Grandes redes de varejo e bancos crescem nas comunidades pacificadas do Rio, de olho no mercado de R$ 13 bilhões
Luciane Carneiro
RIO — Wakayama Surf, Karisma, Because e Mercadinho Zé do Bode agora dividem as ruas da Rocinha com Casas Bahia, Ricardo Eletro, Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Caixa Econômica Federal, Pacheco e Bob’s. O aumento da população da classe C e a chegada das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) deram fôlego para a expansão de marcas nas comunidades do Rio.
A favela da Rocinha e o Complexo do Alemão são algumas das comunidades que agora têm acesso às mesmas redes de varejo e bancos já conhecidos no asfalto, que incluem ainda Casa&Video, Santander e TIM.
Foi em clima de euforia que os moradores receberam a Casas Bahia na Rocinha na última semana, quando foi inaugurada a loja com 1.427 metros quadrados. No dia seguinte à abertura, na quarta-feira, muitos já carregavam suas últimas compras, como aparelhos de som, televisões de mais de 40 polegadas e computadores, além de eletroportáteis e carnês de geladeiras e camas.
Se nas redes de varejo das comunidades os maiores sucessos de vendas são os aparelhos e caixas de som para as festas e as televisões gigantes, nos bancos o cartão de crédito e a poupança são os produtos financeiros mais populares de uma população que ainda usa muito o dinheiro em espécie e desenvolve aos poucos seus conhecimentos bancários.
As empresas vão em busca de um mercado gigante: as comunidades do Rio movimentam R$ 13 bilhões, segundo pesquisa do Instituto Datapopular em parceria com a Cufa e pedida pela rádio Beat98.
Aparelhos de som e TVs
Cristina Tostes e o irmão, Sergio Tostes, carregavam nos braços o aparelho de som comprado para a família, além de um computador. Um segundo computador deve ser comprado no Natal.
— Estava esperando abrir a loja aqui, já que sempre compro em Copacabana — disse Cristina, antes de deixar o irmão numa van com os produtos e ir para o trabalho.
Maria Helena Medeiros já tinha comprado um conjunto de panelas quando se encantou por um som com nada menos do que seis caixas. Na Ricardo Eletro, já tinha comprado há alguns meses um celular.
— Há uma demanda reprimida grande, já que 60% das compras de eletrodomésticos e eletrônicos é feita fora das comunidades. É um potencial enorme, de 1,7 milhão de pessoas, que equivale à 9ª maior cidade do país — diz o sócio-diretor do Instituto Datapopular, Renato Meirelles.
A rede de origem mineira foi precursora na Rocinha, onde chegou antes mesmo da pacificação, em outubro de 2011. Em pouco mais de um ano, a loja da Ricardo Eletro já está na lista das dez maiores lojas em vendas das 78 do Estado do Rio. No ano que vem, aporta no Complexo do Alemão.
— Os aparelhos de som vendem muito bem, assim como os celulares e as televisões de 42 e 55 polegadas. O que nos surpreendeu é que achamos que o valor médio das vendas seria menor, mas o ticket médio é igual ao da rede, de R$ 700 — afirma Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro e presidente do grupo Máquina de Vendas.
Com plano semelhante de chegar ao Alemão em 2013, a Casas Bahia espera superar a média de 1.500 entregas mensais na região.
— Produtos de informática e tecnologia, principalmente as TVs de tela fina, estão entre as apostas — diz o presidente do Conselho de Administração da Viavarejo, Michael Klein.
Já a drogaria Pacheco da Rocinha foi inaugurada em 2001 e está hoje entre as dez maiores das cerca de 260 lojas do Rio em número de transações. O valor médio das compras, no entanto, é de R$ 20 a R$ 25, menor que a média da rede entre R$ 30 e R$ 40, como revela o diretor de marketing da DPSP, André Elias Gonçalves.
Sua concorrente Drogasmil deixou a Rocinha em 2012, pouco mais de um ano depois de se instalar na comunidade. Procurada, a empresa disse apenas que a decisão foi um reposicionamento de sua rede.
— A loja do Complexo do Alemão tem venda média por metro quadrado significativamente maior que a da rede e lucratividade 10% acima do que de outras unidades — afirma André Santos, diretor-executivo de desenvolvimento organizacional da Casa&Video.
Perfil conservador no banco
Nos bancos, a despeito de todo o leque de produtos financeiros estar disponível, os clientes buscam principalmente cartão de crédito e crédito pessoal, além de cheque especial. Na hora de investir, a poupança é a rainha das escolhas.
