publicado no blog do Luis Nassif
A história de uma mãe beneficiada pelo Bolsa Família
Por José Ribeiro Jr.
Comentário do post "O TCC sobre o Bolsa Família: uma aula de jornalismo"
Nassif, sua definição sobre frei Beto e Cristóvan Buarque é precisa e oportuna! Aproveito o "gancho" desse trabalho de graduação para compartilhar com você e seus leitores a surpreendente história de uma jovem mãe e a importância que programas sociais como o Bolsa Família possuem para quem não tem quase nada
Nassif, sua definição sobre frei Beto e Cristóvan Buarque é precisa e oportuna! Aproveito o "gancho" desse trabalho de graduação para compartilhar com você e seus leitores a surpreendente história de uma jovem mãe e a importância que programas sociais como o Bolsa Família possuem para quem não tem quase nada
A Mulher dos quatro "Ls". Homenagem às Mulheres todas, em seu Dia Internacional.
O Semeador, de Vincent Van Gogh
Se não chove ou não faz muito frio, ela aparece quase todos os dias próximo ao cruzamento das ruas Brigadeiro Franco com Vicente Machado, no centro de Curitiba. Perto das 18 horas estaciona ali um carrinho desses de se transportar papel e trabalha duro até umas 20 horas. Junto com ela, 2 crianças e uma pré-adolescente, que são seus filhos e sobrinho. Em casa ficou o filho mais velho, de 14 anos, tomando conta do irmão menor, de 5, e de um bebê que a mãe não pode criar e ela assumiu. O marido, a essa hora, já saiu para trabalhar como vigia em uma indústria, onde ganha R$ 700. Ela soma a essa renda mais uns R$ 100 por semana, no máximo, com a venda do papel e material para reciclagem que cata nas ruas, mas principalmente no encontro da Brigadeiro com a Vicente. À renda deles se somam ainda os R$ 126 do Bolsa Família, e é só. Ao todo são oito pessoas que sobrevivem do trabalho do casal.
Se não chove ou não faz muito frio, ela aparece quase todos os dias próximo ao cruzamento das ruas Brigadeiro Franco com Vicente Machado, no centro de Curitiba. Perto das 18 horas estaciona ali um carrinho desses de se transportar papel e trabalha duro até umas 20 horas. Junto com ela, 2 crianças e uma pré-adolescente, que são seus filhos e sobrinho. Em casa ficou o filho mais velho, de 14 anos, tomando conta do irmão menor, de 5, e de um bebê que a mãe não pode criar e ela assumiu. O marido, a essa hora, já saiu para trabalhar como vigia em uma indústria, onde ganha R$ 700. Ela soma a essa renda mais uns R$ 100 por semana, no máximo, com a venda do papel e material para reciclagem que cata nas ruas, mas principalmente no encontro da Brigadeiro com a Vicente. À renda deles se somam ainda os R$ 126 do Bolsa Família, e é só. Ao todo são oito pessoas que sobrevivem do trabalho do casal.
A casa onde moram é um barraco melhorado em um trecho da Rua Eugênio
Parolin. Melhorado porque o casal começou a levantar paredes de
alvenaria e fazer quartos, mas não pode concluir porque foi denunciado à
Cohab. Resultado: teve que assinar um documento se obrigando a não
fazer mais nenhuma alteração, sob pena de ter que abandonar o local. Por
conta disso os “quartos” são separados por panos estendidos que isolam o
espaço em que dormem o casal e a neném da outra “peça” onde ficam as
crianças e os dois pré-adolescentes. Ali tem cama, tem armário, tem TV e
outros bens adquiridos nas Casas Bahia com um carnê que ela paga
religiosamente. Não se sabe se a casa tem banheiro, mas as crianças
estão sempre asseadas, dentes escovados, roupa limpa. Demonstrações do
zelo da mãe.
Luana
e seus garotos: exemplo de cidadaniaA mulher dos 4 L’s se chama Luana
Lenita Linhares de Lima – o último “L” ela ganhou do marido. A filha
pré-adolescente também ganhou nome com L, chama-se Lesslie. O marido é
Silvio e os meninos são Leandro, Leonardo, Lucas e Matheus - este, o
único que foge à regra dos nomes começados com a letra L, é o sobrinho. A
bebezinha chama-se Rhaiana e é um caso à parte. Nasceu com sérios
problemas em decorrência do vício do crack da mãe. Abandonada, acabou
sendo acolhida pela família de Luana. Tem quase 2 anos, mas o
desenvolvimento de um bebê de dias de vida. Não fica em pé, se alimenta
com mamadeira, não controla as necessidades fisiológicas, precisa fazer
fisioterapia. Quando pegou a recém-nascida abandonada, o casal foi
entregá-la ao Conselho Tutelar do Parolin, na intenção de que alguma
família desse a ela o que precisava. A funcionária os convenceu a ficar
com a guarda do bebê com o argumento de que o que ela precisava era de
amor, e isso os dois tinham para dar.
