A
opção do governo brasileiro por adquirir 36 caças modelo Gripen-NG da
empresa sueca SAAB, cujos investimentos serão de US$ 4,5 bilhões dentro
de um cronograma que se estenderá até 2023, foi um gol de placa da
presidenta Dilma Rousseff. O anúncio feito ontem pela presidenta,
acompanhada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim e pelo ministro da
Aeronáutica, Juniti Sato, marcam o início de um futuro promissor para a
indústria aeronáutica brasileira de defesa e para as Forças Armadas.
A
oferta vencedora engloba não apenas o fornecimento das aeronaves
supersônicas, o pacote inclui a transferência de 100% da tecnologia dos
códigos fontes, a logística inicial, o treinamento, os simuladores de
voo e uma cooperação industrial que irá gerar no mínimo 1,8 mil empregos
diretos e indiretos. A fábrica, em parceria com a Embraer, será
construída em São Bernardo do Campo, cujo prefeito é o petista Luís
Marinho.
A
presidenta Dilma, conforme publicou o jornal O Globo na edição de hoje,
disse que “é importante que a gente tenha consciência de que um país
com as dimensões do Brasil, com os desafios do Brasil, deve estar sempre
pronto a proteger seus cidadãos, a proteger seu patrimônio e a proteger
sua soberania. Prova disso são revelações recentes também que
evidenciam que nossas riquezas sempre podem suscitar comportamentos
desrespeitosos e, mesmo, intrusivos em nossa soberania. Por isso, nós
devemos desenvolver todas as possibilidades de proteção à nossa
privacidade e a nossa soberania, notadamente todos os sistemas
criptográficos e todos os demais elementos essenciais à defesa
cibernética”.
Em nota oficial divulgada ontem pelo Ministério da Defesa, o governo confirma a aquisição do Gripen-NG, caça supersônico
de última geração que atenderá às necessidades operacionais da FAB para
os próximos 30 anos e que faz parte do Programa de Articulação e
Equipamento da Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa.
Segundo
essa nota, durante todo o processo de seleção, cujos estudos
preliminares remontam ao ano de 1992, o Comando da Aeronáutica (Comaer)
se pautou pela busca do melhor conhecimento dos aspectos técnicos,
operacionais e logísticos atinentes às aeronaves participantes da
escolha. A nova aeronave multimissão foi projetada para controle do ar,
defesa aérea, reconhecimento aéreo, ataques ar-solo e ar-mar. Dentre os
requisitos apontados pela FAB, destaca-se a tecnologia de ponta, com
avançado sistema de sensores e fusão de dados, características que
proporcionam ao piloto um quadro completo e preciso do cenário de
emprego.
Mais
econômico do que os rivais, o novo caça permitirá à FAB enfrentar
ameaças em qualquer ponto do território nacional com carga plena de
armas e combustível e isso significa, na prática, poder dissuasório que
resultará na garantia da soberania do Brasil.
Histórico da aquisição
De
acordo com a Agência Força Aérea, a necessidade de reequipar
configurou-se, definitivamente, no ano 2000, com a denominação Projeto
F-X, fruto dos estudos iniciados em 1992, quando a FAB delineou os
primeiros requisitos das aeronaves que deveriam substituir os F-103
MIRAGE III, operados, na Base Aérea de Anápolis, em Goiás, desde o
início da década de 70.
Em
agosto de 2001, o Comando da Aeronáutica iniciou a seleção das empresas
ofertantes de equipamentos compatíveis com os requisitos então
definidos. No final do mesmo ano foram selecionadas as seguintes
aeronaves, apresentadas por ordem alfabética: Gripen, F-16, MIG-29,
Mirage 2000 e SUKOI 30.
No
início de 2003, o processo foi suspenso pelo Governo Federal, tendo
sido retomado em 1º de outubro do mesmo ano. À época, os participantes
reexaminaram suas propostas com a finalidade de apresentar as
atualizações julgadas pertinentes.
Em
31 de dezembro de 2004, com o término dos prazos válidos das propostas,
sem ter ocorrido a escolha de uma aeronave, o governo decidiu preencher
a lacuna decorrente da desativação dos F-103 MIRAGE III, que ocorreria
em 2005, com a compra de 12 Mirage 2000-C usados, fabricados na década
de 80 e oriundos da Força Aérea Francesa.
Na
FAB, recebeu a designação de F-2000. É operado desde 2006 pelo Primeiro
Grupo de Defesa Aérea, na Base Aérea de Anápolis, tendo sua desativação
prevista para 31 de dezembro deste ano de 2013.
Em
2007, o Estado-Maior da Aeronáutica reiniciou os estudos sobre as
necessidades operacionais e características concernentes ao novo avião
de caça multiemprego que deveria reequipar a FAB e, em 15 de maio de
2008, instituiu a Comissão Gerencial do Projeto F-X2, com o objetivo de
conduzir os processos dessa aquisição, por meio de escolha direta, em
consonância com os preceitos da Lei nº. 8.666, visando à seleção da
proposta mais vantajosa para o País.
