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sábado, 16 de novembro de 2013

Livro conta como FHC comprou votos para emenda da releiçaõ. Foram 32 milhões para deputados, mas a justiça não viu.

Livro contra FHC revela fonte que provou compra de votos pela emenda da reeleição

RICARDO MENDONÇA
DE SÃO PAULO

O livro "O Príncipe da Privataria", um libelo contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que está sendo lançado pelo jornalista Palmério Dória, traz uma revelação histórica sobre a compra de votos no Congresso a favor da emenda constitucional da reeleição, esquema revelado pela Folha em 1997.
Tratado pelo jornal como "Senhor X" em diversas reportagens, o homem que naquele ano gravou deputados admitindo a venda de votos assumiu sua real identidade.
Trata-se do empresário e ex-deputado Narciso Mendes, 67 anos, dono de um jornal e de uma retransmissora do SBT em Rio Branco (AC). Em 16 anos, ele nunca havia falado publicamente sobre o assunto. A seu pedido, seu nome era preservado pelo jornal.

Sergio Lima - 29.jan.1997/Folhapress
O então presidente Fernando Henrique Cardoso (centro) comemora a aprovação da emenda da reeleição
O então presidente Fernando Henrique Cardoso (centro) comemora a aprovação da emenda da reeleição
O depoimento de Mendes admitindo ter colhido as provas da compra de votos é tema dos capítulos 11 e 12 de "O príncipe da privataria" (399 páginas, Geração Editorial). 

Na época, Mendes já era ex-deputado. Com bom trânsito na bancada do Acre, ele afirma que aceitou gravar os colegas e entregar o material ao repórter Fernando Rodrigues, autor da série de reportagens da Folha sobre a compra de votos, porque era "intransigentemente contra" a emenda que viria a favorecer FHC.
Seu único pedido era a manutenção do anonimato, condição que o jornal aceitou por entender que o interesse jornalístico se sobrepunha à necessidade de revelação de seu nome. Com a iniciativa do próprio em revelar sua identidade, a Folha entende que o acordo está encerrado.
HISTÓRICO
Nas gravações do "Senhor X" em 1997, dois deputados do Acre, Ronivon Santiago e João Maia (ambos do PFL, hoje DEM) diziam ter votado a favor da emenda da reeleição em troca de R$ 200 mil, o equivalente a R$ 530 mil hoje.
Outros três deputados eram citados de forma explícita nas gravações. As conversas sugeriam que dezenas teriam participado do esquema.

Juca Varella - 28.jan.1997/Folhapress
Votação da emenda da reeleição em primeiro turno na Câmara dos Deputados, em Brasília
Votação da emenda da reeleição em primeiro turno na Câmara dos Deputados, em Brasília
A denúncia causou abalo no governo, mas o assunto nunca foi investigado. A tentativa de criação de uma CPI foi abafada. O então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não pediu a abertura de inquérito.
Em 21 de maio de 1997, oito dias após o caso ter sido publicado, Santiago e Maia renunciaram. Os ofícios enviados ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), eram idênticos. Ambos alegaram "motivos de foro íntimo".
Dez anos depois, em sabatina na Folha, FHC não negou que tenha ocorrido compra de votos, mas disse que a operação não foi comandada pelo governo. "O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovou. Que compra de voto? (...) Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos."
APANHADO
Apesar do tom escandaloso do subtítulo, "A história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e FHC ganhou sua reeleição", o livro não traz material exclusivo sobre a venda de estatais durante o governo tucano (1995-2002).
As várias denúncias citadas, muitas vezes apresentadas de forma confusa e imprecisa, são reproduções de notícias publicadas em jornais e revistas da época. Já os argumentos econômicos são colagens de artigos publicados nos anos 90 pelo jornalista Aloysio Biondi (1936-2000), ex-colunista da Folha.
A informação mais polêmica do livro não está no material de Dória, mas na "Carta do Editor", assinada na introdução por Luiz Fernando Emediato, dono da Geração.
Emediato diz que em 1991, quando denúncias contra o então presidente Fernando Collor começaram a surgir, ouviu uma confissão de uso de caixa dois da boca do próprio FHC numa viagem aos EUA.
Ele diz ter ouvido de FHC o seguinte: "A diferença entre nós e eles [a turma de Collor] é que nós gastamos o dinheiro em campanhas, enquanto eles enfiam uma boa parte em seus próprios bolsos".
Por escrito, o assessor do Instituto FHC Xico Graziano afirmou que o ex-presidente não se lembra de ter estado com Emediato nos EUA. Graziano classificou a frase atribuída a ele como "absurda" e disse que ela "jamais teria sido por ele pronunciada".

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