Cachoeira, a luxuosa vida de um condenado
A Justiça só é cega para alguns; enquanto petistas
históricos amargam o cárcere, a 200 quilômetros do presídio da Papuda,
em Goiânia, contraventor mais famoso da atualidade está livre para
rearticular seus negócios, frequentar os melhores restaurantes da cidade
e figurar nas colunas sociais; desde que se livrou das grades (mesmo
condenado a mais de 39 anos), Cachoeira se casou, passeou por resorts da
moda e já pensa mesmo em recompor sua bancada parlamentar, tendo à
frente a mulher, Andressa Mendonça, ensaiando candidatura à Câmara dos
Deputados
Goiás 247 -
José Dirceu precisa pedir autorização à Justiça para atualizar seu blog,
Delúbio Soares tenta um emprego na CUT e para isso precisa da gentileza
dos magistrados. E José Genoino; esse precisou provar, de forma
involuntária até, que sofre mesmo de um grave problema cardíaco. Tudo
isso tem como cenário o presídio da Papuda, nos arredores de Brasília.
A pouco mais de 200 km dali, em
Goiânia, um condenado a 39 anos de cadeia não precisa de autorização
judicial para frequentar os melhores bares e restaurantes, reativar sua
vida de empresário e até mesmo costurar articulações políticas. Esse é
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Se a Justiça Brasileira produz
disparates como esse, Cachoeira não tem culpa e aproveita para refazer a
vida ao lado da mulher, Andressa Mendonça, com quem se casou com pompa e
circunstância logo após a breve estadia na Papuda. Enquanto isso, os
fundadores históricos do PT mofam nas celas do presídio brasiliense e
clamam por uma benevolência da Justiça para talvez cumprirem uma pena
domiciliar ou mesmo uma tarefa simples, como escrever texto num blog.
Carlinhos Cachoeira conhece bem a
Papuda. Ele ficou nove meses presos na penitenciária em 2012 e agora o
máximo que chega perto do complexo presidiário é quando vai a Anápolis
visitar familiares, frequentar igrejas e saber como andam seus negócios.
Nem tudo, porém, foi alegria na
vida do contraventor. Desde a eclosão da Operação Monte Carlo Cachoeira
perdeu a mãe. Não pode sequer velar seu corpo, pois estava trancafiado
na papuda. Meses depois foi a vez do pai, o folclórico Tião Cachoeira,
um dos pioneiros do jogo do bicho em Anápolis, ir-se embora, ceifado por
um enfarte.
Diversificação
Reportagem do jornal O Popular, de
Goiânia, publicada em 23 de novembro, mostrou como está a vida do
ex-contraventor. Cachoeira agora atua no ramo imobiliário e, com seus
olhos de lince, mira investimentos em Goiânia, Anápolis e outras cidades
do interior. Em Goiás Cachoeira tem fama de Midas, onde tudo que toca,
qualquer negócio a que se dedique, prospera, vira ouro. A atuação
profissional voltou a ser prioridade após ele transformar seu cotidiano
pessoal numa espécie de reality show.
Ao sair da cadeia, ele cumpriu a
promessa que fez a Andressa ainda na Papuda. Os dois se casaram na
residência do casal, num condomínio de luxo na Capital, e a foto que
rodou o Brasil foi Cachoeira beijando os pés da esposa na frente de um
batalhão de fotógrafos. Cachoeira é frequentemente avistado na
movimentada noite goianiense, sempre presente nos melhores restaurantes
da cidade. Até suas idas ao cabeleireiro são razões para notícias de
jornais.
O ex-amigo de Demóstenes Torres
também se fez flagrar num resort luxuoso na Bahia, no começo deste ano.
Bermuda florida de grife, óculos escuros e Andressa, de biquíni, ao
lado, exibindo os dotes que fizeram a musa do CPI que levou o nome do
marido. Trajes bem diferentes e liberdade de darem inveja aos petistas
condenados.
Com a vida conjugal ajeitada e a
atuação empresarial retomada, Cachoeira estendeu seus tentáculos no
ambiente que lhe fulminou, na Operação Monte Carlo, a política. A esposa
se filiou ao PSL e os boatos – estrategicamente negados pelo próprio
Cachoeira – de uma possível candidatura de Andressa a deputada federal
se espalharam.
O mandato que Genoino renunciou na
Câmara Federal é agora cobiçado por Cachoeira e esposa. Nem mesmo
Joaquim Barbosa sonharia com tamanha ironia. O jornal Tribuna do
Planalto, de Goiânia, divulgou no mês passado que Cachoeira comandaria
um grupo de três partidos (PMN, PSL e PT do B) e seu objetivo é fazer
uma bancada forte no Congresso em 2014. É articulação política de fazer
inveja ao agora preso ex-ministro José Dirceu.
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