A
aeronave escolhida precisaria oferecer condições para atender ao
cronograma de desativação de aeronaves de combate da FAB, bem como dotar
a Instituição de uma frota padronizada de aviões de caça de
multiemprego, enquanto os Mirage 2000-C têm sua desativação prevista
para 2013, os F-5EM deixarão de operar a partir de 2025, enquanto que o
A-1M deverá ser desativado a partir de 2023.
Inicialmente,
seis empresas com seus respectivos produtos foram pré-selecionadas: as
norte-americanas BOEING (F-18 E/F Superhornet) e Lockheed Martin (F-16),
a francesa Dassault (RAFALE), a russa Rosoboronexport (SUKHOI SU-35), a
sueca SAAB (Gripen-NG) e o consórcio europeu Eurofighter (TYPHOON).
No
final de 2008, considerando os aspectos referentes às áreas
operacional, logística, técnica, de compensação comercial (offset) e
transferência de tecnologia para a indústria nacional, foram
selecionadas três aeronaves para compor uma “short-list” ou lista
reduzida para prosseguir a escolha, aqui apresentando-se em ordem
alfabética: Boeing (F-18 E/F Superhornet), Dassault (RAFALE) e SAAB
(Gripen-NG).
Em
2 de outubro de 2009 os três ofertantes encaminharam suas melhores
propostas. Em 5 de janeiro de 2010, o Comando da Aeronáutica remeteu ao
Ministério da Defesa o relatório final do Projeto F-X2, instrumento de
assessoria à decisão do Governo Federal.
As
análises prosseguiram e, ontem, a presidenta Dilma Rousseff anunciou a
decisão de adquirir as aeronaves Gripen-NG, da empresa SAAB,
representando investimentos da ordem de US$ 4,5 bilhões, em um
cronograma que se estenderá até 2023.
A Aeronave
A
aeronave é um modelo supersônico monomotor projetado para emprego em
missões ar-ar, ar-mar e ar-solo, sob quaisquer condições meteorológicas e
desenvolvido para se adaptar à evolução das ameaças e exigências
operacionais, enfrentadas pelas modernas Forças Aéreas.
A
versão brasileira, a ser desenvolvida em parceria com empresas locais, a
partir do projeto original destinado à Força Aérea da Suécia, contará
com modernos sistemas embarcados, radar de última geração e capacidade
para empregar armamentos de fabricação nacional.
A
versão padronizada para a operação é a monoposto. Entretanto, a versão
biposto retém toda a capacidade operacional da versão monoposto.
Dotada
de um sistema de reabastecimento em voo, a aeronave será capaz de
defender o espaço aéreo nos pontos mais remotos do Brasil. Tais
características, aliadas ao desempenho da aeronave, possibilitarão um
expressivo ganho na capacidade operacional da FAB.
O
Gripen-NG integra um conjunto completo de sensores, com total
flexibilidade de integração de armamento, podendo ser equipado com armas
adquiridas de outros fornecedores no mundo. A capacidade de
sobrevivência é garantida pelo equilíbrio existente entre as baixas
assinaturas no espectro visível, infravermelho e radar, assim como por
um avançadíssimo sistema modular de Guerra Eletrônica e de Autoproteção.
Como
caça multiemprego de última geração para desempenhar todas as missões
designadas pela Força Aérea Brasileira, incorpora elevado alcance
operacional, capacidade de carga útil e o recurso de Guerra Centrada em
Rede (NCW). O recurso NCW da aeronave brasileira será significativamente
aprimorado, pois será operado em combinação com o sistema E-99 ERIEYE
da Embraer.
O
projeto, flexível e modular, faz com que o seu aprimoramento e
desenvolvimento contínuo apresentem tanto baixo risco como excelente
custo-benefício. O programa cobre o desenvolvimento de todos os
principais sensores e aviônicos, inclusive a comunicação de dados, os
sistemas de autoproteção, a integração de armas, bem como os
aprimoramentos da estrutura do avião e de sua motorização.
O
Gripen-NG é uma plataforma de “baixo risco”, acompanhada de um programa
já custeado de desenvolvimento contínuo e melhorias garantidas. Tem
uma grande capacidade de crescimento, o que é uma garantia de que
atenderá a todas as demandas futuras.
Graças
aos seus maiores tanques de combustível a aeronave tem excelente
comportamento nos quesitos alcance e raio der ação. Na configuração de
Patrulha Aérea de Combate, alcança um raio de combate de 700NM (milhas
náuticas), ou seja, 1.300km, a partir da base de operaçãos, com mais de
30 minutos “na estação”. Tem um alcance de traslado de 2.200NM (4.000
km).
O
Gripen-NG é considerado um dos caças mais ágeis em combate próximo na
atualidade, ao combinar um avançado layout aerodinâmico e uma
configuração canard-delta com um sistema triplex de controle de voo
fly-by-wire digital. Incorpora os sistemas de links de dados
multifrequenciais mais desenvolvidos e seguros do mundo, conferindo ao
piloto uma completa noção da situação ao seu redor, em todos os modos de
operação.
