Brecht, num de seus melhores momentos, falou que o pior analfabeto é o
analfabeto político, que aqui vou tratar por AP, por razões de espaço e
de facilidade.
O AP, como sublinhava Brecht, facilita a vida da direita predadora,
da plutocracia empenhada apenas em acumular moedas. O AP é facilmente
manipulado pelos poderosos.
No Brasil, como se fosse miolo de pão para pombos, a direita – pela
sua voz, a mídia corporativa – arremessa ao AP denúncias de corrupção,
quase sempre infladas ou simplesmente inventadas.
E o AP é assim manipulado como se estivesse com uma coleirinha. Veja, Globo e Folha são mestras na arte de manobrar o AP.
Penso nisso tudo ao ver o drama pelo qual passa José Genoino. Mal
saído de uma cirurgia delicada no coração, Genoino foi preso por um
capricho de Joaquim Barbosa, um heroi do AP.
A filha de Genoino, Miruna, numa entrevista ao blogueiro Eduardo
Guimarães, fez um pedido singelo. Pediu aos brasileiros que não se
deixassem contaminar pela trinca suprema da canalhice jornalística
brasileira – Veja, Globo e Folha.
Miruna, 32 anos, é uma professora. Herdou do pai a simplicidade. É
quase que o contrário de Verônica Serra, a multimilionária filha de
Serra.
“Tudo que meu pai fez, desde que saiu do Ceará, foi lutar por justiça social”, disse Miruna.
Compare isso ao que vem fazendo, sistematicamente, Veja, Globo e
Folha. É o oposto. A mídia corporativa teve e tem uma contribuição
bilionária na construção de um país abjetamente desigual.
Em 1964, a mídia tramou contra a democracia e saudou
entusiasmadamente a ditadura que mataria tantos brasileiros e colocaria
no topo da lista dos ricos as famílias que controlam o noticiário que
chega à sociedade.
Dez anos antes, a mídia levou Getúlio Vargas ao suicídio. Nas duas
ocasiões, e em várias outras, o AP foi brutalmente manipulado pela
imprensa.
O apelo falacioso, cínico e indecente da “corrupção” sempre
funcionou. Repito: era e é o miolo de pão atirado aos pombos, ou ao AP.
Agora, vejo na internet alguns leitores dizerem o seguinte: “Pela primeira vez os poderosos estão na cadeia.”
Pobres APs.
Genoino poderoso? Ora, basta olhar seus bens: uma casa modesta no Butantã, bairro classe média de São Paulo.
Poderosa é a Globo, poderosa é a Veja, poderosa é a Folha, mas o AP é enganado, intoxicado mentalmente por elas.
A Globo, por exemplo, deve bilhões à Receita Federal, um crime que dá cadeia e repulsa coletiva em países socialmente avançados.
E o que acontece com ela? Seus acionistas não são presos, e sequer quitam as contas na Receita.
Pior: os múltiplos veículos da Globo cobrem a “corrupção” como se a empresa fosse São Francisco de Assis.
O mesmo vale para a Veja e para a Folha. Seus jornalistas rottweilers
fingem desconhecer que o dinheiro público é que ergueu a fortuna
assombrosa de seus patrões.
Os cofres do BNDES e do Banco do Brasil sempre foram frequentados pelas empresas de mídia como se fossem lupanares.
Os jornalistas fingem desconhecer também – ou é ignorância apenas –
que vigora na mídia uma absurda reserva de mercado que veda a empresas
estrangeiras entrar no Brasil.
Pesquise na Veja, na Folha e na Globo o número de reportagens que
clamam por mercado aberto. Mas para os outros. Na sombra, elas
conseguiram manter um privilégio inacreditável: a reserva.
Vou contar um pequeno exemplo de assalto ao dinheiro público por
parte da mídia. Na era de FHC, quando todos os anunciantes obtinham
descontos enormes das empresas de mídia, apenas as estatais pagavam a
tabela cheia.
Importante: estatais federais, estaduais e municipais.
Dinheiro – muito dinheiro — que deveria construir hospitais e escolas acabava na Globo, na Veja, na Folha etc.
Isso é poder. Isso é corrupção.
E então o pobre Genoino, com sua casa que é menor que a sala dos Marinhos, dos Civitas e dos Frias, é o “corrupto”.
Miruna pede que as pessoas não acreditem na Globo, na Veja e na Folha.
O AP acredita.
Mas eles são cada vez menos, como se pode ver pelos resultados das
eleições, e pelas sistemáticas quedas de audiência da Globo, da Veja e
da Folha.
O brasileiro acordou, e a internet tem um papel decisivo nisso, ao oferecer visões alternativas à voz rouca das ruas.
O AP é um ser extinção, como a própria mídia que o manipula.
E isso é uma notícia extraordinariamente boa para os brasileiros que,
como o DCM, querem que o Brasil seja tão avançado socialmente como a
Escandinávia.
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