O texto de Nassif abaixo desnuda completamente a adjetivação de bom gestor que os próceres da mídia brasileira apelidou Serra.
Basta olhar os indicadores do Estado de São Paulo para perceber um má de incompetência, a começar pela escola pública, onde o professor está condenado ao fracasso e ao paradigma da mediocridade.
Luis Nassif
Conhece-se um bom gestor pela maneira como administra seu tempo. Quem não consegue administrar a própria agenda pode até ser bom estrategista, bom líder, mas gestor, definitivamente, não é.
Em dezembro descrevi o estilo Serra de gestão. Começava a trabalhar às 11 da manhã, geralmente fora do Palácio. Não mantinha reuniões periódicas com Secretários. Pouquíssimas vezes participou de reuniões inter-secretarias. Não tinha a menor idéia sobre o que cada secretaria estava produzindo - prova maior é o fato de, tendo a mais ampla exposição que a mídia já ofereceu a um governante, jamais ter conseguido passar a idéia sobre o que seu governo fazia. Suas libações noturnas provavelmente eram dedicadas a livros e filmes, dificilmente para estudar problemas administrativos do Estado.
Passou a imagem de bom administrador pelo estilo autoritário, de exigir providências - aliás, importante para quem administra a máquina pública. Mas nunca conseguiu organizar nem idéias, nem articular planos, nem dispor de acompanhamento das ações de secretários, para, aí sim, fazer exercer seu mando. E faltava algo fundamental para dar eficiência ao mando idéias claras para saber o quê e como decidir.
Quando ainda acreditava no potencial administrativo de Serra, sugeri que se inteirasse sobre planejamento estratégico, ferramentas de gestão. Sua resposta foi auto-suficiente, proporcional à sua insegurança interna: não preciso, porque faço acontecer. Quando encarar realidades mais complexas - respondi-lhe - você vai se perder.
Para ser um grande líder parlamentar - e Serra foi - bastava bons assessores acompanhando uma pauta restrita de assuntos e trazendo para ele o problema e a solução. Para gerenciar realidades complexas - como prefeitura e governo do Estado - não foi suficiente.
Mais: é absolutamente inseguro sobre sua capacidade de discernimento. Confrontado com qualquer evento que saia da rotina e que, principalmente, implique conflitos, trava. E não tem segurança sequer para juntar a equipe, ouvir as sugestões e arbitrar. Não soube como agir na greve da Polícia Civil, na crise da USP, no episódio das enchentes (sumiu de cena, não se soube de uma reunião de coordenação comandada por ele), no lançamento da sua candidatura, na escolha do seu vice, na reação à crise econômica global e - pela matéria do Estadão - é incapaz sequer de definir previamente sua agenda de candidato.
Essa é a razão de jamais ter rompido com o fernandismo: sabia de sua incapacidade de andar pelas próprias pernas e, por isso, sempre se escorou na visão mais pragmática de FHC sobre estratégias políticas. Seus arrufos contra o mercadismo de FHC - chegou ao cúmulo de estimular uma CPI contra o Ministro da Fazenda Pedro Malan - era muito mais para conseguir cacife para se credenciar junto ao pai FHC.
Não pensar estrategicamente, não ter capacidade de escolha são características pessoais, que se tem ou não tem. Mas valorizar o planejamento é uma questão central. Não se exige de nenhum governante conhecimento prévio, qualidades pessoais de gestor. Mas exige-se que valorize o gestor e o planejamento.
No entanto, Serra manteve o desmonte de toda estrutura de planejamento do Estado, uma jóia criada antes dos anos 80, com instituições como Cepam, Fundap, Emplasa, o corpo técnico da DERSA, do Metrô, sendo submetidos ao sucateamento inexorável.
Ou seja, nesses seis anos como executivo, Serra comprovou não ser gestor (não administra), não ser líder (não definiu uma bandeira clara sequer para sua tropa), não ser planejador, não valorizar o planejamento e as boas práticas de gestão e muito menos ter vocação de estadista (ambição de mudar a natureza do Estado).
Nas mãos de governadores com visão - como Eduardo Campos, Paulo Hartung, Aécio/Anastasia, Marcelo Deda, Jacques Wagner - São Paulo não seria mais a locomotiva do país: seria o avião a jato.
Do Estadão
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