Família de Genoino responsabiliza Barbosa, e manifesto pede reação do STF contra erros
Líder do PT diz que saúde do
ex-presidente do PT continua inspirando muitos cuidados, e defesa pede
transferência a São Paulo. Texto encabeçado por juristas critica pressa
de presidente da Corte
Alan Marques/Folhapress
Militantes do PT passaram o dia em frente à Papuda, por onde passou o presidente da sigla, Rui Falcão
Brasília – Abalado, o líder do PT na Câmara dos
Deputados, deputado José Guimarães Neto (CE), que foi hoje (19) de manhã
ao presídio da Papuda visitar o irmão, José Genoino, evitou dar
entrevistas devido à emoção. Ele guardou tudo para o pronunciamento que
fez na tribuna, onde classificou a situação pela qual passam o irmão e
os demais condenados na Ação Penal 470, o mensalão, de “truculência da
toga midiática” e deixou claro: “O que acontecer com Genoino, a família
responsabilizará Barbosa”, disse, numa referência ao presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que na
sexta-feira expediu os mandados de prisão de 12 réus.
Hoje, os advogados de Genoino solicitaram ao STF a sua transferência
para São Paulo e, em outra petição, um pedido para que ele cumpra a pena
em prisão domiciliar. A defesa alega que ele não tem condições de
permanecer em uma penitenciária por ter feito uma cirurgia cardíaca em
julho, além de ter passado mal durante o voo da Polícia Federal que
trouxe para Brasília os réus que estavam em São Paulo e Belo Horizonte.
Ele foi submetido à tarde a um exame por integrantes do Instituto Médico
Legal.
Em parecer enviado mesmo ao STF, a Procuradoria-Geral da República
(PGR) pediu que uma junta médica composta por três profissionais faça a
avaliação clínica de Genoino. Caso se trate de uma doença
comprovadamente grave, ele pode pleitear o cumprimento da pena de seis
anos e oito meses em regime domiciliar.
Violação a direitos humanos
Em meio ao pronunciamento do líder, foram muitos os apartes e várias
as reuniões canceladas em virtude da repercussão das prisões. Guimarães
destacou que a decisão de Joaquim Barbosa foi uma “violação dos direitos
humanos”. “Na democracia, o Estado democrático de direito pressupõe
respeito aos direitos humanos. As prisões de Genoino e Zé Dirceu são
ilegais. Genoino não pode, por recomendação médica, estar nessa prisão
fechada, que é um atentado contra a democracia pela qual ele tanto
lutou”, afirmou.
De acordo com o deputado, o PT quer o mesmo rigor da Justiça contra
os deputados do PSDB envolvidos no escândalo do Metrô de São Paulo (caso
Alstom) e contra outros escândalos de colarinho branco, chegando a
mencionar casos relacionados ao banqueiro Salvatore Cacciola, o bicheiro
Carlos Ramos (Carlinhos Cachoeira) e Daniel Dantas. “Todos estes nomes
foram presos e soltos pelo mesmo tribunal”, criticou.
A onda de reações contrárias à atitude de Barbosa, que ontem já
incluía integrantes do próprio STF, prosseguiu com a divulgação de um
manifesto encabeçado pelos juristas Dalmo Dallari e Celso Bandeira de
Mello, que cobram que os demais ministros do Supremo reajam às violações
cometidas pelo presidente da Corte. Para eles, o fato de a decisão ter
sido tomada no dia da proclamação da República evidencia "açodamento e
ilegalidade", completado por um "desfile aéreo" que levou a Brasília
condenados domiciliados em Belo Horizonte e São Paulo, que agora entram
com pedidos para terem cumprido o direito de prisão no município de
residência. Além disso, durante três noites Genoino, o ex-ministro José
Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que devem cumprir pena em
regime semiaberto, ficaram fechados na Papuda.
A nota é assinada por 150 pessoas. Entre elas, os presidentes do PT,
Rui Falcão, e da CUT, Vagner Freitas; parentes de Genoino e de Dirceu,
os escritores Fernando Morais e Eric Nepomuceno, o cineasta Luiz Carlos
Barreto e os professores Emir Sader e Marilena Chauí.
"Só o desejo pelo espetáculo justifica", dizem os juristas. "Tal
medida, tomada monocraticamente pelo ministro relator Joaquim Barbosa,
nos causa profunda preocupação e constitui mais um lamentável capítulo
de exceção em um julgamento marcado por sérias violações de garantias
constitucionais."
