Sobre dialogo ou pedagogia dialógica de
Paulo Freire, importa disponibilizar o texto abaixo, bem significativo
de nossas discussões e dos objetivos deste aprendente.
Escrito pelo professor Paulo Freire extraído do livro Pedagogia do Oprimido -editado pela editora Paz e Terra 18a edição
Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.
Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível o diálogo.
O diálogo, como encontro dos homens para a tarefa comum de saber agir,
se rompe, se seus pólos (ou um deles) perdem a humildade.
Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?
Como posso dialogar, se me admito como um homem diferente, virtuoso por
herança, diante dos outros, meros "isto", em que não reconheço outros
eu?
Como posso dialogar, se me sinto participante de um "gueto" de homens
puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora
são "essa gente", ou são "nativos inferiores"?
Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de
homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua
deterioração que devo evitar?
Como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros, que jamais reconheço, e até me sinto ofendido com ela?
Como posso dialogar se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e definho?
A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não tem
humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do povo. Não podem ser
seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém não é capaz de
sentir-se e saber-se tão homem quanto os outros, é que lhe falta ainda
muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Neste
lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos, há
homens que, em comunhão, buscam saber mais.
Não há também, diálogo, se não há uma intensa fé nos homens. Fé no seu
poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de
ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direitos dos
homens.
A fé nos homens é um dado a priori do diálogo. Por isto, existe antes
mesmo de que ele se instale. O homem dialógico tem fé nos homens antes
de encontrar-se frente a frente com eles. Esta, contudo, não é uma
ingênua fé. O homem dialógico, que é crítico, sabe que, se o poder de
fazer, de criar, de transformar, é um poder dos homens, sabe também que
podem eles, em situação concreta, alienados, ter este poder prejudicado.
Esta possibilidade, porém, em lugar de matar no homem dialógico a sua
fé nos homens, aparece a ele, pelo contrário, como um desafio ao qual
tem de responder. Está convencido de que este poder de fazer e
transformar, mesmo que negado em situações concretas, tende a renascer.
Pode renascer. Pode constituir-se. Não gratuitamente, mas na e pela luta
por sua libertação. Com a instalação do trabalho não mais escravo, mas
livre, que dá a alegria de viver.
Sem esta fé nos homens, o diálogo é uma farsa. Transforma-se, na melhor
das hipóteses, em manipulação adocicadamente paternalista.
Ao fundar-se no amor, na humildade, na fé nos homens, o diálogo se faz
uma realização horizontal, em que a confiança de um pólo no outro é
conseqüência óbvia. Seria uma contradição se, amoroso, humilde e cheio
de fé, o diálogo não provocasse este clima de confiança entre seus
sujeitos. Por isto inexiste esta confiança na antidialogicidade da
concepção "bancária" da educação.
Se a fé nos homens é um dado a priori do diálogo, a confiança se
instaura com ele. A confiança vai fazendo os sujeitos dialógicos cada
vez mais companheiros na pronúncia do mundo. Se falha esta confiança, é
que falharam as condições discutidas anteriormente.
Um falso amor, uma falsa humildade, um debilitada fé nos homens não
podem gerar confiança. A confiança implica no testemunho que um sujeito
dá aos outros de suas reais e concretas intenções. Não pode existir, se a
palavra, descaracterizada, não coincide com os atos. Dizer uma coisa e
fazer outra, não levando a palavra a sério, não pode ser estímulo à
confiança.
Não é porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero.
Se o diálogo é o encontro dos homens para ser mais, não pode
desfazer-se na desesperança. Se os sujeitos do diálogo nada esperam do
seu que fazer, já não pode haver diálogo. O seu encontro é vazio e
estéril. É burocrático e fastidioso.
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