Uma das coisas boas de minha vida foi conhecer a pedagogia de Celestin Freinet.
CELÉSTIN
FREINET (1896 – 1966) nasceu na França e foi um dos educadores que mais
marcou a escola fundamental de seu país no século XX. Atualmente, suas
idéias são estudadas em várias partes do mundo, da pré-escola à
universidade. Para este educador, a escola deve ser sempre uma
experiência aberta.
A
pedagogia freinetiana, segundo a qual se deve “aprender fazendo”, vê na
própria criança o sujeito construtor do seu próprio conhecimento quando
na construção do fazer e refazer de atividades que não devem ser apenas
brincadeiras vazias, mas trabalho.
Veja o texto abaixo para enriquecer ainda mais as nossas belas discussões sobre "conhecimento prévio"
PÃO E ROSAS
As crianças precisam de pão e de rosas.
O pão do corpo, que mantém o indivíduo em boa saúde fisiológica.
O
pão do espírito, que você chama de instrução, conhecimentos, conquistas
técnicas, esse mínimo sem o qual corremos o risco de não conseguir a
desejável saúde intelectual.
E das rosas também – não por luxo, mas por necessidade vital.
Observo
o meu cão. Claro, precisa comer e beber para não ter fome e não ficar
desesperado, com a língua de fora. Mas tem mais necessidade ainda de uma
carícia do dono, de uma palavra de simpatia ou, às vezes, só de uma
palavra; do afeto que lhe dá o sentimento do lugar, o qual desejaria
muito grande, que ocupa no mundo em que vive; de correr por entre as
moitas ou só uivar demoradamente nas noites de luar, talvez para ouvir
ressoar a própria voz, como se ela abalasse magnificamente o universo.
As
crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do pão do espírito,
mas necessitam ainda mais do seu olhar, da sua voz, do seu pensamento e
da sua promessa. Precisam sentir que encontraram, em você e na sua
escola, a ressonância de falar com alguém que as escute, de escrever a
alguém que as leia ou as compreenda, de produzir alguma coisa de útil e
de belo que é a expressão de tudo o que trazem nelas de generoso e de
superior.
Essa
nova intimidade estabelecida pelo trabalho entre o adulto e a criança,
esse novo grafismo aparentemente sem objeto, valorizado pela matéria ou
pela cor, esse texto eternizado pela imprensa, esse poema que é o
cântico da alma, esse cântico que é como um apelo do ser para o afeto
que nos ultrapassa – é de tudo isso que vive a criança, normalmente
alimentada de pão e conhecimentos, é tudo isso que a engrandece e a
idealiza, que lhe abre o coração e o espírito.
A
planta tem necessidade de sol e de céu azul, o animal não degenerado
pela domestificação não sabe viver sem o ar puro da liberdade.
A criança precisa de pão e de rosas.
(Célestin Freinet, Pedagogia do Bom Senso, p. 104-105 )
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