingiu ao Brasil, ou seja, a de buscar a
estabilidade econômica à custa de muito desemprego, de aumento de
impostos, de elevação de tarifas, de arrocho de salários e de exclusão
social.
Essa maneira de governar todos nós já conhecemos, não nos serve mais.
É notadamente ultrapassada do ponto de vista econômico, nociva ao
desenvolvimento e perversa sob a ótica social. Ninguém mais aceita rezar
por essa cartilha, cartilha essa que impõe aos mais pobres uma fatura
pesada para o deleite dos mais ricos.
Lula e Dilma provaram que é possível manter a estabilidade econômica
promovendo inclusão social. Mostraram que, para manter a inflação sob
controle, não é necessário castigar os trabalhadores deste País e as
camadas mais pobres da população. Mas a grande ameaça do momento está
travestida sob o manto da chamada “nova política”, encarnada pela
candidata – não sei se do PSDB, do PSB, não sei se da Rede – Marina
Silva. Não se trata aqui de qualquer veto pessoal à Marina, que todos
sabemos quem é, todos conhecemos sua bela história de vida, sua luta em
favor da causa ambiental, seu bom desempenho como Parlamentar.
O que questiono aqui é seu projeto para o Brasil, a sétima economia
do mundo, um país de mais de 200 milhões de habitantes, cheio de grandes
complexidades que não podem ser geridas com invenções e truques, como
quem tira coelho de cartola. Desde que foi cunhada, essa expressão “nova
política” mostrou que de nova nada tinha; era mais do mesmo; era uma
alegoria criada para ser vendida como novidade ao mesmo tempo em que se
travestia de velhas práticas.
As alianças eleitorais da candidata são todas todas de conveniência,
em que pese ela dizer que não se junta com o que chama de raposas. Mas é
só observar os seus palanques regionais, as raposas estão todas lá – o
ex-Senador Mão Santa,
o filho do ex-Senador Bornhausen, que queria acabar com raça do PT e tantas e tantas figuras agora transformadas em instrumentos da nova política no nosso País.
o filho do ex-Senador Bornhausen, que queria acabar com raça do PT e tantas e tantas figuras agora transformadas em instrumentos da nova política no nosso País.
A candidata diz que não aceita doações de empresas de álcool, de
tabaco, de armas e de agrotóxicos, mas o tesoureiro da sua campanha diz
que, para o PSB – abre aspas – “pode vir dinheiro da indústria de armas,
de bebidas, do que for” – fecha aspas. Ou seja, a candidata Marina
Silva, que não conseguiu construir sequer o próprio Partido para
disputar as eleições, não tem sequer o controle do Partido que a hospeda
provisoriamente sobre um tema sensível como esse.
Que controle teria ela sobre um eventual governo? O que quero chamar a
atenção é para os riscos dessas incongruências, é para essa prática de
pregar uma coisa e fazer outra, essa atitude política camaleônica, que
não se sabe, de fato, o que esconde.
De início, é uma política errática, sem lado, a candidata Marina
Silva foi do PT, passou para o PV, de onde saiu depois de protagonizar
uma série de brigas internas; tentou criar a Rede, inclusive apoiada em
argumentos demagógicos que muitos aqui bradaram de que queríamos impedir
a criação desse Partido, porque não queríamos que tempo de televisão e
recursos do fundo partidário fossem para partidos que não haviam
disputado as eleições e conquistado Parlamentares pelo voto da
população; e, hoje, ironicamente, esses partidos são vitimados pela
entrada da ex-Senadora na disputa, e ela, mesmo assim, não conseguiu
viabilizar a criação.
Até mesmo um vereador de uma cidade do entorno de Goiás construiu um
partido nacional e a Srª Marina Silva não conseguiu construir o seu.
Entrou, no PSB e, ao que parece, já tem até a data de saída desse
Partido: assim que ela conseguir montar uma legenda para chamar de sua, a
33ª do sistema partidário brasileiro.