Esta
perfeita condição se deve a um avançado layout 100% digital, com
grandes e coloridos displays MFD (Multi-Functional Displays), controles
HOTAS (Hands-On-Throttle-And-Stick) e capacete com visor acoplado HMD
(Helmet Mounted Display). O seu sistema de missão resulta da fusão total
dos dados de seus sensores e, em decorrência, possibilita uma
capacidade de combate excepcional, garantindo o lançamento extremamente
preciso de armas inteligentes.
O
motor General Electric F414G incorpora avançada tecnologia É um
turbojato modular, com pós-combustão, baixa razão de diluição e
eficiência no consumo de combustível. Com uma taxa de empuxo superior a
22 mil lb, o F414G gera 20% mais empuxo que o atual Volvo Aero RM12 do
Gripen, viabilizando velocidade de super-cruise equivalente a Mach 1.1,
com armas ar-ar.
O
Gripen-NG integra o único radar AESA de 2ª geração do mundo, o ES 05
Raven, o Gripen-NG garante a sua vantagem em termos de noção
situacional. Desenvolvido pela Selex-Galileo com a SAAB e com a
indústria brasileira, é o único radar de combate do mercado munido de
uma placa oscilante móvel (swash plate), permitindo cobrir ângulos de
até ±100°. O ES 05 Raven traz melhorias em todos os aspectos quando
comparado com os radares existentes, a exemplo de: melhor rastreamento
de alvo; amplo campo visual; flexibilidade de modos;
maior alcance de detecção; melhores dados eletrônicos de suporte; maior
disponibilidade operacional e menores custos de ciclo de vida.
Transferência de Tecnologia
O
programa de Transferência de Tecnologia (ToT) garante 100% de
envolvimento em desenvolvimentos futuros e maximiza a autonomia
industrial do Brasil, através da transferência de competências altamente
avançadas e diferenciadas. O compromisso assumido com o setor
aeroespacial brasileiro inclui a opção de fabricar peças e conjuntos do
Gripen-NG, bem como a montagem final da aeronave no Brasil. Tal Programa
incluirá: o projeto, desenvolvimento e integração de hardware,
aviônicos, software e sistemas da aeronave; transferência de avançadas
tecnologias e competências high-tech fundamentais, a exemplo de Fusão de
Sensores, Baixa Observabilidade (LO) e Furtividade (Stealth); acesso a
todos os níveis de tecnologia, incluindo códigos-fontes do Gripen-NG.
Uma
grande parte de todo o trabalho de desenvolvimento do Gripen ficará a
cargo da indústria brasileira. A tecnologia produzida no Brasil não será
produzida em nenhum outro lugar do mundo, o que significa que os
sistemas feitos no País serão incorporados em todos os novos caças
fabricados. O Comando da Aeronáutica e a indústria brasileira tornam-se
parceiros da Força Aérea Sueca e da SAAB, nas atividades de projeto,
desenvolvimento e integração de futuros programas tecnológicos do
Gripen-NG.
O
envolvimento do Brasil no projeto e no desenvolvimento dará à indústria
e à FAB acesso, sem precedentes, a todos os níveis de tecnologia, tanto
hoje como no futuro.
A
proposta oferece uma compensação econômica e financeira equivalente ao
valor do contrato. O programa de compensação ou contrapartida (offset)
transferirá know-how e tecnologias avançadas e exclusivas às
correspondentes partes institucionais e industriais do Brasil, com o
objetivo de desenvolver capacitação nacional. O compromisso assumido com
o setor aeroespacial brasileiro inclui a opção de fabricar peças e
conjuntos do Gripen NG, bem como a montagem final da aeronave no Brasil.
Proteção
Até
2018, quando o primeiro caça deverá ser entregue, a proteção do espaço
territorial brasileiro continuará sob a responsabilidade dos caças F-5M,
baseados em Canoas (RS), Santa Cruz (RJ) e Manaus (AM). Esses F-5M são
caças americanos, fabricados na década de 1970 e que há sete anos
passaram por um processo de modernização. No entanto, como essas
aeronaves se encontram no limite do uso, o contrato com a SAAB abrirá a
possibilidade para que o governo brasileiro negocie o fornecimento
provisório de aeronaves de uma geração anterior ao Gripen-NG, no caso, o
modelo Gripen-CD.
Gol de Letra
De
acordo com matérias publicadas hoje, Cesar Augusto da Silva, presidente
da da Akaer, principal parceira da SAAB, afirma que a parceria vai
gerar 1,8 mil novos empregos, diretos e indiretos. Cerca de 80% da
estrutura do caça será produzida no Brasil – fábrica será construída em
São Bernardo do Campo - e ele calcula que a produção do modelo
Gripen-NG, que já conta com 118 pedidos de aquisição, incluindo os 36 da
FAB, terá impacto de US$ 15 bilhões na economia brasileira. “A escolha
do Brasil vai atrair outros países para a compra do caça. Além de ser um
ótimo avião, é considerado barato, da ordem de US$ 50 milhões”, prevê.
Os investimentos na fábrica brasileira serão de US$ 150 milhões.
Com informações da Agência Força Aérea
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