Na ditadura os médicos colabodore atestavam até onde as vítimas poderiam suportar as torturas.
Será que estamos diante de circunstâncias semelhantes?
As indagações que Miguel do Rosário levanta neste post me deixam introspectivo: até que ponto o ódio de classe pode levar médicos aos seus instintos mais primitivos?
Genoíno continua sendo massacrado pela mídia e agora com atestado médico afirmando que sua tortura pode continuar, desde que os torturadores tomem alguns cuidados com o torturado.
Bem, as manifestações políticas nas redes sociais dos médicos, que atestaram que Genoíno pode suportar as agruras da cadeia, falam por si.
Grupo de médicos, a maioria professores, acadêmicos ou empresários da saúde, que aceitaram o jogo de Barbosa e prepararam um documento que prima por ser "contra" o réu
Do blog O Cafezinho
O Cafezinho foi investigar quem são os médicos selecionados por Barbosa para fazer um laudo médico que
justifique trazer Genoíno de volta para Papuda. Todos os laudos
anteriores indicavam que seria muito mais seguro para Genoíno se tratar
em casa. Barbosa não se deu por satisfeito e pediu um último laudo,
feito com médicos mais velhos, a maioria professores, acadêmicos, ou
empresários da saúde, que aceitaram o jogo de Barbosa e prepararam um
documento que prima por ser "contra" o réu. É a primeira vez que eu
vejo uma junta médica agir, deliberadamente, com apavorante frieza, com
vistas a sabotar qualquer tratamento a Genoíno.
Vê-se que Barbosa foi cuidadoso. Depois de trocar o juiz, escolheu
cinco médicos perfeitos para executar sua missão. A maioria são médicos
já maduros, com longa carreira acadêmica e donos de clínicas
particulares. Barbosa não se arriscou com nenhum jovem idealista. Chamou
só macaco velho.
Vamos a eles. Os nomes são: Luiz Fernando Junqueira Júnior, Cantídio
Lima Vieira, Fernando Antibas Atik, Alexandre Visconti Brick, e Hilda
Maria Benevides da Silva de Arruda.
Segue a ficha cada um:
Luiz Fernando Junqueira Júnior, professor de cardiologia da Universidade de Brasília e presidente da junta:
Consegui reunir pouco material sobre sua pessoa, mas obtive indícios
do ambiente em que vive. Há uma página no Facebook dedicada à turma Luiz
Fernando Junqueira Junior – Medicina UNB.
O administrador é Paulo Machado Ribeiro Junior.
A página de Ribeiro Junior é repleta de acusações contra médicos cubanos, ódio contra o PT, festejos pela prisão dos "mensaleiros". Essa é a turma do chefe da junta que foi examinar Genoíno.
Cantídio Lima Vieira, cardiologista e especialista em perícia médica:
Esse aí tem uma história interessante. É um dos "marajás de jaleco"
do Senado Federal. Médico do serviço público do Senado, Cantídio Lima
Vieira possui clínicas privadas que oferecem serviços aos... senadores. Denúncia da Istoé foi logo abafada.
Trecho da matéria: "Duas unidades médicas dos funcionários operam no Sudoeste, outro bairro nobre de Brasília. Uma delas pertence ao médico Cantídio Lima Vieira (foto). Ele tem participação em mais quatro clínicas. Duas delas, a Policlínica Planalto e a Cordis são prestadoras de serviço da mesma associação de médicos contratada pelo Senado."
***
Fernando Antibas Atik, especialista em cirurgia cardiovascular:
Fernando Atik tem um Twitter, no qual tem 16 seguidores e segue 33
arrobas. Destas 33, as únicas fontes de informação são Jornal Nacional,
Globo, G1, Globonews, CBN, Veja e Conselho Federal de Medicina. Seus
últimos 2 tweets aconteceram no dia 16 de novembro, quando respondeu a
uma pergunta da Veja a seus leitores:
Alexandre Visconti Brick, professor de cirurgia cardiovascular:
Esse aí tem um histórico legal. Ganhou o título de cidadão honorário
de Brasília por indicação do deputado distrital Junior Brunelli.
Brunelli é o deputado da "oração da propina", religioso exemplar.
Hilda Maria Benevides da Silva de Arruda é mais nova e tem atuação mais discreta. Como a maior parte dos médicos brasileiros, odeia o programa Mais Médicos. E faz questão de deixar isso bem claro em sua página no Facebook.
Claro que a suposição de que Barbosa escolheu a dedo médicos com antipatias políticas fortes contra José Genoíno é apenas isso, uma suposição. Entretanto, o laudo médico me parece negligente, porque aponta algumas condições extremamente frágeis do paciente mas conclui que ele pode continuar numa prisão. Por exemplo, o primeito item da conclusão diz, textualmente, que o paciente deve se submeter a acompanhamento ambulatorial periódico da sua condição pós-cirúrgica.
A má fé dos médicos aparece latente já no segundo item, onde se nota uma contradição que não pode ser inspirada em outra coisa, a meu ver, senão na maldade. Os médicos concluem que o réu, portador de hipertensão, deve usar medicamento de uso contínuo, e o tratamento deve incluir "dieta hipossódica, restrição de atividade física vigorosa, prática regular de leve a moderada atividade física aeróbica e restrição de fatores psicológicos estressantes". Repito a frase final: "restrição de fatores psicológicos estressantes". Mesmo assim, os médicos concluem que não há necessidade do tratamento ser feito em domicílio. Ora, concluir que um homem idoso, sob exposição pública tão pesada, num processo tão polêmico, no qual se autoconsidera inocente, não vai ficar "estressado" dentro da cadeia é ser o que eu chamo, datavenia, de coxinha desalmado e psicótico. E se este stress se dá num homem que acabou de sair de uma cirurgia cujas chances de sobrevivência são de menos de 10%, a orientação de que ele pode se tratar na prisão me parece negligente e criminosa.
Todas as concluões são relativamente iguais, sempre repetindo expressões assim:
Não quero acusar nenhum médico. Vivemos uma democracia e cada um pode escrever o que quiser nas paredes virtuais de suas próprias redes.
Não consigo me livrar, porém, da impressão de que Barbosa catou
médicos antipáticos aos réus apenas para que emitissem um laudo que
chancelasse suas intenções de humilhar ainda mais José Genoíno. O laudo
pode trazer informações verdadeiras, mas a conclusão me parece
politicamente tendenciosa, contra o réu, contra a vida, contra o ser
humano.
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