Ela recrimina o PSDB, mas seu tesoureiro de campanha é candidato a
vice na chapa do Governador tucano de São Paulo; recrimina o PT, mas, no
Rio, o seu candidato ao Senado está na chapa do nosso colega, Lindbergh
Farias; ela recrimina os transgênicos, a indústria de armas, mas o seu
vice recebeu contribuições eleitorais de empresas privadas desses
setores. E o seu programa de Governo lançado na última sexta-feira é a
síntese dessas contradições que sua candidatura representa; é um
conjunto de promessas que não se aguentou por 24 horas em pé.
Depois de divulgado, não suportou a pressão de setores descontentes
com o seu teor. Foi desfigurado em menos de um dia por um punhado de
tuitadas. Como alguém se propõe a governar o Brasil desse jeito?
Isso demonstra a fraqueza da chapa presidencial de Marina, que,
refutando tudo e todos, não teria ninguém para governar caso vencesse a
eleição. Não teria base neste Congresso, não teria aliados, não teria
apoios para aprovar projetos e jogaria o Brasil em uma paralisia
extremamente perigosa.
Recentemente, seu vice chegou a admitir que eles governariam o País
conclamando setores da população a tomarem as ruas para acuar a Câmara e
o Senado e dobrar Deputados e Senadores à vontade de um Governo que
usaria a população como instrumento de pressão sobre o Legislativo.
Eu também defendo esse tipo de tese para grandes temas, para temas
importantes para a sociedade, porém transformar isso em forma de
governabilidade é um equívoco absoluto, além do mais com o tipo de
Congresso que nós temos neste País e que é resultado da lei eleitoral
existente
Vejam: recentemente, o Congresso Nacional entrou em comoção por conta
de um decreto presidencial que apenas regulamenta a participação social
em conselhos populares alegando que era uma usurpação das prerrogativas
do Congresso. E o que dizer da postura deste Congresso Nacional diante
disso que foi proposto pelo vice da Srª Marina?
É uma clara demonstração de tendência ao autoritarismo. E é por isso
que Marina representa um risco político para o País. Suas promessas
extremamente vagas e descompromissadas de posições firmes, que vivem de
um vai e vem sem fim,
são uma ameaça ao nosso futuro.
são uma ameaça ao nosso futuro.
Marina, por exemplo, assume que devota um profundo desprezo por uma
das maiores descobertas brasileiras de todos os tempos, uma das maiores
riquezas do nosso País, o pré-sal. Foram anos de esforço humano e de
investimentos públicos empreendidos pela Petrobras até que
descobríssemos esse tesouro que nos tornará proximamente um dos maiores
exportadores de petróleo do Planeta, uma descoberta que permitiu o
ressurgimento da indústria naval no nosso País.
Está aqui a Senadora Ana Amélia. O que vai acontecer com a retomada
da indústria naval no Rio Grande do Sul, por exemplo, se nós
abandonarmos o pré-sal? O que vai acontecer com a indústria naval do Rio
de Janeiro, se nós colocarmos o pré-sal de lado? O que vai acontecer
com o Estado de Pernambuco que nunca sonhou ter sequer uma fábrica de
jangadas e hoje tem dois estaleiros em Suape, graças às perspectivas do
pré-sal?
Quantos empregos serão jogados na lata do lixo, por esse
obscurantismo ambiental que se propõe a ser progressista, mas que é um
atraso descomunal para o Brasil?
A luta ambiental que queremos é aquela que preserva a natureza, mas
ao mesmo tempo dá ao ser humano as condições de viver com dignidade e
cada vez mais preservar esse meio ambiente.
Marina propõe garantir 10% das receitas correntes brutas para a área
da saúde e eu defendo também, mas nós vamos conquistar isso se tivermos
os recursos do pré-sal. Como ela vai cumprir essas promessas de ocasião
sem dinheiro para fazer isso?
