Luciano Martins Costa em 19/11/2013 na edição 773
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 19/11/2013
Os jornais de terça-feira (19/11) publicam
resultado de nova pesquisa de intenção de voto feita pelo Ibope,
registrando que a presidente Dilma Rousseff ampliou a vantagem sobre
seus prováveis adversários, e seria reeleita no primeiro turno contra
qualquer outro candidato entre aqueles que a imprensa considera como
tais. Mas a consulta não leva em conta a eventual entrada do presidente
do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na disputa.
Pelo menos para um dos articulistas que
acompanham os aspectos políticos, e não apenas jurídicos, do julgamento
da Ação Penal 470, há sinais de que Barbosa está administrando
cuidadosamente a reputação que lhe tem proporcionado o papel de condutor
do processo. Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo, interpreta o
ataque de Barbosa, durante a sessão do STF na quarta-feira (13/11), ao
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como uma defesa da
primazia de capitalizar a iniciativa de mandar para a cadeia personagens
importantes da política.
Janot havia encaminhado na véspera uma
recomendação de prisão imediata de doze dos condenados. Barbosa não
gostou da concorrência. O presidente do STF despachou a petição do
procurador sem ter lido, porque já tinha preparado os mandados de prisão
para o feriado de 15 de novembro, data da Proclamação da República.
Pretendeu reservar para si o crédito pela prisão dos condenados, mesmo
daqueles que tinham direito ao regime semiaberto, para aproveitar a data
histórica e oferecer à imprensa um valor simbólico adicional ao seu
ato.
Mas, como observa o articulista, ao atacar o
procurador-geral por haver apanhado uma carona no fato histórico,
Barbosa deixou clara a estratégia de se manter em evidência, o que só se
explica se ele estiver acalentando sonhos grandiosos para 2014.
O episódio não interfere nos aspectos
jurídicos da decisão de enviar alguns dos mais importantes protagonistas
do escândalo para uma prisão em Brasília, aspecto bastante discutido
por especialistas, a não ser pelo fato de o presidente da Corte ter
despachado um documento que não havia lido.
Observamos, aqui, como os acontecimentos
são trabalhados pela imprensa e analisamos as simbologias presentes no
processo comunicacional.
Estritamente nesse sentido, pode-se afirmar
que todas as atitudes do presidente do Supremo Tribunal Federal apontam
para a hipótese de Joaquim Barbosa estar cultivando um espaço no
eleitorado para disputar a presidência da República no ano que vem.
Em busca de um candidato
Sabemos que não há inocentes na política
nem na imprensa. Também não é recomendável que o leitor ou leitora
compre pelo valor de face tudo que é apresentado como resultado de
pesquisa eleitoral: sempre há mais de uma maneira de interpretar os
dados estatísticos. Nessa última versão do Ibope, por exemplo,
observe-se o título na primeira página do Estado de S.Paulo, que encomendou a consulta em parceria com o Globo: “Dilma amplia vantagem, mas brasileiro fala em mudança”.
Ora, nenhum dos candidatos da oposição já
colocados, nem mesmo a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva,
personifica esse desejo captado pela pesquisa. Fica, então, implantada
no subconsciente do cidadão a possibilidade implícita no noticiário: o
eleitorado aprova o governo da presidente Dilma Rousseff, a maioria
votaria nela, mas dois a cada três brasileiros gostariam de uma mudança
no governo. A análise que acompanha a reportagem no jornal paulista
afirma que nenhum dos candidatos de oposição personifica esse desejo de
mudar.
Com seu intempestivo protagonismo ao longo
do julgamento da Ação Penal 470, que a imprensa utiliza para construir
sua imagem de super-herói, o ministro Joaquim Barbosa se apresenta mais
como candidato a um cargo político do que como jurista. Seu perfil se
assemelha progressivamente ao do falecido ex-presidente Jânio Quadros,
cuja renúncia abriu caminho para a ditadura militar.
Como se diz das oportunidades, o cavalo
passa diante dele, devidamente encilhado, e a imprensa precisa cultivar
rapidamente a figura do agente de mudanças que a oposição não foi capaz
de criar.
No atual cenário, só o presidente da
Suprema Corte teria esse perfil. Mas o temperamento de Barbosa não
aconselha grandes apostas. Sua capa preta apenas aumenta a zona de
sombra no cenário político
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