Para eles, a gravidade do caso de Genoino é dramática. "Traduz quanto o apelo por uma solução midiática pode se sobrepor ao bom senso da Justiça e ao respeito à integridade humana. Tais desdobramentos maculam qualquer propósito de fazer da execução penal do julgamento do mensalão o exemplo maior do combate à corrupção. Tornam também temerária a decisão majoritária dos ministros da Corte de fatiar o cumprimento das penas, mandando prender agora mesmo aqueles réus que ainda têm direito a embargos infringentes."
Para eles, a gravidade do caso de Genoino é dramática. "Traduz quanto o apelo por uma solução midiática pode se sobrepor ao bom senso da Justiça e ao respeito à integridade humana. Tais desdobramentos maculam qualquer propósito de fazer da execução penal do julgamento do mensalão o exemplo maior do combate à corrupção. Tornam também temerária a decisão majoritária dos ministros da Corte de fatiar o cumprimento das penas, mandando prender agora mesmo aqueles réus que ainda têm direito a embargos infringentes."
Na Câmara, Guimarães disse ainda que “se no PT cometeram erros, foram
erros da política brasileira, porque ela gera caixa dois e ninguém quer
discutir o financiamento público de campanha”. Ele acrescentou, também,
que os petistas, a seu ver, cometeram crime eleitoral. “Não fizemos
negociatas à época do governo Lula. Quem fez negociata foi o PSDB quando
comprou a reeleição”, frisou.
Instância adequada
Entre os parlamentares da base aliada, a discussão principal dos
últimos dias tem sido sobre de que forma o Legislativo deve se
manifestar e em qual instância para reclamar contra a postura adotada
pelo presidente do Judiciário, principalmente a sua atitude de decretar
as primeiras prisões em pleno feriado nacional, tomada de forma
intempestiva e sem definição clara nem preparativos de infraestrutura
prisional para os réus. Além disso, há a preocupação de evitar uma crise
institucional entre os poderes, o que foi alertado por parlamentares e
até por ministros de tribunais superiores.
Um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) chegou a dizer que
considerou a atitude de Barbosa “desastrosa, pelos conflitos que
provocou e pela repercussão que trará, inclusive fora do país”, numa
referência à possibilidade dos réus recorrerem da decisão em cortes
internacionais de direitos humanos, como tem sido aventado.
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde toma posse como presidente
pela segunda vez o ministro Marco Aurélio de Mello, o clima é de
inquietação. Com muitos representantes do Judiciário em Belém, onde está
sendo realizado o Encontro Nacional do Judiciário – evento anual em que
são estabelecidas as metas para os tribunais e que está sendo presidido
por Barbosa –, os que se encontram em Brasília mantêm conversas
reservadas e demonstram um clima de desaprovação à atitude do presidente
do STF. Poucos, no entanto, sentem-se à vontade para declarar
publicamente, como fez Mello.
Discussões sobre PECs
Como era de se esperar no primeiro dia da semana em que os trabalhos
legislativos começam efetivamente, parte das discussões no Congresso
Nacional girou em torno de críticas e protestos à decisão do presidente
do STF, e outra parte ficou voltada para elogios à decisão e por
cobrança à tramitação das propostas de emenda constitucional que
instituem o voto aberto em casos de cassação de mandatos e da cassação
de parlamentares que são condenados pela Justiça. Mas, parado por
repórteres, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
reiterou que ainda não chegou qualquer comunicado oficial do tribunal à
Casa sobre a prisão de Genoino.
Neste último caso, além de José Genoino, que já está licenciado, mas
com pedido de aposentadoria formalizado, também são réus na ação –
embora ainda não tenham sido presos – os deputados João Paulo Cunha
(PT-SP), Waldemar Costa Neto (PP-SP) e Pedro Henry (PP-MT). Por isso
mesmo, causou furor, no início da tarde, a aparição de Costa Neto
(PR-SP) no salão verde. Diante do assédio e acompanhado por um assessor,
Neto demonstrou constrangimento, registrou presença no plenário e logo
depois se retirou, evitando fazer qualquer declaração. “Estou
tranquilo”, chegou a mencionar para alguns.
Com informações da Agência Brasil
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