Um filho do Brasil
Por Zeca Dirceu
Falar que a prisão do ex-ministro José Dirceu foi resultado de um
julgamento político, de exceção, pressionado pela grande mídia e que foi
condenado sem provas, é quase uma obviedade. É discorrer sobre assunto
que grande parte dos brasileiros já tem conhecimento. Hoje, pretendo me
posicionar não como agente público, deputado federal ou ex-prefeito.
Falo como filho mais velho de um homem que doou a sua vida pela
transformação do nosso país. Falo pelas minhas irmãs, pelos meus tios,
avó, mãe e filha, num momento em que a nossa família está sofrendo
muito.
Meu pai tem 67 anos. Nasceu em Passa Quatro, interior de Minas
Gerais. Ativista estudantil, obcecado pela luta democrática, depois de
ter sido exilado em Cuba, ficou refugiado clandestinamente no interior
do Paraná, quando conheceu e se casou com minha mãe Clara. Tenho 35 anos
e sou fruto desta trajetória de meu pai.
Tendo plena convicção sobre a sua inocência, quando sou questionado
sobre o mensalão, sempre digo que não é da natureza de nenhum filho
condenar o próprio pai. Quem já teve alguém a quem ama muito nessa
situação de fragilidade, com certeza compreende o que estou falando.
Especialmente, quando o direito de liberdade é retirado de quem sempre
buscou um país onde todos fossem verdadeiramente livres política e
socialmente, mesmo que para isso precisasse sacrificar a convivência com
a sua própria família, como foi o caso do meu pai.
Estou me sentindo como a minha avó se sentiu há décadas quando viu
seu filho preso, torturado e expulso do país pela ditadura militar. Hoje
com 93 anos, mais uma vez ela suporta todas as cenas. Parece história
repetida! É uma sensação de muita tristeza e preocupação, mas ao mesmo
tempo de uma certeza, a mesma que carregava vó Olga quando meu pai tinha
vinte e poucos anos, de que só sairemos vitoriosos de mais esta
situação, se enfrentarmos a tempestade com muita coragem.
Quando eu tinha 6 ou 7 anos de idade, o PT ainda era apenas uma
semente plantada no coração de poucos, mas eu já acompanhava em São
Paulo toda a articulação daqueles homens e mulheres que tinham uma
determinação que parecia estourar no peito. Tenho a história do meu pai,
o Zé dos petistas, e de todos os seus companheiros, como inspiração.
Sempre me emociono ao pensar do que eles foram capazes de suportar para
que os padrões da ditadura fossem rompidos.
Tenho muito orgulho por ter a oportunidade de fazer parte dessa
construção. Hoje já consegui construir o meu próprio caminho político,
mas nunca deixarei de respeitar e admirar toda a história de vida de meu
pai. Não são histórias iguais, nem semelhantes, mas eu me sinto parte
dele e tenho certeza de que ele também se sente parte de mim. É uma
relação permeada e alicerçada pelo amor.
Estaria mentindo se dissesse que meu pai não está revoltado com toda
esta situação. Como ele se sente? Às vezes tenho a impressão que não
acredita que isso realmente esteja acontecendo. Muitas vezes imagino que
ainda pensa que pode acordar no meio deste grande pesadelo. Quem o
conhece, sabe que ele não se conforma com injustiças. O que me deixa
mais tranquilo é saber que meu pai é muito forte e não está sozinho,
junto dele há muita gente de bem.
Se por um lado temos a força de uma mídia esmagadora de direita, que
não se conforma com as transformações positivas de distribuição de renda
em todo o país; de outro temos a energia dos brasileiros que já
provaram que querem viver num país em constante crescimento e da
militância que nunca abandona o seu projeto político e o apoio aos seus
pioneiros.
Este é um momento em que precisamos aceitar as lágrimas, sem deixar
de alimentar a esperança. A única coisa que peço a Deus é que mantenha a
chama da fé acesa na vida do meu pai. Assim, tenho certeza que ele,
enquanto suspirar, continuará batalhando para provar a verdade e não
desistirá de suas lutas.
E nós vamos continuar defendendo a democracia e os direitos
igualitários, dando sequência a essa bela história moldada desde a
década de 80. Com humildade, mas também com muita garra, não deixaremos a
nossa estrela parar de brilhar!
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