Para se adequar à tarefa adicional a família criou uma rotina. Começa
às 6 horas da manhã, quando Luana prepara as crianças e as leva à
escola – dois em colégios da Prefeitura, outros dois em estabelecimento
estadual. À tarde o filho mais velho freqüenta o contraturno em uma
instituição religiosa, onde realiza alguns cursos que o preparam para o
Programa Menor Aprendiz. Em casa ficam dormindo a neném e o filho
caçula. Logo o marido chega do trabalho para dormir também. Até às 14
horas Luana faz as tarefas da casa, cuida da bebê e de Lucas, prepara o
almoço e busca as crianças na escola. Então o marido acorda e assume a
casa, em especial as atenções a bebê. Luana parte então para a atividade
de carrinheira, na companhia de 2 filhos e do sobrinho.
O menino mais velho, de 14 anos, mesmo quando não tem o contraturno
fica em casa com o pai, “porque sente vergonha” da profissão da mãe.
Isso não é problema para ela, porque pressente que a conseqüência seria
ele abandonar a escola para evitar a descriminação dos colegas. Não se
pode condenar o menino por isto. E ela reconhece que a chance do filho
está justamente na escola; fora dali, a outra oportunidade de ascensão
econômica é no tráfico. Então que fique em casa ajudando o pai e fazendo
as tarefas escolares. Uma demonstração de inteligência emocional
impressionante. Quando cai a noite, o pai volta à atividade de vigia e
então é o filho pré-adolescente que dá as atenções à pequena Rhaiana.
Isso até Luana e as crianças voltarem com o carrinho carregado de
papelão, garrafas PET e outros recicláveis.
Na esquina da Brigadeiro com a Vicente ela é bem conhecida de alguns
moradores e de pessoas que freqüentam a área. Uma senhora para um
instante e avisa que tem roupas usadas para trazer. Alguém estaciona um
carro e entrega um velho patinete para os meninos. É uma festa. Outro
reduz a velocidade e deixa algum trocado nas mãos das crianças em troca
de um drops. Um casal pergunta se ela trouxe a lista de material escolar
e de uniformes dos filhos. Ela não só trouxe como anotou no verso de
cada lista o tamanho das roupas de cada um, o número do calçado, os
respectivos valores e o endereço do fornecedor mais em conta. O nome
dela também é eficiência.
Luana Lenita Linhares de Lima é a cara da nova classe D que ascendeu
com o governo Lula. Mas não é isto que a faz especial, nem tão rara. A
pobreza de recursos em que vive desde que nasceu há 30 anos não impediu
que ela formasse um espírito de cidadã pouco comum, inclusive nos
estratos mais bem aquinhoados da sociedade. Do pouco que ganha, a
carrinheira Luana recolhe para a Previdência como contribuinte
individual para ter direito aos benefícios do seguro social. Ela conhece
os deveres do Estado e os cobra, indiferente ao mau atendimento dos
funcionários da Prefeitura. Não aprova nem se envolve com o poder
paralelo que domina a favela onde a família vive, mas sabe que ali não é
a lei do Estado ausente que vige, então se enquadra. Se alguém
manifesta a intenção de ir a sua casa ela adverte que não é qualquer
carro que pode entrar ali; veículos brancos são mal-vindos, porque pode
ser polícia ou de outro órgão repressor. Quebrar as regras do poder
paralelo pode representar a perda do barraco, e ela não pode correr esse
risco. Fez inscrição na Cohab para comprar a casa própria, mas quer
mesmo é a regularização da propriedade no Parolin, porque ali perto
estão as escolas dos filhos, o emprego do marido, o posto de saúde que
socorre a família, a rota que ela cumpre diariamente para recolher seus
recicláveis.
De maneira surpreendente para alguém que a sociologia política
qualificaria como lúmpen, Luana está bem informada sobre todos os
programas sociais do governo federal e da Prefeitura de Curitiba. E sabe
como se valer deles. Recebe o reforço do Bolsa Família, aprende
rudimentos da Informática no Liceu do Ofício, faz fisioterapia na bebê
na unidade de saúde, possui cartão para compras no Armazém da Família...
E o que mais surpreende é que ela utiliza esses recursos para
impulsionar sua vida e não para acomodação. Seu nome também é
consciência cidadã.
Descobrir o que faz de Luana uma cidadã tão consciente é uma tarefa
que deveria interessar os cientistas sociais. Uma população de “Luanas”
transformaria o País, quem sabe, em uma geração. Como tantas mulheres
iguais a ela, também veio do interior tentar a vida na cidade grande.
Perdeu a mãe muito cedo, foi criada pelo pai, que formou nova família e
então os filhos da primeira união se dispersaram. É fiel da Igreja do
Evangelho Quadrangular e com alguma freqüência refere que ela, o marido e
os filhos “louvam”. Afora isto não tem qualquer traço característico
dos chamados “crentes”. Não manifesta preferências políticas de nenhuma
ordem e se refere a presidente Dilma com a intimidade de uma vizinha
(“agora é mais, porque a Dilma aumentou o salário ...”, observou,
comentando o ganho do marido). Nos cuidados que demonstra com a família e
ao deixar transparecer que possui uma escala de valores nobres Luana
faz lembrar a história que se ouve falar de Dona Lindu, a mãe do
ex-presidente Lula. Será que o novo grande líder político nacional é um
dos meninos que a ajudam na catação dos papeis? Ou será Lesslie que vai
conduzir os destinos do País daqui a pouco mais de duas décadas? Parece
improvável, mas também parecia há 60 anos quando dona Lindu colocou seus
meninos num pau-de-arara e partiu para São Paulo.
(http://compaixaoefortaleza.blogspot.com.br/2012/03/mulher-dos-quatro-ls-...)
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