Estima-se que o cartel dos trens de São Paulo e Distrito Federal pode ter superfaturado os serviços em R$ 577 milhões. Mas não seriam os tucanos que deveriam dar explicações? Qual nada. Quem deve explicações é o ministro da Dilma, que é do PT
(artigo originalmente publicado na revista Forum)
É impressionante como os casos de corrupção têm dois pesos
e duas medidas na mídia tradicional paulista (leia-se Folha, UOL,
Estadão, Veja, Globo). Na recente máfia dos auditores fiscais,
denunciada pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, as atenções se
voltaram contra o secretário de governo Antonio Donato. A máfia que
cobrava propina de construtoras em troca de desconto no ISS (Imposto
Sobre Serviço) atuava nas gestões Serra e Kassab, e foi desvendada
graças à investigação da atual prefeitura que criou a Controladoria
Geral do Município. Estima-se que o esquema tenha causado prejuízo de
até R$ 500 milhões aos cofres públicos. Mas a mídia voltou todas as
atenções de sua cobertura para Antonio Donato, que de forma decente
pediu exoneração do cargo para se defender sem causar desgaste à gestão
Haddad. Nesta semana, Donato volta à Câmara Municipal para exercer seu
mandato de vereador, o mais votado do PT.
Depois de blindar Serra e Kassab e derrubar um secretário
de Haddad, o caso dos auditores perdeu destaque, já não ocupa as
manchetes dos jornalões e seus portais. Aliás, foi emblemática a capa da
Folha de S. Paulo de 8/11, que trazia como manchete “Prefeito sabia de
tudo, diz fiscal preso, em gravação”. A frase induzia o leitor a
associar a denúncia ao prefeito de São Paulo, que é Fernando Haddad, mas
o fiscal estava se referindo a Kassab, o ex-prefeito da cidade.
Agora a história se repete. Revelado mais um caso de
corrupção envolvendo tucanos, quem passou a ser cobrado por explicações é
o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na última quinta-feira
(21), foi divulgado um relatório entregue ao Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), onde o ex-diretor da Siemens Everton
Rheinheimer cita diversos políticos do PSDB como beneficiários de
propinas pagas pelo cartel dos trens em São Paulo.
Rheinheimer afirma ter “uma série documentos que provam a
existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo
durante os governos (Mário) Covas, Alckmin e (José) Serra, e que tinha
como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM”.
São citados no relatório o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), os
secretários estaduais José Aníbal (Energia), deputado (PSDB-SP); e
Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia
(Desenvolvimento Econômico), do DEM.
Estima-se que o cartel dos trens de São Paulo e Distrito Federal pode ter superfaturado os serviços em R$ 577 milhões.
Dois dias depois de revelada o suposto envolvimento com os
políticos, as manchetes dos jornais dizem que o ministro da Justiça do
PT deve explicações sobre a denúncia contra tucanos.
Mas não seriam os tucanos que deveriam dar explicações?
Não seria hora de exigir que se expliquem e cobrar o governador para
afastas os denunciados?
Qual nada. Quem deve explicações é o ministro da Dilma,
que é do PT. É ele que tem que explicar como políticos tucanos podem
estar envolvidos em denúncias de corrupção.
Em nota, o ministério da Justiça “esclarece que, tendo
recebido do deputado Simão Pedro denúncias, acompanhadas de documentos,
envolvendo a ocorrência de eventuais atos ilícitos na execução de obras
do metrô de São Paulo, encaminhou-as, no estrito cumprimento do dever
legal, à Policia Federal (PF) para as devidas investigações. O
Ministério reafirma que a documentação não foi encaminhada à PF pelo
Conselho Administrativa de Defesa Econômica (Cade)”.
A Polícia Federal é submentida ao ministério da Justiça,
assim como o Cade. Já o deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT-SE)
é autor de representações ao Ministério Público sobre o cartel. Vale
lembrar que é papel do parlamentar enquanto poder Legislativo investigar
irregularidades na aplicação de verbas públicas municipais e estaduais.
Vale a teoria do “domínio do fato” também neste caso. É
preciso criminalizar alguém do PT, mesmo que ele seja o investigador ou
denunciante. Foi assim com Donato. Está sendo agora com Simão Pedro e
José Eduardo Cardozo.