O pré-sal representa mais de R$1 trilhão e 300 bilhões para serem
investidos em saúde e educação nos próximos 30 anos. Nós vamos
transformar uma riqueza finita que é o petróleo na riqueza infinita da
melhoria das condições de vida da população. Portanto, há um
incongruência, há uma inadaptação entre o que propõe ela e o que defende
em outro ponto de vista, mas a candidata Marina Silva dá as costas a
tudo isso.
Nas diretrizes da política nacional de energia do seu programa de
Governo sequer há citação das palavras petróleo e pré-sal. Ela
simplesmente ignora todo esse patrimônio que tantas nações do mundo
gostariam de ter. Aliás, não duvido que possa haver outros propósitos
nessa defesa, ou seja, o de mais uma vez algum Governo se desinteressar
por uma riqueza e, a partir daí, os estrangeiros poderem fazer essa
exploração. Não há outra explicação no Brasil. Não há outra explicação
razoável que leve alguém que se propõe a ser Presidente da República a
simplesmente ignorar algo tão valioso sobre o nosso poder como é o
pré-sal. Ou é cegueira política, ou é interesse escuso.
O nosso petróleo transformou a Petrobrás na mais poderosa empresa da
América Latina, transformou a nossa indústria naval em uma das quatro
maiores do planeta, empregando milhões de brasileiros direta e
indiretamente. Por que, então, Marina Silva se dispõe a ignorar todo
esse patrimônio?
O programa de Governo da candidata mostrou suas imensas fragilidades
também em outras áreas. Na sexta-feira foi divulgado tratando da questão
nuclear como uma das fontes que mereceriam atenção para o
aperfeiçoamento da nossa matriz energética. No sábado, o item foi
retirado pela candidata que se diz ambientalista sob a justificativa de
erro de revisão.
Quero ressaltar aqui que o Governo da Presidenta Dilma não tem
preconceitos em estudar o uso da energia nuclear, mas faz isso com a
responsabilidade ambiental de quem dotou o Brasil com uma das matrizes
energéticas mais limpas do mundo; faz isso com o orgulho de quem acaba
de receber da ONU o reconhecimento ao Brasil como o país que mais
reduziu o desmatamento e as emissões de gases que causam aquecimento
global em todo o mundo.
Mas foi como “falha processual” que Marina Silva tratou, também, uma
questão importantíssima como a dos direitos civis da comunidade LGBT. Na
sexta, esses direitos estavam previstos no programa de governo da
candidata, mas, repreendida por alguns dos seus mentores conservadores,
Marina, em menos de 24 horas – menos do que o tempo de uma viagem do
Brasil à China –, mandou suprimir a defesa desses direitos para a
comunidade LGBT.
Trato aqui de um assunto fundamental para o nosso País. Portanto, sob
essa influência, ela mandou suprimir a defesa desses direitos para a
comunidade LGBT, o que levou, aliás, à renúncia do coordenador dessa
área na sua campanha. Eu tenho a minha posição sobre o tema, sou
defensor desses direitos, mas respeito quem pensa diferentemente. E aqui
há muitos Senadores que pensam diferentemente. O que não podemos
aceitar é que alguém não tenha posição sobre o assunto ou que tenha uma
posição em uma hora e, no outro dia, tenha outra.
Como uma presidente da República pode responder a questões difíceis com coisas vagas?
Pergunta-se a ela: a senhora é favor da legalização das drogas leves?
“Vou fazer um plebiscito para decidir isso aí.” A senhora é contra ou é
a favor da descriminalização do aborto? “Vou chamar um plebiscito para
discutir essas questões.”
Como confiar em alguém, para ser presidente da República, que assume
com tal volubilidade o conteúdo das suas posições? É um discurso para
cada plateia. É uma tentativa de equilibrar aquilo que não se pode
equilibrar em todas as áreas.