— Os produtos mais procurados são a conta corrente simplificada, o microcrédito e o cartão de crédito com tarifa reduzida — revela o superintendente regional da Caixa, Tarcisio Luiz Dalvi.
O microcrédito produtivo é um dos principais negócios dessas agências, voltado para empreendedores, tanto formais quanto informais. No Banco do Brasil, o montante concedido desde a abertura das agências de Cidade de Deus e Complexo do Alemão — em janeiro de 2011 — e Rocinha — em dezembro — chega a R$ 7 milhões. No Itaú, o valor do financiamento nessa linha pode chegar a R$ 14.200.
— São ambulantes, revendedores de produtos de beleza e outros empreendedores que conseguem ter acesso a capital de giro e com isso obter uma rentabilidade maior — diz o superintendente do BB no Rio, Reinaldo Yokoyama.
Marcelo da Silva Barros é sócio da Primos Motopeças no Alemão, ao lado do irmão Alexandre e de um primo. A conta da empresa é do Santander, onde Marcelo mantém também sua conta pessoal e aplicações como CDB, poupança e capitalização, além de uma previdência privada.
— Antes tínhamos que nos deslocar para o banco e lojas maiores. O que é mais perto, é mais fácil — diz Barros.
Outra empresária de comunidade é Josilene Sousa Silva, que ao lado do marido tem três restaurantes na Rocinha. Cliente da agência do Bradesco comandada pelo gerente Paulo Cesar Alvarenga, tem desde linhas de antecipação do cartão de crédito até a previdência privada da filha, Ana Luiza.
Um dos aspectos interessantes é que a inadimplência nesses locais é igual ou menor do que a média dos bancos.
— A inadimplência é igual à da rede do Bradesco, que estava em 6,2% para pessoa física em setembro — afirma o diretor-executivo do banco, Josué Augusto Pancini.
Uma das necessidades encontradas pelos bancos nas comunidades é a de educação financeira. Muitos se voltam para reforçar questões como o uso responsável do limite do cartão e a importância de administrar o orçamento.
Tanto no consumo quanto nos hábitos bancários, no entanto, há casos que fogem ao perfil mais geral de quem mora nas comunidades. Na Ricardo Eletro, produtos como adegas climatizadas e máquinas de lavar e secar roupa são alguns dos produtos que são vendidos de vez em quando, além de tablets. Na Casa&Video, saem com frequência cortadores de grama e climatizadores de ar. Na agência da Caixa da Rocinha, há clientes com aplicação em fundos de investimentos em renda variável.
A favela da Rocinha e o Complexo do Alemão são algumas das comunidades que agora têm acesso às mesmas redes de varejo e bancos já conhecidos no asfalto, que incluem ainda Casa&Video, Santander e TIM.
Foi em clima de euforia que os moradores receberam a Casas Bahia na Rocinha na última semana, quando foi inaugurada a loja com 1.427 metros quadrados. No dia seguinte à abertura, na quarta-feira, muitos já carregavam suas últimas compras, como aparelhos de som, televisões de mais de 40 polegadas e computadores, além de eletroportáteis e carnês de geladeiras e camas.
Se nas redes de varejo das comunidades os maiores sucessos de vendas são os aparelhos e caixas de som para as festas e as televisões gigantes, nos bancos o cartão de crédito e a poupança são os produtos financeiros mais populares de uma população que ainda usa muito o dinheiro em espécie e desenvolve aos poucos seus conhecimentos bancários.
As empresas vão em busca de um mercado gigante: as comunidades do Rio movimentam R$ 13 bilhões, segundo pesquisa do Instituto Datapopular em parceria com a Cufa e pedida pela rádio Beat98.
Aparelhos de som e TVs
Cristina Tostes e o irmão, Sergio Tostes, carregavam nos braços o aparelho de som comprado para a família, além de um computador. Um segundo computador deve ser comprado no Natal.
— Estava esperando abrir a loja aqui, já que sempre compro em Copacabana — disse Cristina, antes de deixar o irmão numa van com os produtos e ir para o trabalho.
Maria Helena Medeiros já tinha comprado um conjunto de panelas quando se encantou por um som com nada menos do que seis caixas. Na Ricardo Eletro, já tinha comprado há alguns meses um celular.
— Há uma demanda reprimida grande, já que 60% das compras de eletrodomésticos e eletrônicos é feita fora das comunidades. É um potencial enorme, de 1,7 milhão de pessoas, que equivale à 9ª maior cidade do país — diz o sócio-diretor do Instituto Datapopular, Renato Meirelles.
