Como Estadão e Globo abriram caminho para Aécio Neves
publicado em 23 de novembro no Viomundo
por Luiz Carlos Azenha
Quando aloprados petistas supostamente tentaram comprar um dossiê
contra José Serra, na campanha eleitoral de 2006, e foram pegos em
flagrante com dinheiro vivo, a notícia dominou as semanas finais da
campanha.
O fato culminou com o vazamento das fotos do dinheiro apreendido para
a mídia na antevéspera do primeiro turno, a tempo de estrelar o Jornal Nacional e as capas de jornais.
A mídia não se debruçou sobre os bastidores do acontecimento. Não se
apurou se, como sustenta o repórter Amaury Ribeiro Jr., os petistas
caíram numa cilada da inteligência da campanha tucana; nem apurou como
se deu o vazamento das fotos, da qual a mídia foi co-partícipe.
Não fosse por um certo blog chamado Viomundo,
hospedado então na Globo.com, provavelmente a gravação da conversa
entre o delegado da Polícia Federal que vazou as fotos e jornalistas
jamais teria sido noticiada. Depois que o fizemos, a Globo se sentiu na
obrigação de revelar que tinha tido acesso à conversa gravada — e
publicou uma transcrição no portal G1. Mas não saiu no Jornal Nacional. Nunca.
Podemos dizer que o mesmo aconteceu quando foi revelada a relação
íntima entre o bicheiro — desculpem, empresário do ramo farmacêutico —
Carlinhos Cachoeira e a revista Veja. Noticiou-se a
prisão do bicheiro e o envolvimento dele com o senador Demóstenes
Torres, mas a mídia não ocupou suas manchetes com a relação incestuosa
entre fonte e publicação.
Agora, repentinamente, o critério mudou. A mídia se interessa pelos
bastidores da investigação do propinoduto que atingiu em cheio o
tucanato paulista. Logo isso vai se tornar ainda mais importante que o
desvio de centenas de milhões de reais. É só esperar para ver.
As indicações preliminares são de que as investigações do Cade e da
Polícia Federal acertaram em cheio o esquema de financiamento de
campanha de um certo partido.
A mídia corporativa tem noticiado o escândalo envolvendo Siemens e
Alstom, mas com cuidado para não sugerir que chegamos ao caixa das
campanhas tucanas em São Paulo.
Aécio Neves, conforme a manchete acima, vem em socorro dos paulistas.
Ganha pontos com Geraldo Alckmin e José Serra. E dá o tom para a
cobertura midiática, que começou com o Estadão, passou pela Globo e, como se vê acima, chegou à Folha.
A ideia é dizer que o presidente do Cade, que foi assessor do então
deputado estadual Simão Pedro, de alguma forma forçou a barra para
investigar o propinoduto tucano. Dizer que as instituições federais
estão sendo usadas politicamente pelo PT para prejudicar adversários.
A ideia é lançar uma espessa cortina de fumaça, sob a qual José
Serra, Geraldo Alckmin e os tucanos paulistas possam bater em retirada. A
ideia é simular uma conspiração petista, como se não tivesse havido
cartel, nem envolvimento do alto tucanato, nem corrupção, nem desvio de
dinheiro público, nem superfaturamento.
Quando eu vi a reportagem abaixo, no Jornal Hoje, da Globo, tive certeza de que a menção ao petista Simão Pedro, bem no miolo, não era de graça!
Leia aqui os detalhes sobre a tentativa de Globo e Estadão de enrolar o PT na denúncia.
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