Em suma, a candidata à Presidência assumiu, assinou seu programa de
governo sem ler, o que demonstra um comportamento extremamente perigoso
ou, como é o que parece, muda de ideia a todo tempo, de acordo com as
conveniências do momento, o que também denota uma falta de firmeza de
posição igualmente preocupante.
Enfim, esta é Marina: uma candidata que ora diz uma coisa, ora diz
outra; uma candidata que não se compromete com qualquer posição, que
propõe governar por meio de plebiscitos para tudo; que não dá resposta
concreta a qualquer pergunta; uma candidata que, afinal, não tem lado.
Um presidente da República precisa ter liderança, precisa assumir
posições, precisa ter pulso para comandar e enfrentar desafios. Não pode
ficar em cima do muro, sujeito a pressões; não pode ser alguém que age
como um pêndulo, ora se bandeando para um lado, ora se bandeando para
outro.
Quais seriam, por exemplo, os rumos econômicos e uma política de um
governo Marina Silva? Ela vai baixar a cabeça ao mercado financeiro,
deixando a política neoliberal disseminar novamente o desemprego, a
subida de preços, o aumento de impostos e o arrocho salarial. Será uma
“FHC de saias”.
Porque, olhando o seu programa de governo – que, aliás, é acusado de
ser uma cópia do programa do PSDB, pelo próprio candidato Aécio Neves.
Esta é a proposta básica de Marina: é deixar que a mão do mercado regule
tudo; é dar autonomia completa ao Banco Central, coisa que nem Fernando
Henrique deu – nem Fernando Henrique deu autonomia completa ao Banco
Central, e ela agora o propõe –, para deixar que tecnocratas assumam as
rédeas do País no completo desprezo às
necessidades da população; é dar prioridade absoluta à inflação mínima; é permitir a elevação de juros, como aconteceu no governo passado, chegando a 45%; é a contenção cega de gastos para obter o chamado superávit primário elevado.
necessidades da população; é dar prioridade absoluta à inflação mínima; é permitir a elevação de juros, como aconteceu no governo passado, chegando a 45%; é a contenção cega de gastos para obter o chamado superávit primário elevado.
Essa é a fórmula dessa dupla, Marina e Aécio, cujos resultados todos
os brasileiros sofreram pesadamente, mas que Lula e Dilma acabaram, e
nós seguiremos com a mudança, invertendo as prioridades da política
econômica, em favor do povo
brasileiro.
brasileiro.
De forma que é importante que estejamos de olhos bem abertos para as
eleições que se aproximam. Parece estar bem claro que os brasileiros já
manifestaram o entendimento de que não querem mais retroceder, de que
não querem dar a marcha ré, devolvendo o Brasil a um passado de atraso e
miséria.
O desafio agora é enxergar o perigo por trás desse novo que se
apresenta, desse obscurantismo que envolve essa dita nova política, que
se propõe progressista, mas que esconde, por baixo do xale, o que há de
mais conservador neste País.
É possível avançar com o que já temos, é possível mudar a partir do
que já conquistamos. Se chegamos até aqui, é prova de que podemos ir
mais longe, mas, para irmos mais longe, não podemos voltar atrás e abrir
mão do que conseguimos, nem podemos dar um salto no escuro, rumo a um
precipício. Para mudar, o caminho que deveremos optar, em outubro
próximo, é o de avançar com responsabilidade, pés no chão e olhos no
futuro.
Muito obrigado, Srª Presidenta, pela tolerância.
PS do Viomundo: O discurso do senador Humberto Costa
dá uma ideia da artilharia que o PT vai empregar nas semanas finais de
campanha, antes do primeiro turno, para tentar conter a ascensão de
Marina Silva. Curiosamente, o Ibope divulgou pesquisas regionais
centradas em estados onde a candidata do PSB vinha avançando mais, como
São Paulo e Rio de Janeiro.
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