A rede de origem mineira foi precursora na Rocinha, onde chegou antes mesmo da pacificação, em outubro de 2011. Em pouco mais de um ano, a loja da Ricardo Eletro já está na lista das dez maiores lojas em vendas das 78 do Estado do Rio. No ano que vem, aporta no Complexo do Alemão.
— Os aparelhos de som vendem muito bem, assim como os celulares e as televisões de 42 e 55 polegadas. O que nos surpreendeu é que achamos que o valor médio das vendas seria menor, mas o ticket médio é igual ao da rede, de R$ 700 — afirma Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro e presidente do grupo Máquina de Vendas.
Com plano semelhante de chegar ao Alemão em 2013, a Casas Bahia espera superar a média de 1.500 entregas mensais na região.
— Produtos de informática e tecnologia, principalmente as TVs de tela fina, estão entre as apostas — diz o presidente do Conselho de Administração da Viavarejo, Michael Klein.
Já a drogaria Pacheco da Rocinha foi inaugurada em 2001 e está hoje entre as dez maiores das cerca de 260 lojas do Rio em número de transações. O valor médio das compras, no entanto, é de R$ 20 a R$ 25, menor que a média da rede entre R$ 30 e R$ 40, como revela o diretor de marketing da DPSP, André Elias Gonçalves.
Sua concorrente Drogasmil deixou a Rocinha em 2012, pouco mais de um ano depois de se instalar na comunidade. Procurada, a empresa disse apenas que a decisão foi um reposicionamento de sua rede.
— A loja do Complexo do Alemão tem venda média por metro quadrado significativamente maior que a da rede e lucratividade 10% acima do que de outras unidades — afirma André Santos, diretor-executivo de desenvolvimento organizacional da Casa&Video.
Perfil conservador no banco
Nos bancos, a despeito de todo o leque de produtos financeiros estar disponível, os clientes buscam principalmente cartão de crédito e crédito pessoal, além de cheque especial. Na hora de investir, a poupança é a rainha das escolhas.
— Os produtos mais procurados são a conta corrente simplificada, o microcrédito e o cartão de crédito com tarifa reduzida — revela o superintendente regional da Caixa, Tarcisio Luiz Dalvi.
O microcrédito produtivo é um dos principais negócios dessas agências, voltado para empreendedores, tanto formais quanto informais. No Banco do Brasil, o montante concedido desde a abertura das agências de Cidade de Deus e Complexo do Alemão — em janeiro de 2011 — e Rocinha — em dezembro — chega a R$ 7 milhões. No Itaú, o valor do financiamento nessa linha pode chegar a R$ 14.200.
— São ambulantes, revendedores de produtos de beleza e outros empreendedores que conseguem ter acesso a capital de giro e com isso obter uma rentabilidade maior — diz o superintendente do BB no Rio, Reinaldo Yokoyama.
Marcelo da Silva Barros é sócio da Primos Motopeças no Alemão, ao lado do irmão Alexandre e de um primo. A conta da empresa é do Santander, onde Marcelo mantém também sua conta pessoal e aplicações como CDB, poupança e capitalização, além de uma previdência privada.
— Antes tínhamos que nos deslocar para o banco e lojas maiores. O que é mais perto, é mais fácil — diz Barros.
Outra empresária de comunidade é Josilene Sousa Silva, que ao lado do marido tem três restaurantes na Rocinha. Cliente da agência do Bradesco comandada pelo gerente Paulo Cesar Alvarenga, tem desde linhas de antecipação do cartão de crédito até a previdência privada da filha, Ana Luiza.
Um dos aspectos interessantes é que a inadimplência nesses locais é igual ou menor do que a média dos bancos.
— A inadimplência é igual à da rede do Bradesco, que estava em 6,2% para pessoa física em setembro — afirma o diretor-executivo do banco, Josué Augusto Pancini.
Uma das necessidades encontradas pelos bancos nas comunidades é a de educação financeira. Muitos se voltam para reforçar questões como o uso responsável do limite do cartão e a importância de administrar o orçamento.
Tanto no consumo quanto nos hábitos bancários, no entanto, há casos que fogem ao perfil mais geral de quem mora nas comunidades. Na Ricardo Eletro, produtos como adegas climatizadas e máquinas de lavar e secar roupa são alguns dos produtos que são vendidos de vez em quando, além de tablets. Na Casa&Video, saem com frequência cortadores de grama e climatizadores de ar. Na agência da Caixa da Rocinha, há clientes com aplicação em fundos de investimentos em renda variável.
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